Pare de se sentir injustiçado, como se fora um gênio perdido e desprezado, na agonia do anonimato. Isso é pensamento de gente medíocre e presunçosa, dada a delírios megalomaníacos. Se não quiser ser mais um deles, que abarrotam as comunidades humanas de qualquer tempo e lugar, mude imediatamente seu padrão de pensamento e saia do ócio vaidoso, para a luta pragmática por realizar seus projetos de vida. Se não conseguir, é prova, tão-somente, de que nunca foi o que supunha, e deve se acondicionar ao que realmente é. Uma grande maioria das pessoas que assim se sentem, inclusive, nega-se esse esforço por manifestar seus potenciais, pelo receio inconsciente de não os possuir, e ser relegado à testificação irretorquível da própria mediocridade. Mas se, por um acaso, realmente provar ser o que pensa ser, é porque deveria realmente partir para a batalha da expansão de seus dotes, ou estaria cometendo injustificável crime de negligência, negando à sociedade o que poderia a ela ofertar, como contributo ao progresso geral.
A psicologia infantil dos narcisistas se compraz na ideia de ser uma alma brilhante não reconhecida. Essa é uma atitude tola, hipócrita, preguiçosa a covarde. Não pretenda ser o que não é. Quem é dá nota disso. Prove, para si mesmo ser, parecendo ser, demonstrando de modo inequívoco que tem razão de se sentir dessa ou daquela forma. Se não, silencie suas fantasias de grandeza e trate de viver a grandeza das pequenas coisas, realmente essenciais, e que, ironicamente, só costumam ser plenamente percebidas e experimentadas pelos genuínos grandes homens e grandes mulheres.
A estultícia da pretensão de ser melhor oculta um tremendo complexo de inferioridade que assim é racionalizado. O objetivo da evolução não é tornar ninguém melhor em cotejo a outrem ou a uma comunidade (uma veleidade mesquinha e pueril de caracteres pouco desenvolvidos), e sim em fazer os indivíduos se expandirem ao infinito, rumo a níveis progressivos de complexificação e de profundidade em seus mecanismos mentais. Quando alguém tem a necessidade de ser ou de parecer melhor que os outros, é sinal evidente de que, inconscientemente, tem enorme insegurança quanto ao valor pessoal, e, por isso, tenta se compensar, psicologicamente, da tremenda angústia da sensação de desvalia pessoal, por meio de fantasias de pretensa superioridade sobre os outros. Não se permita ser um desses doentes loucos – sim, é isso que são o orgulho e a vaidade: uma loucura desprezível dos que não querem assumir, diante de si mesmo, o quão pouco são e o quanto de trabalho teriam que despender para se tornar o que almejam. A preguiça e a covardia, que lhes subjaz aos pensamentos, tolda-lhes a percepção clara das coisas, confundindo-os, expondo-os ao ridículo em muitos casos e, em última análise, conduzindo sempre a situações patéticas (e dolorosas), evitáveis.
Mas se, depois de se auscultar com cuidado e constatar que não se trata de uma distorção perceptiva mas que, de fato, nota uma evidente superioridade funcional de suas capacidades em relação ao seu meio, não se envaideça – seria sinal imaturidade psicológica também. Reconhecer-se à frente, no trajeto evolutivo, indica serviço e responsabilidade e não motivo de inflação do ego.
Portanto, seja qual for sua situação, a humildade, como imparcialidade na hora de fazer suas avaliações, deve presidir todo seu processo mental, para que não se desvie da reta senda do bom senso, fazendo-o resvalar para os despenhadeiros lamentáveis do desperdício de oportunidades, para as intérminas brincadeirinhas de boneca dos pruridos de superioridade, das lamentações improfíquas quanto a azar, maus companheiros, maus patrões ou más experiências – todas desculpas para a inépcia que o indivíduo não quer enxergar em si e que, por isso, projeta em circunstâncias que, antes de serem impedimentos definitivos, constituem desafios estimulantes à autossuperação e à transcendência de todos os problemas e limitações que bloqueavam a marcha rumo ao progresso.
A vaidade excessiva (não aquela que leva ao apuro pessoal e ao cuidado com deveres e responsabilidades) e o orgulho doentio (não aquele que concerne a autoestima e valorização apropriada das próprias virtudes) são chagas tremendas na alma e que, em última análise, denotam uma inteligência não muito avançada, ou não o suficiente para se consolidar em sabedoria e maturidade psicológica.
Não queira parecer estúpido. A vaidade leva ao ridículo; e o orgulho, à loucura. E ambas, inequivocamente, conduzem o incauto que lhes dá guarida íntima a tremendo desperdício de vida, felicidade e realização, em deploráveis caminhos de ingratidão, agressões gratuitas e lágrimas dos corações generosos que passam ao seu lado e que são retalhados de dor e expulsos para bem longe, a fim de que o vaidoso-orgulhoso possa se consumir, indefinidamente, nas furnas infernais que constitui para si mesmo.
Não espere o remorso chegar. Não espere ver que não só fez mal a si, como a gente boa e sincera, a corações simples que se aproximaram de você e que foram gratuitamente maltratados. Não espere não ter mais tempo para reparar seus equívocos. Desperte agora. Ame. Quem ama, não se envaidece, porque não tem espaço mental para as disputas mesquinhas e completamente desprovidas de sentido do ego. Quem ama não pode ser orgulhoso, já que não quer sobrepôr-se ao outro e sim servi-lo e fazê-lo feliz. A mãe dadivosa, com o filho ao peito, preocupada em alimentar, acolher e protege o ser frágil e diminuto que lhe é tão precioso, no momento sagrado da amamentação, não se exalta em delírios de vaidade, com sua superioridade fisiológica sobre a cria – isso afigurar-se-ia, a qualquer um que imagine a cena, das mais rematadas formas de loucura. Pois saiba, prezado amigo, que em outras circunstâncias, a vaidade e o orgulho não são menos insanos. Por isso que, quem realmente é superior não se envaidece, nem se exalta de qualquer forma: cônscio de sua força, não teme, não disputa, não briga por espaço: torna-se amoroso, sereno e devotado, como a mãe zelosa e responsável.
Matheus-Anacleto (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
23 de novembro de 2000