Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Antecedentes Históricos:
1) Hedonistas x Estóicos, na Grécia Antiga.
Na Grécia dos Grandes Filósofos, uma polêmica surgiu, nos estudos profundos da sabedoria. Hedonistas pregavam o total mergulho nos delírios das paixões carnais, ao passo que estóicos propunham a abstinência, a disciplina, a contenção de desejos. Os primeiros, apologistas do prazer, propunham o esquecimento total da natureza espiritual humana; ao passo que os segundos, cultores do espírito, pelejavam por olvidar a condição física da espécie humana. Tanto uma quanto outra doutrinas, eivadas do vício do extremismo, pecavam, portanto, por não abarcarem a totalidade do fenômeno humano.
2) Zoroastrismo – Maniqueísmo.
Zoroastro, que viveu no século VI antes de Cristo, contemporâneo de Pitágoras, Buda e Lao-Tsé (cada um, a seu turno, pilar civilizacional de seus povos respectivos), estabeleceu uma religião influente na Antiguidade (credo atualmente extinto), em que o mal era visto como invisível e espiritual, e o bem como o físico-tangível, criando uma dicotomia conflitiva, com pólos a lutarem, eternamente, um contra outro. Curiosamente, o maniqueísmo, religião que se converteu em mera postulação filosófica, e, por fim, em curiosidade conceitual com o correr dos séculos (hoje sem seguidores, outrossim, como o Zoroastrismo), assim como o judaísmo e o cristianismo igualmente figuraram o bem e o mal diametralmente opostos, num antagonismo perpétuo, só que, invertidamente (em relação ao Zoroastrismo), considerando a matéria impura e o espírito como possuidor de toda pureza, grandeza e essência espiritual. Diferentemente dos gregos, que queriam ignorar uma das faces da realidade, agora considerava-se a existência dos dois lados, mas queria-se viver apenas um, em detrimento de outro aspecto da realidade (físico-espiritual).
3) Judaísmo e Cristianismo.
Como acima dito, o Cristianismo e sua religião-berço: o Judaísmo, são excessivamente maniqueístas em suas postulações originais, e preconizam a mutilação da psique, num conflito inconciliável de opostos, com repressão radical dos desejos e todas as expressões fisiológicas e naturais dos organismos materiais, como pretensamente pertencentes a forças do mal, orquestradas com o fito de perderem as criaturas humanas, para um inferno perene de padecimentos atrozes. Portanto, com a contraposição paraíso-inferno, surgia a transposição da dicotomia bem-mal do plano físico para o espiritual de vida, para ainda mais aturdir e oprimir as consciências, no jogo de manipulação e poder levado a efeito por clérigos e autoridades eclesiásticas de antanho.
4) Humanismo materialista greco-romano.
No civilizado humanismo grego, que se traduzia, em sua derivação na Roma dos Césares, em intrincada burocracia urbana e militar, surge uma curiosa fusão cultural entre matéria e espírito, com uma predominância do material sobre o espiritual. Assim, o espiritual estaria embutido no material (não havendo mais contraposição de pólos opostos, como nas doutrinas anteriormente citadas), em suas expressões de beleza, organização e prosperidade. Desta forma, as Artes na Grécia, e o Direito e o que poderíamos chamar de os primórdios da Administração na Roma Antiga deram uma feição espiritualizada à matéria, mas num caráter notadamente laico, desvestidos de maiores cogitações de ordem filosófica ou escatológicas-espirituais.
5) Hinduísmo e Tantrismo.
As arquimilenares tradições espirituais da Índia sempre aceitaram a miscigenação entre o material e o espiritual, mas, contrariamente ao que acontecia na latinidade greco-romana, davam um foco acentuado ao espiritual, em detrimento do material, mas vendo-os, como gregos e romanos, de modo fundamentalmente indissociáveis. Dessarte, surgiu a idéia de “Avatares” – encarnações divinas (conceito incorporado ao catolicismo atual, que vê em Jesus uma encarnação divina). Com o tantrismo, corrente hinduísta surgida no século XII, essa tendência de fazer o material gravitar em função do espiritual chega ao seu pináculo, com os cultos sexuais de natureza religiosa altamente ritualizados.
6) A iniciação dos grandes mestres: liberação que leva à conscientização.
A maior parte dos processos iniciáticos levados a efeito por escolas esotéricas e ordens espirituais de toda a história, em todas as culturas, primava pela “provação” dos postulantes, que, assim, eram submetidos a situações-limite, em que tinham que “provar” sua firmeza de propósitos e seu preparo íntimo para participar dos grupos a que se candidatavam. Grandes e raros mestres do passado, entrementes, usaram caminho inverso, semelhante ao que a Divina Providência costuma utilizar com suas criaturas, em todo tempo e lugar: a oferta larga de oportunidades de experimentação do físico, até que haja esgotamento da fixação no material e se sinta necessidade gritante de avançar para o domínio do espiritual. Neste caso, não há negação de nem uma nem de outra realidade, mas engloba-se as duas num mesmo processo de ascese, favorecendo à criatura a acumulação de vivência e aprendizado, sem repressões, castrações ou neurotizações da relação mente/corpo. Obviamente que a liberação indiscriminada é tática perigosa que pode oportunizar o desmantelamento de psiques frágeis, na consumição de vícios variados. Por isso, somente grandes mestres ousaram, no passado – e ainda no presente – fazer uso desta metodologia arriscada, embora profundamente sábia (*1).
7) Gautama Buda, Confúcio e Aristóteles: o “caminho do meio”.
Muito sugestivo que um grande mestre espiritual, um filósofo-pedagogo e um pré-cientista tivessem chegado à mesma conclusão, por vias bem diferentes. O equilíbrio, a moderação, a temperança, a prudência, o ajuste de forças, a aceitação dos contrários, a diplomacia, a compreensão da ambigüidade – tudo caracteriza um bom convívio entre uma mente lúcida e a realidade complexa com que lhe é dado interagir, no mundo externo. Posturas radicais, unilaterais, monoculares indicam pobreza, superficialidade e desconexão com a totalidade de realidades vividas e/ou observadas, dificultando o seu entendimento e a interação que com elas se possa estabelecer.
8) Cristianismo: a “cruz” do conflito espírito-matéria, que conduz à “ressurreição” de vida eterna.
Para alguns, pode soar estranho que Jesus propugnasse pela “suspensão na cruz”, porque se viu no simbolismo rico da antiga forma de execução romana de criminosos à pena capital, uma mera exortação ao martírio. Em se prestando atenção, verificaremos, entrementes, que o Mestre que disse, parafraseando o profeta Oséias, “Misericórdia quero, e não sacrifício”, sugeria, metaforicamente, alguns pontos capitais de reflexão:
a. Jesus estava suspenso entre o chão e o céu, sem tocar em um nem n’outro, o que bem retrata a condição humana, de se estar entre as duas realidades – a físico e a material – sem se estar inteiramente imerso em uma ou n’outra, como é o caso, respectivamente, de animais e anjos.
b. Jesus estava rodeado de “dois ladrões”, um “bom” e outro “mau” – uma clara alusão às formas como se pode facear essa situação madrasta do conflito entre o físico e o espiritual, dando bom ou mau andamento à energia do conflito.
c. A cruz lembra uma seta mística apontando para o Alto (*2), a dizer sem palavras que o significado da cruz não está intrinsecamente relacionado à dor do momento, e sim à sua finalidade: a função de conduzir a consciência a níveis mais “elevados”(leia-se: evoluídos, complexificados) de expressão.
9) Espiritismo:
a. “Cuidar do Corpo e do Espírito”, pérola de “O Evangelho segundo o Espiritismo” (*3) – vanguardismo que ultrapassa a dicotomia cartesiana espírito-matéria de que acusam o Espiritismo.
O espírito “George”, escrevendo, por pena mediúnica, em plena vigência cultural do positivismo comtiano (*4), esta página lapidar de sabedoria e transcendência, forneceu um indicativo, aos tempos futuros, da elevada procedência dos instrutores desencarnados do mestre lionês (*5), e de como não estavam eles sujeitos, de modo absoluto, às limitações conceituais da época em que enviavam seus informes para a humanidade, embora as mentes intérpretes dos médiuns, aqui ou ali – como em toda tarefa dessa natureza – falseassem a qualidade das idéias que lhe eram transmitidos, falseamento este de ordem inconsciente, por tradução imperfeita que faziam do conteúdo que lhes era manado do Além, para seus psiquismos tacanhos em cotejo à dos grandes gênios da Espiritualidade Maior que “recebiam”.
b. Conotação da palavra: “alma”, na terminologia espírita.
Antecipando a discussão calorosa que se daria no século seguinte, a respeito de não se poder separar, fundamentalmente, cérebro de mente, matéria de espírito, corpo de alma, o grande enviado do Espírito Verdade (*6) criou uma acepção nova para a palavra alma, para bem caracterizar as funções simbióticas de corpo e espírito, enquanto jungidos um ao outro, no processo reencarnatório. Revelou Kardec, dessa forma, uma compreensão invulgar, profunda e visionária do que, até hoje, confunde sábios e sumidades da ciência em toda parte.
Generalidade:
O ser humano é uma estrutura multidimensional (por alguns chamado de “holossoma”). Funciona como um sistema, e, numa sinergia de corpos, em diversas dimensões, não pode ser tratado em separado, cada nível repercutindo seu bem-estar ou mal-estar nos outros.
Como uma loja de departamentos, que, ao ter uma sessão em chamas, precisa ter nela o fogo debelado ou todas crepitam, em pouco tempo, nas labaredas do incêndio, igualmente o sistema humano, indissociável em sua natureza multíplice, não prescinde de uma abordagem gestáltica, completa, profunda, ou o todo será prejudicado, pela negligência de parte ou partes constituintes de sua unidade-maior. O termo grego “hólon”, expressando unidade composta de unidades menores, que por sua vez compõe unidades maiores, numa escala infinita para o macro como para o micro cosmo, bem expressa a rica teia de implicações, inter-relações e significados do ser humano, desde o cuidado com a saúde e o mundo microbiano, até a consciência ecológica, já que depende e faz parte de grandes teias ecossistemáticas.
O que constitui o bem-estar físico:
1) Alimentação regrada.
Não pode haver saúde nem bem-estar orgânicos, sem o controle judicioso do que é ingerido pelo corpo. Não expenderemos nenhum conceito adicional sobre o assunto, que é demasiadamente ventilado no plano físico, na mídia de todas as ordens, mas gostaríamos de ressaltar a importância da moderação, mais uma vez, para que o bom senso, mais que qualquer outro princípio, faça-se presente também à mesa, como em tudo na vida.
2) Sono adequado (tanto é prejudicial a deficiência, como o excesso de sono).
Estudiosos revelam que o corpo humano necessita de algo entre oito e oito horas e meia de sono por dia. Contudo, há, de fato, sistemas corpo-mente mais eficientes, que dispensam as oito horas, e funcionam, em regímen de excelência, com menos. Não deve ser rompido o limite mínimo de seis horas por dia, entretanto. A fisiologia do corpo humano sempre é comprometida quando esse piso basilar de repouso (para reparação dos implementos orgânicos e reorganização da fisiologia cerebral) não é respeitado, tanto quanto quando se vai além do teto de oito horas e meia, sobremaneira para pessoas que não estão sujeitas a muita carga de atividade física e/ou mental.
3) Atividade física.
O organismo foi feito para trabalhar. Assim, quando envolvido na máquina da civilização, sói acontecer de o indivíduo envolver-se excessivamente com as atividades abstratas do intelecto, relegando ao ócio quase todo o equipamento fisiológico, que, não exigido, passa a operar nos perigosos patamares de manutenção, cujo ritmo ocioso compromete severamente a saúde. Esforço físico, ainda que em pequenas medidas diárias (*7), pode e deve ser levado a efeito, como medida profilática para graves problemáticas orgânicas que espocarão, cedo ou tarde, nas “engrenagens enferrujadas” do sistema orgânico do corpo. Seja criativo e encontre um meio inteligente e prático de aliar suas atividades cotidianas, do trabalho, do estudo, da vida em família ou do lazer com a atividade física: a conversa do dia com o cônjuge ou com o filho adolescente pode ser feita em caminhada na praça pública; assim como o telejornal pode ser assistido numa puxada marcha sobre esteira elétrica, adrede posicionada em frete ao televisor.
4) Supervisão médica e odontológica periódica.
Dispensável se comente algo mais. Basta dizer que negligenciar-se nessa área constitui suicídio indireto, já que o recurso tecno-científico médico-odontológico é oportunizado à criatura para lhe prolongar a existência e lhe melhorar a qualidade de vida no domínio físico de vida. Ignorar tal recurso é desprezar dádiva divina, e, assim, assumir débito ante as Forças da Vida, que ensejaram maximização do aproveitamento da preciosa oportunidade da reencarnação, que, entanto, terá sido, embotada.
5) Vida sexual equilibrada.
Além das truísticas questões de amor, compromisso e responsabilidade relacionadas ao conúbio íntimo de natureza afetivo-erótica entre parceiros, os ritmos sexuais, assim como as preferências eróticas, variam de indivíduo a indivíduo, mas não se pode esquecer o capítulo essencial do bom senso, assim fazendo do sexo, como da comida, ferramentas em função da vida e não o contrário. Quando os excessos sexuais comprometem a qualidade de vida de um indivíduo e tragam-lhe a energia e alegria de viver, em prol de prazeres viciosos, tomou-se, então, a contra-mão da degenerescência.
6) Ausência de vícios, incluindo tabagismo e alcoolismo.
Quem tem vícios é suicida. Excetuando-se condições ideais do uso módico do álcool, nos limites apresentados pela comunidade científica (*8), qualquer uso de droga, como sobrecarga metabólica dispensável, constitui fuga perigosa, sucedâneo vicioso de experiências místicas genuínas, estas sim, de fato, necessárias ao bem estar profundo e ao crescimento dos indivíduos, necessidade esta que é mal-compreendida e muito mal-canalizada para o uso e abuso de drogas.
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Notas do Médium:
(*1) Modestamente, a adorável mentora espiritual Eugênia omite que ela mesma faz uso freqüente deste “método de didática espiritual”, digamos assim, embora não seja o único de que ela lance mão para condução de seus discípulos, encarnados e desencarnados. No início dos meus contatos mediúnicos com ela, aturdia-me deveras tal expediente da sábia preceptora do Além, sobremaneira porque ela nunca negava nem proibia direta e frontalmente nada, deixando sempre que eu próprio tirasse minhas conclusões a respeito de experiências que tivesse, quase nunca antecipando informações ou previamente apresentando ilações, pois que teriam caráter meramente teórico. Passei muito tempo para me acostumar com esse nível profundo da fala de Eugênia, até ver que o problema estava mais na forma como eu formulava as indagações que lhe dirigia, do que no modo como ela mas respondia.
(*2) Eugênia faz referência à cruz de Jesus da mesma forma que Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier e grande autor desencarnado da literatura espírita, que faz idêntica reportação simbológica.
(*3) Item 11, capítulo XVII de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec.
(*4) Augusto Comte, criador do Positivismo, doutrina científica que, grosso modo, rezava que somente o que fosse objetiva e precisamente comprovado em análises físicas, matemáticas ou laboratoriais poderia ser considerado real.
(*5) Eugênia alude a Kardec, que era natural da cidade francesa de Lion.
(*6) Guia espiritual de Kardec, que assim se apresentava nas subscrições de suas psicografias.
(*7) As últimas estipulações programáticas dos especialistas, neste sentido, a que tive acesso pela imprensa e periódicos especializados, circunda entre os vinte a trinta minutos diários de atividade física branda, como uma caminhada em marcha forçada.
(*8) Duas taças de vinho ou um copo de cerveja por dia. Quem precisa tomar apenas uma garrafa de cerveja por dia (apenas uma), está incurso, por definição da OMS (Organização Mundial de Saúde), na condição de alcoólatra.
(*) Este estudo sinóptico constitui o décimo primeiro módulo de um curso de 18, que está sendo levado a efeito, todas as quintas-feiras, às 20 h, na sede do Projeto Salto Quântico. Na verdade, é a base para os debates e reflexões que lá fazemos, semanalmente. O tema geral do curso é: “Felicidade e Espiritualidade, na Era das Modernidades”. Hoje, estaremos seguindo este programa, abordando o sub-tema “Bem-Estar Físico”. A confecção destas apostilhas está sendo composta em parceria de mim com a orientadora espiritual Eugênia. Os tópicos escrevi-os eu mesmo. Os comentários, em itálico, ela redigiu, ofertando-nos sua lavra didática, profunda e sábia de sempre. Se você é residente em Aracaju, ainda pode participar do curso. Os módulos são independentes, de modo que, ao entrar agora, não sentirá nenhum efeito da falta aos módulos anteriores. E, para completar, ao fim do curso, todos receberão cópias das apostilhas correspondentes a cada um dos módulos que tenham faltado. Para se inscrever, informe-se pelo telefone: 232 2626 ou faça uso do ícone “fale conosco”, deste site. Por fim, você pode comparecer a um módulo, gratuitamente, para averiguar da qualidade do curso, e, somente depois, decidir se quer se inscrever ou não.
Benjamin Teixeira.
Aracaju, 16 de setembro de 2004.