(O Ideal da Excelência.)
Benjamin Teixeira
por espírito incógnito.
Ninguém atinge a excelência, sem o esforço hercúleo da disciplina continuada. O talento inato brota fácil, mas, quase na totalidade das vezes, em erupções rudes de habilidade malconformada, sem os primores que constituem a base do êxito e da excelência.
Muito trabalho bem dirigido, com uma competência mediana, faz infinitamente mais que a genialidade ociosa. E tornar-se gênio desconhecido-escondido pode ser tudo, menos meritório, embora muita gente prefira, inconscientemente, permanecer assim, por receio de, em se esforçando, descobrir que não o é. Ao revés de haver qualquer sombra de mérito, representa tal atitude um grave demérito, pela fuga à responsabilidade, pela presunção, pela preguiça ou pelo narcisismo auto-idolátrico de quem não se empenha nem dá nada de si a ninguém.
Virtuoses da instrumentação musical treinam à exaustão, amiúde ultrapassando a carga de oito horas diárias de exercícios.
Campeões do atletismo esfalfam-se em ginásticas estafantes, consumindo-se em dias seguidos de suor, dor e privações variadas, na disciplina total do corpo.
Dançarinos excepcionais denodam-se em jornadas sobre-humanas de ensaios sucessivos, chegando a atravessar mais de quatorze horas por dia(!) na repetição infinita de uma mesma variação, perseguindo, devotados, a fugidia perfeição.
Homens e mulheres ilustres, “experts” em setores específicos do saber, rendem-se a longos estudos noturnos, indormidos, infatigáveis no conúbio com livros e autores de antanho e do presente, no encalço perpétuo da sabedoria.
Peritos do mundo financeiro perdem a tranqüilidade e levam a própria saúde a periclitar, insones e consternados, no controle ininterrupto dos mercados e das moedas.
Mestres da arte, no pincel ou na batuta, devotam-se a anos de estudo e aprimoramento profundos, procurando educar a sensibilidade e a percepção, para a criação e a interpretação, o mais fidedignas possível, dos espetáculos gratuitos da Natureza.
Todos aqueles que galgam níveis de excelência, sem exceção, no campo específico de sua ação, dedicam-se, incansavelmente, à busca do que alguns julgam fácil demais ou, por outro lado, prerrogativa exclusiva de gente especial. E, enquanto a multidão os observa, muda de admiração ou inveja, descansando na tranqüilidade displicente da mediocridade, lutam eles, vanguardeiros do progresso humano, por sobrepujar os limites de sua própria humanidade: com sucesso algumas vezes, fracassando muitas outras, mas jamais desistindo de prosseguir; persistindo inquebrantáveis na perseguição da meta suprema de excelência que os motiva; cansados e desiludidos amiúde, nunca frustrados, porém, arautos maiores da evolução, felizes e realizados, até em meio aos mais duros reveses. Porque, afinal de contas, enquanto tantos têm a lamentar sonhos destroçados e desejos irrealizados, têm eles o primeiro grande trunfo do ser consciente e maduro: a coragem da iniciativa, o mérito de tentar e o heroísmo de persistir, apesar de tudo. Podem, portanto, ao fim, estar até derrotados, mas terão preservado o patrimônio inalienável, conquista intransferivelmente pessoal da consciência em paz.
E você, caro amigo leitor: que me pode dizer neste instante?
Já lutou pela busca da excelência?
Já conhece o campo específico de sua vocação e ideal, que o animaria a devotar todos os esforços de uma vida?
O que tem feito para realizar os seus sonhos, os seus propósitos mais elevados, suas intuições e vocações mais profundas?
Pode afirmar haver empregado dedicação máxima neste campo essencial de sua realização, ou em qualquer outro?
Tem aproveitado, plenamente, as oportunidades de realização e crescimento que a existência lhe tem oferecido?
Vem se empenhando em gerar ensejos de ascensão e progresso, bem-estar e paz, para si e para outras pessoas?
Em suma, amigo, que tem feito de sua vida?
Se não está satisfeito com o que tem, com o que é e com as expectativas e perspectivas à sua frente, é bom que empreenda, agora mesmo, sem qualquer procrastinação ou desculpismo, uma dramática reavaliação de seu destino e de sua existência, enquanto pode fazê-lo mais livremente.
Não se prenda a oportunidades perdidas. Olhe para diante, e fite as esperanças e possibilidades infinitas para o amanhã. Sobretudo, comece com o que pode, e não com o que gostaria de encetar seu projeto maior: entre o ideal e a realidade, medeia um espectro ilimitado de possibilidades a serem contextualizadas, de probabilidades a serem potencializadas. E, somente pela iniciativa audaz e perseverante, faz-se viável a conquista de padrões de excelência, sejam os originalmente imaginados, ou outros, talvez não tão extraordinários, mas possivelmente muito mais meritórios, por corresponderem à exata medida do que permitido pela Divina Providência.
“Eia, agora, você que diz: ‘amanhã’” – parafraseamos a exortação bíblica.
Faça, hoje, ainda agora, o seu melhor, mas realmente o seu máximo, em esforço permanente, e lhe garantimos, com a força das realidades eternas: você se surpreenderá com os níveis de excelência que atingirá, pois que o Ser Supremo estará com você, desdobrando, lenta, mas continuamente, a divindade latente no imo do seu próprio peito…
Eia para a vida, amigo.
Eia para a felicidade, para a luz e para a sabedoria perenes…
Eia para a paz e a glória, na jornada em direção a Deus, ainda hoje, nesta existência, mesmo que imperfeito, humano; gozando, inobstante, a vitória transcendente do mergulho no Absoluto, na eternidade bem vivida de cada instante… deste seu exato instante… de todos os instantes de sua vida… d’agora… para sempre!…
(Texto recebido em 10 de novembro de 1996 – extraído do livro “Metanóia”. Revisão atual de Delano Mothé.)