Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Aquele rapaz fez uma carantonha, e você logo pensou: Está com asco de mim”. Pode ter refletido, em verdade, admirando-o: “Meu Deus, como ele agüenta!”
Aquela moça sussurrou ao ouvido d’outra, com um sorriso malicioso, mantendo os olhos em você. E você imaginou que estariam atacando-lhe o nome. Poderia, entrementes, estar confidenciando admiração oculta que vota por sua pessoa.
Aquel’outro conhecido distante viu-o e virou o rosto ao reconhecê-lo, e você deduziu que o desprezasse, a ponto de não querer dirigir um cumprimento a você. Bem provável esteja acanhado, por supô-lo importante demais para falar com ele, assim virando o rosto, para não ser logo em seguida desprezado por você, como imaginava que faria com ele.
Mais adiante você vê alguém que se irrita falando com você, e então conclui, apressado: “Este me odeia, de tal modo se incomoda com minha presença”. Não percebe, todavia, que não raro a raiva pode demonstrar vulnerabilidade por se amar demais alguém ou se achar que o outro é importante demais temendo ou ser englobado, ou dominado ou totalmente seduzido por seu fascínio.
Outro dia vê alguém com expressão melancólica ou profundamente triste, fitando-o demoradamente e sem expressão, e cogita consigo: “Nossa… essa pessoa mal me tolera. Quanto esforço faz para conviver comigo!”. E, por dentro, pode ela estar no padrão de dizer-se: “Somente com essa pessoa consigo ainda estar, e dela espero a salvação, porque estou totalmente desesperada.”
Cuidado, amigo, com as leituras que faz das pessoas. Sua interpretação pode estar equivocada – e volta-e-meia estará, por melhor conhecedor que seja da alma humana, pela enorme complexidade de variáveis envolvidas e pela pobreza gritante dos meios de observação, análise e estudo que se tem da psique humana. A ambigüidade dos sentimentos e mais ainda a subjetividade das expressões dos sentimentos são tão grandes na esfera humana de existência, que é melhor sempre, ainda que considerando todas as outras hipóteses mais prováveis, tomar o rumo da melhor alternativa de interpretação, porque, mais freqüentemente do que se imagina, faz-se mau juízo de quem segue ao lado, à frente ou atrás de si. E, se há que se errar, melhor se pecar por ser generoso e cristão na leitura do outro, do que mesquinho e injusto, quando não ingrato e perverso na interpretação da conduta alheia.
Tomando esta linha de avaliação como sua política de vida, surpreender-se-á com os resultados, freqüentemente se descobrindo “acertando sem querer” e dando graças a Deus com isso, quando teria magoado amigos verdadeiros e maltratado quem lhe queria bem.
(Texto recebido em 6 de janeiro de 2005.)