Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Acrisole o seu caráter, um pouco todos os dias. Comece pelas questões simples: a emoção exagerada a ser contida, a tristeza amenizada, a euforia refreada. Depois, pense em questões mais pertinentes, como, por exemplo, a profundidade do seu amor, a qualidade de seus sentimentos, a natureza de seus propósitos, a dimensão e a prioridade moral de suas diretrizes existenciais.
Não relute em fazer o seu melhor. Você pode vencer, se realmente o quiser. Mas conte com pequenos progressos todos os dias. Não é fácil enriquecer-se espiritualmente. O próprio amadurecimento psicológico se dá a conta-gotas. Espere pouco de si, mas seja constante.
Por fim, dedique-se a pequenas iniciativas de amor: um gesto fraterno de amizade, um aperto de mão, um olhar amigo e demorado, a paciência com quem se atrapalha com as palavras, tropeçando na gramática ou mesmo na lembrança de fatos perdidos; a tolerância com o companheiro de destino que não dá o seu melhor ou não pode dar mais, não correspondendo às nossas expectativas, em uma dada circunstância específica.
Você tem um lado bom em si, que deve ser trabalhado, quanto uma face obscura, a ser retraída, pelo denodo contínuo em realizar sempre mais e melhor. A elaboração psicológica, desde a sombra ao lado luminoso da personalidade, é um empreendimento para toda a vida, que merece cuidados especiais, mas sem as paranóias patéticas de quem quer tudo fazer a um só tempo. O espírito de gradação da natureza precisa ser respeitado, caso almejemos algum sucesso nessa empreitada complexa e delicada.
Suspenda, então, agora, a lamentação por não ser tudo que gostaria, por não realizar tudo quanto idealiza. Existem limites em sua estrutura evolutiva, assim como na dos outros, inclusive para a própria evolução. Explicando melhor: dentro de um dado espaço de tempo, não é possível fazer-se tudo que se imagina, embora se possa melhorar o aproveitamento do período e crescer mais rapidamente. Mas essa aceleração do progresso espiritual tem também limites, de acordo com o arcabouço psíquico de conquistas efetuadas pelo indivíduo no correr de suas pregressas reencarnações.
Sendo assim, prezado amigo, seja coerente com tal realidade e não relute mais em aceitar a sua e a estreiteza mental, emocional e moral das pessoas. Ser realista com o ser humano é nunca se esquecer de sua falibilidade, bem como de sua ambigüidade e mesmo malevolência em alguns aspectos – ou seja: o lado indesejável, torpe e sombrio que sempre pervaga as melhores virtudes, tanto quanto o valor do bem se faz presente, ainda que em doses diminutas, também no mais trevoso dos caracteres.
Você vai ser feliz se escolher ser sê-lo; e ninguém é feliz tentando ser o que não se é, ou exigindo que os outros sejam o que não são. Ser feliz começa por se aceitar como se é, muito embora incorporando um pouco de esforço continuado – mas moderado às idiossincrasias, às especificidades indissociáveis de si próprio, respeitando-se o mesmo nos outros.
(Texto recebido em 30 de julho de 2000. Revisão atual de Delano Mothé.)