27/04/2005


Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Sentando-me a conversar com a adorável e sábia Eugênia, pediu-me ela que abrisse a questão 742 de “O Livro dos Espíritos”, informando-me que teceria um comentário sobre seu conteúdo, com o fito de ser publicado, dentro ainda da psicosfera de comemoração aos 148 anos de seu surgimento para o mundo.

Seguem-se, primeiramente, uma transcrição da dita questão com sua respectiva resposta:

“Que impele o homem à guerra?

Predominância da natureza animal, sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbárie, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos freqüente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas, fazendo-a com humanidade, quando a sente necessária.”

(Eugênia comenta:)

Enquanto o ser humano desconhecer a natureza agressiva que palpita em seu âmago, negligenciando o dever inarredável de disciplinar e educar estas forças, em função de propósitos construtivos, haverá sempre o transbordamento psicológico e espiritual de tais vetores do psiquismo, alimentados (quando não promovidos) por estratagemas das organizações das trevas, que pugnam por fazer perder-se a humanidade, nos descalabros da morte e da destruição, em todos os níveis de significado destes termos.

Não é possível seguir feliz e relativamente em paz, sem considerar a necessidade indiscutível de reger as forças da mente, com o foco em metas maiores de elevação e espiritualidade.

Inutilmente, a sociologia e a psicologia propõem teorias de educação das massas, baseadas tão-somente nos princípios da lógica e dos direitos civis. O ser humano é espiritual, por inerência, de modo que ignorar esta sua natureza equivale a condená-lo a todas as formas de degradação e de decadência, pelo vazio inextricável que lhe toma a casa mental, quando desprovida de um sentido maior, para viver que o da mera sobrevivência material.

Não há filosofia ou pedagogia realmente efetivas, no objetivo de melhorar o ser humano ou apenas no de lhe garantir a sobrevivência, com um mínimo de equilíbrio e segurança sociais, sem se levar em conta este capítulo fundamental da essência humana.

Destrutividade significa impulso à transformação. Desconhecer isso favorece um direcionamento de fato destrutivo de tal impulso, que tem, essencialmente e a médio e longo prazo, finalidade construtiva. O ímpeto destrutivo visa a eliminar o que está velho e imprestável, porque inútil ou inadequado às necessidades atuais do espírito encarnado ou desencarnado, para propiciar o germinar do novo, do necessário, do inadiável. Colima a elidir, assim, aquilo que não mais corresponde às premências de crescimento de um indivíduo, em dado momento de seu histórico evolutivo. Com isto, devemos compreender, basicamente, que destrutividade ou construtividade serão assinaladas, pelas repercussões de uma energia ou impulso mental e não por uma avaliação delas em si mesmas, porque uma análise profunda dos valores intrínsecos de qualquer evento inexoravelmente engloba questões de ordem finalística, suas conseqüências, seus resultados, os efeitos positivos ou negativos, em que, na prática, redunda.

Dirija, assim, prezado amigo, a sua agressividade, para que não seja por ela dirigido – ou, melhor dizendo: desgovernado. Conduza sua destrutividade, para a renovação salutar daquilo que precisa imperiosamente mudar. E, sendo assim, terá condições de administrar o caos de sua vida e transformá-lo em criatividade, assim permitindo-o galgar níveis mais altos de excelência, felicidade e paz.

Você pode se sentir perdido, hoje, ante os ímpetos aparentemente incontroláveis que percebe no imo de si mesmo, seja no campo da irascibilidade, seja em outros âmbitos de postura intempestiva. É hora, então, de vasculhar, criteriosamente, os escaninhos mais profundos do próprio psiquismo, assim devassando as causas profundas de tais destemperos, removendo-as, ou, melhor falando: transmutando-as, a benefício das tais metas existenciais maiores de espiritualidade e fé, prosperidade e amor, que devem caracterizar sua presente passagem pela Terra.

Não menoscabe a força do inconsciente. Se você não percebe, conscientemente, seus ímpetos agressivos, bem provável estejam eles ocultos, no campo da inconsciência, operando livremente, ao alvedrio de seus propósitos irracionais, agindo subliminarmente, ocasionando estados de depressão, mágoas, formações cancerígenas, problemas reumatológicos, entre outros distúrbios orgânicos, psicológicos e espirituais, que podem, em última análise, degringolar, para as manifestações mais terríveis de morte, desde a física (a mais leve de todas, inclusive porque indolor), passando pela morte emocional e intelectual (a morte da motivação e das convicções, respectivamente) à espiritual (a morte do espírito de significado, propósito e sentido para viver; a morte da fé, da esperança e de todos os ideais e valores correlacionados ao ter uma perspectiva espiritual de vida).

Faça psicoterapia, busque aconselhamento profissional e religioso, oriente-se com amigos mais experientes, perscrute a própria consciência. Procure notar manifestações sutis da repressão ou do recalque da agressividade, quais sejam alguns exemplos: a passividade excessiva, a omissão ao dever, a fuga deliberada ou inconsciente de responsabilidades assumidas. E, destarte, não se descuide, um minuto sequer deste trabalho fundamental de educação da própria alma, a fim de que possa, quanto antes, aproveitar todas as forças de sua psique, em prol do que importa, do que realmente interessa à sua felicidade e à dos seus entes amados e, por conseqüência, da humanidade, ainda que alcance apenas algumas poucas pessoas, dentro do seu alcance direto ou indireto de influência pessoal. Isso porque, não fazendo isto, estará sendo manietado por interesses e inteligências que desconhece, a maior parte frívolos, muitos francamente malévolos.

A guerra no mundo exterior é resultado das guerras íntimas, em todos os estratos da sociedade – no seio das famílias, nos pequenos departamentos de trabalho, nas pequenas células de agremiações religiosas, desportivas, políticas, culturais. Mas, sobretudo, o fenômeno diabólico da guerra tem origem na nascente do coração do próprio homem, que, conflitivo consigo mesmo, propicia o espocar de todas as doenças morais, degenerescências de caráter, distorções de personalidade, desencaminhamentos de espírito e de destino. Isso por não se conhecer em profundidade, por não se gerir com equilíbrio (observando zelosamente, todos os seus níveis de necessidade, das físicas às espirituais), e, por conseguinte, estar ao bel-prazer da “sorte” – querendo dizer, em outras palavras: entregues ao turbilhão das forças ensandecidas da desagregação (da entropia, diriam os físicos), que continuamente pelejam por perder o ser humano e a civilização.

(Texto recebido em 21 de abril de 2005.)