Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.


Assim como existe o distúrbio ocular da hipermetropia, que favorece a percepção mais precisa de imagens distantes de quem observa, dificultando, em contrapartida, o vislumbre nítido de imagens próximas do observador, existe, por analogia, em algumas psiques, uma propensão à facilidade para adentrar o universo das grandes reflexões filosóficas e morais, transcendentes e impessoais, contudo profundamente deficientes no divisar adequado, em proporções corretas, dos fenômenos corriqueiros, na rotina dos relacionamentos interpessoais e nas questões basilares do ser-em-si-mesmo. São aqueles, por exemplo, dados a grandes arroubos de excelência na atividade profissional, todavia obtusos nas questiúnculas do dia-a-dia doméstico; precários nas relações familiares, porém brilhantes nas ligações de impacto da vida pública; grandiosos nas magnas realizações para as massas, inaptos a serem bons amigos, familiares ou cônjuges, e, principalmente, bons para si mesmos, suas necessidades, desejos e aspirações mais nobres.

Se nos atentarmos para esta tendência ao impessoal, ao coletivo, nos seus aspectos construtivos, sim: muito bem!, haverá um benefício para a humanidade, e, sem dúvida, constitui um plano de progresso espiritual do indivíduo: o do amor indiferenciado, o do amor pelo gênero humano e não por indivíduos em particular; bem como o do poder emocional e espiritual, da coragem e da audácia em se devotar a grandes causas. Entrementes, não descuremos da importância do pequeno, do aparentemente insignificante, porque Deus reside nas pequenas coisas. Será no teste das pequenas experimentações, que seremos avaliados e nos tornaremos abalizados, para as grandes realizações.

Portanto, sejamos, sim, ousados, nas iniciativas de ordem coletiva, mas nunca suponhamos desimportantes os pequenos deveres, os pequenos compromissos, as tarefas comezinhas do dia-a-dia, porque, por meio deles, dignificamo-nos, engrandecemo-nos. Não por acaso, grandes espíritos que aportaram à Terra e nela se sublimaram, dificilmente se expunham nos galarins da fama, raras assumindo funções de grandes missionários do bem comum, com atividades de vulto para o bem geral. A maioria delas atingiu os pináculos da Espiritualidade Maior, como almas sacrificadas, na forja do lar e de humílimas oficinas de trabalho, renunciando, minuto a minuto, à própria, pela felicidade de seus entes queridos e dos que lhes partilhavam a bênção do convívio luminoso, alcandorando-se a altiplanos espirituais, a partir de tugúrios infectos de eras prístinas.

Aprendamos com estes gigantes do anonimato, gigantes espirituais, desconhecidos do mundo, muito conhecidos de Deus e dos Anjos que O representam; e sigamos-lhes o exemplo excelso. E, com isto, valorizemos não só as grandes oportunidades de ação e de aprendizado, mas também o que nos é dado viver, nas lições singelas do cotidiano, compreendendo que, neste universo sinérgico e basicamente uno, o dentro e o fora, como o grande e o pequeno, constituem, em verdade, faces de uma mesma moeda, aspectos de um mesmo binômio de realidade, assim como revela o padrão holístico de organização do universo, que reza que os esquemas do micro e do macro-cosmos são, simplesmente, os mesmos. (*2)

(*1) (Mensagem recebida psicofonicamente, na reunião mediúnica fechada de 10 de maio de 2005.)

(*2) Eugênia alude ao conceito de “hólon”, do grego, que significa: “uma entidade que é ao mesmo tempo totalidade de unidades menores, como unidade de totalidades maiores”. Vemos isto em todos os níveis de organização da matéria, dos seres vivos, dos corpos siderais. Hólon é o que tudo é. Para dar um exemplo simples, a célula é um hólon, porque tanto é um todo de partes menores, as moléculas, como é parte de todos maiores, os tecidos. Mas as moléculas e os tecidos também são hólons, constituídos de todos e unidades maiores e menores respectivamente que eles mesmos. E assim, “ad infinitum”, na direção do micro, como do macro-cosmos.

(Nota do Médium)