É bem conhecido, em história, que o império espanhol, quando da assinatura do Tratado de Tordesilhas, pretendia dividir o mundo com seu rival à época – o império português –, desconhecendo a existência de larga faixa de terra no subcontinente sul-americano, o que viria a dar surgimento ao Brasil lusofônico e de cultura originalmente lusitana.
Analogamente, há marcos existenciais lastreados em “equívocos acidentais” ou em mera ignorância das partes envolvidas, em dado evento, que, por “razões erradas”, conduzem indivíduos e comunidades inteiras a finalidades acertadíssimas, por Desígnio Divinal.
Seja bravo(a), inteiro(a), coerente, quanto lhe esteja ao alcance, e, em contrapartida, despreocupe-se dos erros que hoje enxergue, com clareza, em seu passado. É natural arrepender-se – trata-se de resultado inexorável da aquisição de experiência. Todavia, jamais se confie à armadilha psicológica e espiritual da síndrome de culpa.
Reconhecer os próprios deslizes é uma atitude devida (embora nem sempre espontânea) a qualquer criatura que não porte o grave distúrbio da psicopatia. Pessoas emocionalmente saudáveis, no entanto, não perdem tempo com lamentações improfícuas – buscam converter a percepção das próprias quedas em responsabilidade diligente por se ressarcirem pelas faltas em que tenham incorrido.
A culpa, portanto, deve ser invariavelmente transformada em aguilhão à prática do bem, em tão ampla medida e em tão melhor qualidade quanto exequível a cada um(a), jamais degringolando, assim, na hemorragia moral do remorso improdutivo.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
Bethel, CT, região metropolitana de Nova York, EUA
15 de dezembro de 2020