(Como reagir, nas experiências de decepção com entes queridos e ante as desilusões da vida, de um modo geral.)

 

Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Tranqüilizem seus corações. Se alguém supõe estar incurso numa atividade ou situação que lhe exige mais do que pode dar ou suportar, é provável que a Divina Providência o tenha escolhido para uma experiência de crescimento maior, para uma vivência de expansão de seu psiquismo, em direção a novos parâmetros não só de intelecção, mas, principalmente, de sentimento.

É muito comum, na condição humana, chegue-se a conclusões precipitadas, a partir de poucos dados, esquecendo-se de que uma circunstância, qualquer que seja, só pode ser compreendida em sua totalidade, quando avaliada em sua completude de elementos e aspectos constituintes. Tal falha de avaliação é mais freqüente, sobremaneira, quando o indivíduo jaz emocionalmente envolvido. Surgem, então, os clichês famigerados: “Esta pessoa não presta, aquela é mau-caráter; esta me despreza, aquel’outra não me entende como sou”.

Quantas vezes, no mercado sinistro das projeções psicológicas recíprocas, os seres humanos se perdem numa “anticomunicação”, porque existe, sim, uma comunicação, mas completamente truncada e distorcida, em relação aos verdadeiros conteúdos que subjazem às informações trocadas, seja verbalmente, seja por meio dos métodos não-verbais?

Deste modo, meu estimado amigo, quando se sentir incurso na experiência da decepção com entes queridos, companheiros de trabalho e de ideal, entenda que talvez a ocorrência seja uma dádiva de Deus… Se a pessoa não demonstrou ser a amiga que supunha, talvez de fato nunca viesse a ser, conforme suas expectativas delineavam.

Se, na esfera profissional, alguém não recebe a promoção que almejava, acalentada longamente, no circuito de seus projetos para o futuro, vendo, quiçá, assumir a função um companheiro que julgava menos preparado para tanto, bem provável que, logo mais, caso houvesse sido delegado para tal incumbência, descobrisse não ser a pessoa tão aparatada, como se considerava, para o desempenho dos deveres relacionados ao cargo, nem tampouco a experiência se revelasse tão feliz, como aguardava que fosse.

Se, outrossim, no universo afetivo, você se vê à distância de seus sonhos, de seu ideal de felicidade, de uma pessoa específica com quem gostaria de partilhar amizade e intimidade (este campo tão eivado de mitos românticos e fantasias hollywoodianas), nem imagina o tamanho e a quantidade dos tropeços que teria, caso houvesse concretizado seu projeto de ventura.

Mais uma vez, quero reforçar, prezados amigos, não estamos na Terra a passeio, sejamos encarnados ou desencarnados, encontremo-nos no período intermissivo (entre vidas materiais) ou já mergulhados no retorno cíclico às experiências físicas, pelos corredores palingenéticos: estamos aqui a trabalho! Não devemos, portanto, nos surpreender, quando encontramos surpresas negativas, no percurso de nossas atividades, no desdobramento das tarefas que nos foram confiadas.

Se percebemos naquele que víamos como anjo um temperamento complicado, permeado de confusões, estaremos, sem dúvida, passando pela grande vivência de focar o espírito de ideal, em confronto com a dura realidade de uma personalidade humana, naturalmente prenhe de limitações. Enquanto nos quedamos perplexos, ao notar que o outro não é tudo que gostaríamos, descobriremos nele ou nela o que mais precisávamos, principalmente em termos de estímulo ao crescimento interior, à auto-suficiência emocional e à fortaleza íntima, para realizar novas tarefas, novos programas de trabalho, de estudo e de desenvolvimento da própria personalidade e caráter.

Estou muito satisfeita em encontrar, em seus corações e mentes, receptividade bastante para retornar, semana a semana, e gostaria de, se possível, deixar o último alvitre fraterno aos queridos irmãos em espírito, nesta grande assembléia de luz, aqui congregada: que nos dispuséssemos a agradecer a Deus – como cheguei a sugerir “en passant”, indiretamente, nas semanas transatas –, pela dádiva das dificuldades que nos amadurecem, fortalecem e expandem as percepções da alma…

De modo algum, trata-se isto de uma apologética à dor – jamais incentivaríamos posturas masoquistas, seja no complexo de inferioridade ou no de culpa –, mas sim um convite a que tenhamos maturidade psicológica e apresentemos grandeza espiritual suficiente, para facear as dificuldades que nos surgem nos caminhos, (ou melhor seria utilizar um conceito mais forte:) para arrostar as adversidades da vida, ou seja: enfrentar, com espírito combativo, os problemas que nos são ofertados pela existência, no intuito de saltarmos o óbice externo, para que, em contrapartida, possamos transpor os obstáculos interiores.

Gostaria de enxergar, nos queridos amigos-discípulos aqui reunidos, nesse grande banquete de esclarecimento e conforto, guerreiros e guerreiras, e não crianças carentes, pedintes de amparo, a aguardar socorro de fora, tão-somente, olvidando o poder da iniciativa pessoal e do trabalho contínuo em busca de materializar os próprios ideais. Muito me gratificaria vê-los como soldados de Deus e do Plano Sublime, a interpretar, em cada face sombria do destino, um ensejo-estímulo excepcional para que se galgue um patamar mais alto de consciência.

Estou especialmente tocada, sobretudo, por esta vivência da busca de Deus, apesar das enfermidades dos homens e mulheres em torno de cada um dos aqui presentes, mas primacialmente dentro de vocês mesmos. Não se deixem paralisar, nesta atividade essencial, por motivo qualquer que seja, nem se permitam, assim, engendrar a desculpa indesculpável de fugir ao serviço de ascese, de melhoria íntima. Este combate permanente em busca da espiritualidade de Deus, no âmago de nós mesmos, não pode jamais sofrer solução de continuidade.

Que vejamos esse constante burilar de nossas almas, nos confrontos contínuos do cotidiano, nos diversos departamentos de nossa existência, como sendo a grande oportunidade que nos é ofertada, para que não só nos fortaleçamos, mas sejamos mais felizes, porque nos tornando mais sábios.

E neste momento final, lembro-os de que, apesar de estarmos sob a cobertura do manto acolhedor e magnânimo de Nossa Mãe Maria Santíssima, também somos diretrizados pelos princípios enérgicos de Nosso Senhor Jesus, que disse: “Não vim trazer a paz, mas a espada!”

Nosso companheiro Emmanuel (*) utilizou, certa feita, a interpretação metafórica, a exegese do símbolo da cruz como sendo uma seta, apontando para o Alto, ou uma espada ensarilhada para baixo. Que façamos uso desta espada sublime no nosso serviço espiritual, colocando-a em riste, nas situações de dificuldade encontradiças em nossas vidas, e, destarte, jamais estaremos bloqueados, no terror característico às almas infantes. Queremos e devemos nos esforçar por ser adultos de verdade, e o adulto não reclama: age. Ajamos e nos faremos, indubitavelmente, indivíduos realmente amadurecidos psicologicamente, espiritualmente iluminados – que significa, não por acaso: “acordados”, para um grau maior de lucidez.

Com meu coração de mãe e professora, recordo-os, por fim, de que o olhar da Mãe Santíssima e de Nosso Senhor Jesus, bem como, acima de tudo, a presença de Deus em toda parte, acompanham e velam as vidas de todos, e de que, com a percepção consciente deste grande fenômeno, mais somos impregnados pela Graça Divina. Desejo transformar, assim, nossa despedida numa exortação a que percebamos conscientemente a presença d’Ele-Ela… Imaginemos isso: todos nós imersos no oceano da Infinita Bondade de Deus… Jamais estamos realmente isolados, sozinhos, desamparados, e, dentro desta circunstância fabulosa, permitamo-nos ser impregnados por este amor magnífico, tornando-nos, destarte, unos com Ele-Ela, a fim de que nos capacitemos aos vôos espetaculares que nossos espíritos tanto anseiam por desferir, rumo ao infinito.

Muito agradecida pelo ensejo que se me ofereceu à fala mais direta com os amigos, despeço-me, de fato, deixando-lhes meu ósculo maternal.

Mãe em Cristo, de todos, Eugênia.

(Mensagem recebida pelo médium Benjamin Teixeira, através do método da incorporação, ao fim da palestra do dia 1º de abril de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

(*) Guia espiritual de Chico Xavier.