Benjamin Teixeira de Aguiar – Estimada Orientadora, a questão da injustiça e da ingratidão constitui um tema recorrente nas lamentações das pessoas. Poderia nos dizer algo a respeito do assunto?
Espírito Eugênia-Aspásia – Sim. Primeiramente, é agradável ao ego humano colocar-se na posição de vítima. Essa atitude, por isso mesmo, é mais comum em personalidades imaturas ou em caracteres mais defeituosos. Racionalizações, muitas vezes primorosamente elaboradas, distorcem fatos e a interpretação de eventos, para que o indivíduo possa se sentir como “a pobre criatura que foi incompreendida e gratuitamente maltratada”.
Por outro lado, há espíritos encarnados que estão de fato à frente da média evolutiva do orbe e cujas ações beneméritas despertam, com frequência, os processos de ataque e reações injustas, despropositadas e amiúde virulentas, movidos por aqueles que veem contrariados seus interesses inconfessáveis.
Uma observação mais objetiva e judiciosa facilmente distingue quem pertence a cada um dos dois grupos opostos, entre os quais a maior parte da população se enquadra, numa ampla escala do espectro do “complexo de vítima”.
Num extremo, estão os que se amesquinham para estarem certos a todo custo, vivendo em função de seus diretos e pessoais interesses, ao passo que culpam terceiros por seus insucessos, atribuindo a si todos os aparentes louros que ostentam.
Noutro, os injustiçados brilhantes, que se mantêm heroicamente a serviço de causas e ideais pelo bem comum, não importando quantas vezes e em que medida sejam, no correr dos anos, atraiçoados por almas de desenvolvimento precário que se lhes aproximam com a intenção de obterem vantagens específicas, logicamente nem sempre atendidas em suas expectativas subalternas.
Precatemo-nos contra aqueles que esperam dos outros postura de anjo, sobremaneira se tais detratores assestam suas baterias de calúnia na direção de quem obviamente desdobra o bem em proporções coletivas.
Seres do Plano Maior de Vida, quando reencarnados, raramente se comportam como ditam as convenções ou pressuposições de virtude. Padecem as mesmas mazelas e necessidades da condição humana, só que debaixo de um nível de pressão mental que enlouqueceria os temperamentos comuns. E são justamente estes (os temperamentos comuns) que, não desfrutando o mínimo bom senso para reconhecerem corações que lhes seguem à frente no carreiro evolucional, sofrem a tentação de desprezar, difamar e ver com maus olhos as Obras de Deus e Seus tarefeiros, no domínio físico de existência.
Não aguardemos, por fim, que os missionários da Luz ajustem-se à aparência de “almas santas” ou “iluminadas” de seu tempo, ou não estariam exercendo a função de agentes catalisadores do progresso geral.
O moralismo discriminatório, prenhe da peçonha hipócrita do conservadorismo reacionário, tem vitimado, século sobre século, bem antes do tempo de Jesus – mas incluindo-O espetacularmente –, os autênticos embaixadores das Alturas, em todas as culturas e sociedades.
New Milford, Connecticut, EUA.
23 de outubro de 2014.