Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.
Em sociedades primitivas, os cultos coletivos religiosos arrastavam multidões. De um modo místico-primitivo, agrupamentos gigantescos dançavam em torno de fogueiras ou acompanhavam espetáculos de sacrifício humano ou animal, com fervor religioso. Há aproximadamente 2000 anos essa era encerrou-se, e o Império Romano introduziu a violência como o grande fenômeno das massas, com seus “circos”, em que toda forma de selvageria era perpetrada, com aplauso febril das multidões. Embora decrescendo gradativamente no transcurso de séculos, ainda esteve ativa nas campanhas das “Santas Cruzadas”, nas execuções públicas da “Santa” Inquisição, com o suplício espetacular de mártires diversos, somente no século XX essa era se encerrou. Embora a bestialidade, a brutalidade, a guerra e a violência ainda permeiem, poderosamente, os tecidos sociais e as relações internacionais, terminamos, com a Segunda Grande Guerra, a era da violência institucionalizada e adentramos outro universo: a era dos esportes, que canalizam os impulsos agressivos do ego e do “eu instintivo”, ou “eu inferior”, nas criaturas, para atividades relativamente civilizadas, em que a fúria e o desejo de supremacia acontecem de modo não sangrento e sob regras de cidadania rigorosas.
Hoje, os jovens não se empolgam mais em ir para a guerra, mas em participar de grandes eventos esportivos. Um marco dessa era foram as Olimpíadas dos Tempos Modernos, iniciadas em 1896, bem como as Copas do Mundo de futebol, iniciadas no mesmo período, e que acontecem, desde então, alternadamente, a cada dois anos, cada vez atraindo mais atenção das massas.
A era dos esportes, porém, já está se findando. Quase concomitantemente a ela, começou a tomar corpo a era das Artes. O Cinema, que apareceu em 1895 (observe-se a proximidade dos primeiros jogos olímpicos dos tempos modernos), adquiriu, num espaço de poucos anos, proporções coletivas inimagináveis, assim como a discografia, levando enlevo, graça e beleza para moles imensas de corações.
Com o final do século XX, e à medida que nos aproximamos da metade do século XXI, avizinhamo-nos do império das artes, como evento de massas, e já podemos notar isso pelo “frisson” que causam telenovelas e grandes fitas de cinema, que arrastam multidões imensuráveis a estados alterados de consciência, em conjunto. A celebração de entrega do “Oscar”, a mais badalada e prestigiada premiação da área de entretenimento, atesta o quanto, com quase dois bilhões de telespectadores, as artes se converteram num fenômeno de massa planetário.
Como a Terra ainda não está totalmente sob a égide da era das artes, nem sequer saiu da era dos esportes, um curioso fenômeno híbrido, coletivo, atesta a transição entre as duas fases de desenvolvimento do emocional e do psicológico coletivos: as festas populares. Lembrando os antigos ritos religiosos de massa, como os que aconteciam em homenagem ao deus Bacco (grego) e Dionísio (romano), o Carnaval, em particular no Brasil, que constitui a vanguarda do amadurecimento espiritual do globo, faz com que milhões de pessoas saiam às ruas, dançando sob efeito de músicas de ritmos basais, primitivos, mas que já fazem tocar o físico ao espiritual, ao reverso dos esportes, que apenas ativam o físico e sua bestialidade, sem instigar nada do espiritual (afora o espírito de equipe e a determinação), como as artes, por mais elementares, logram fazer. Por isso, em vez de agressividade, a sensualidade é incentivada nas multidões, que movimentam-se, em transe, como grandes oceanos de gente dançante, um transe coletivo partilhado, sob efeito de poderosos e danosos (ao aparelho auditivo) decibéis provindos de trios elétricos.
Viveremos, porém, a partir de meados do próximo século (XXII), até o fim do século seguinte (XXIII), o império das Ciências, que, muito embora já existam, como as conhecemos, há alguns séculos, ainda não inspiram multidões, a ponto de gerar fenômenos de massa.
Somente então, quando adentrarmos o século XXIV estaremos, de fato, como massa humana terrícola, iniciando a era do Espírito, em que eventos religioso-espirituais, causarão a mesma comoção coletiva (em termos de extensão numérica de participantes) que hoje vemos em relação a grandes eventos esportivos ou do mundo da mídia. Assim como hoje finais de telenovelas e de campeonatos esportivos ou premiações de astros e estrelas conseguem conglomerar bilhões de almas num mesmo foco de atenção, por lá grandes eventos de ordem espiritual gerarão fabulosas uniões coletivas, a benefício espiritual geral.
Até lá, obviamente, a espiritualidade, como a Ciência, ascenderão em importância, gradativa e substancialmente, até que, por fim, quando chegarmos à aduana do século XXIV, estaremos encerrando o ciclo evolutivo da maturação humana na Terra, voltando, dialeticamente, às origens dos cultos coletivos espirituais de massa, só que não mais adstritos a pequenas tribos, divergentes entre si, em ritos primitivos, não raro regados a sangue humano, senão de animais, mas sim alcançando colossais moles humanas em todo o planeta, em eventos sem precedentes da História humana, com meditações e preces partilhadas por bilhões de almas encarnadas e desencarnadas a um só tempo.
Nesse sentido, o Espiritismo, no Brasil, e o movimento da Nova Era, nos Estados Unidos constituem meros prenúncios, precursores da grande Civilização do Espírito que surgirá na Terra, com toda pujança, e para sempre, a partir do ano 2300. Até lá, plantemos as sementes desta sociedade porvindoura, plantio esse começado de modo mais efetivo por Jesus, há dois mil anos, e reguemos e adubemos os primeiros brotos que surgem, para que, nas próximas reencarnações de nós desencarnados, como de vocês, encarnados, possamos ter uma humanidade verdadeiramente introduzida na Era da Paz, no Reino de Deus, o Reino dos Céus, prometido pelo Cristo, o início desta nossa era cristã.
(Texto recebido em 18 de abril de 2004.)