Benjamin Teixeira
pelo espírito Anacleto.
Os animais são dotados de inteligência rudimentar, bem como de manifestações grosseiras de emoções.
As máquinas são programadas para cálculos complexos, realizados com precisão, em fração de segundos.
As plantas têm sensações, a ponto de algumas até crescerem (rumo à luz solar) ou mesmo se movimentarem (as dotadas de músculos – carnívoras), em direção a seu objeto de desejo.
Somente o ser humano, porém, é portador de sentido ético-moral, da capacidade de discernir entre o bem e o mal, não meramente por um cálculo de interesses imediatos, pessoais e materiais, mas em função de valores morais, espirituais, transcendentes, como amor, confiança, compromisso, responsabilidade, devoção, fé.
Cuidado com os excessos da inteligência. Mal conduzida, pode ser fomentadora de desgraças, tanto quanto bem utilizada, pode gerar um paraíso na Terra, para todos quantos dela lhe usufruam corretamente os benefícios.
Não se renda a tentações.
Os desejos e as viciações têm vida própria, como núcleos psíquicos autônomos, entidades espectrais no imo da própria alma, que possuem vontade, mecanismos auto-mantenedores, alimentadores, para isso sugando energia vital do indivíduo, que poderia ser utilizada de modo mais construtivo e útil.
Não será de inopino que conseguirá extingui-los, sobretudo quando estejam bem entranhados nas estruturas de sua mente. Mas pode lentamente combatê-los, a fim de que sobreponha valores éticos aos impulsos bestiais que traz de seu longo passado na animalidade primitiva.
Não se sinta reprimir. Saiba e diga a si mesmo – aos seus sub-eus menos desenvolvidos, suas faixas mais imaturas de ser – que dará doses controladas de satisfação a seus ímpetos primais, mas dentro de sistema controlado de abastecimento de recursos, e não conforme a lei da selva, para que a sua totalidade, com suas finalidades e funções maiores, não venha a ser desrespeitada, engendrando o conhecido mal-estar do remorso, e podendo favorecer verdadeiras tragédias existenciais.
Assim, quando sentir o impulso de falar indevidamente de alguém, respire fundo e, mudando o tom de voz e alterando seu padrão emocional, tome um foco melhor da situação, reforçando os aspectos positivos da pessoa objeto de comentários ou simplesmente silencie. Apenas como alerta grave a ente querido ou como estudo escrupuloso do ser humano e suas faltas, com o intuito exclusivo de aprendizado, pode-se falar de alguém, mas tanto quanto possível eliminando todos os itens que o identifiquem, assim preservando-lhe, como a ética pede, sua privacidade.
Em outras ocasiões, quando se vir tentado a levar vantagem em determinada circunstância, ainda que ninguém saiba ou possa vir a saber (amiúde impressão enganadora), seja você aquele que pensa no bem comum, antes de no interesse meramente pessoal, assim a todos beneficiando, a começar de si mesmo.
Quando se vir atormentado pelos azorragues diabólicos do rancor, remoendo ofensas e nutrindo fantasias de vingança, experimente orar pelo desafeto e por si mesmo, pedindo pela paz de todos, a fim de que possa seguir sua vida e viabilizar sua felicidade, sem trazer consigo um caldeirão infernal de angústias.
Toda vez que se sentir inclinado a descanso excessivo, pense naqueles que precisam de você, e dê um telefonema amigo, escreva bilhete amistoso, ofereça algumas horas de seu lazer para serviço voluntário em socorro aos mais sofredores e, por fim, estude, para que sua mente se ilumine para esclarecimento geral de todos que convivam com você e que, direta ou indiretamente, sejam influenciados por sua pessoa.
Fique alerta para a força do mal, que se aloja em seu coração, por matrizes de deficiências psicológicas e morais que porta, como ser humano que é, e através das quais legiões organizadas do mal, externas a você, entram em contato com seu coração, tentando hipnotizá-lo em sentidos indevidos, contrários à sua paz e felicidade, bem como de todos que lhe privam contato. Toda vez que tentar se levantar do lodo primal comum, forças atávicas tentarão barrar-lhe a vitória sobre si. Mas, se perseverar (e enquanto mantiver o esforço da perseverança), no caminho do bem, a semente de deus que habita seu núcleo mais profundo de ser será ativada e potencializada por Potestades Angélicas, que, então, impedirão sua queda definitiva no mal, fazendo alçar vôo espetacular rumo à glorificação espiritual plena, apesar de todas as suas limitações humanas.
Há sempre espaço para a auto-melhoria.
O ser humano é programado, na sua mais profunda essência, para a transcendência. Superar-se e criar-se é um dos maiores prazeres ao alcance do ser humano, se não o maior.
Obviamente que o ego e todos os vetores animais da natureza enlouquecem, a ponto do colapso do sistema psíquico, sempre que se percebem ameaçados em suas certezas e em suas expressões rasteiras de ser.
Mas toda vez que a criatura prefere render-se a Algo Maior, pondo-se a seu serviço, e que procura, desse modo, construir-se para esse novo padrão de consciência, encontra paroxismos indescritíveis de prazer e paz, vivendo em si o famoso êxtase de místicos e santos, gênios e grandes criadores, no processo de fazer, refazer, fazer-se e criar-se, a autopoiese, em suma.
Fazem-se, assim, expoentes de uma Nova Era para a humanidade, começando por abençoar a si mesmos com um paraíso que só num futuro longínquo poderá ser usufruído pela massa ainda inconsciente do planeta terreno.
(Texto recebido em 21 de setembro de 2002.)