Benjamin Teixeira
pelo espírito Anacleto
Amiúde, criaturas humanas esperam circunstâncias espetaculares para dar início ao inadiável. O essencial não tem hora ou ocasião especiais para acontecer. O essencial é necessidade e dever permanentes.
Enquanto você arranjar desculpas para não viver e seguir o imprescindível, o ego, de fato, encontrará mil recursos para burlar a lei interna, e fazer valer o caos. Mas não o caos produtivo, que gera criatividade, e sim a desordem displicente da baderna, introdutória à desagregação dos melhores elementos do progresso.
Hoje, agora mesmo, sem conceder mais nenhum espaço à procrastinação, estabeleça, para si, o império da disciplina. Não aceite negociar com o inegociável. Defina metas claras, precisas, objetivas, e siga-as com rigor draconiano. Mais vale exceder-se no essencial, do que dele fugir.
Observe quantas vezes tem declinado ao dever de ser coerente com sua consciência, sob pretexto de ser aberto, livre e relaxado. Isso não é abertura, e sim negligência, inconseqüência e irresponsabilidade.
Determine-se, definitivamente, ao seguimento impreterível, contínuo, sagrado daquilo que já percebe como basilar. Somente o respeito integral à alma pode trazer paz e felicidade ao indivíduo.
Concorde comigo – como deve estar anuindo, se tem um mínimo de lucidez – mas faça agora o que lhe estou sugerindo, provando a si mesmo a sua aquiescência ao irrefutável: pare qualquer coisa que esteja fazendo e delineie, para si, o seu quadro de disciplinas absolutas. Ou seja: que não pode deixar de seguir, por motivo algum.
Claro que não estamos num mundo de absolutos, você dirá. E é por isso que seu quadro de absolutos deverá ser sempre relativizado às novas introvisões e informações que lhe chegarem, cabendo-lhe adaptar esse conjunto de regras às novas descobertas e aprendizados auferidos. Mas, enquanto isso não acontecer, nenhuma justificativa será decente ou razoável para você romper a fidelididade com o fundamental. A voz da sua consciência é a Voz de Deus para você. E se você não for leal a Deus, como poderá ser fiel a qualquer pessoa, projeto ou objetivo em sua vida, a começar por você mesmo? Trair a consciência é trair o Divino, o Cosmo, o Todo, constitui crime de lesa-divindade, de consequências normalmente trágicas para o incauto que a essa estultícia se rende.
As disciplinas devem ser absolutas, justamente porque vivemos num mundo de relatividades. Precisamos de parâmetros firmes, seguros, que nos deem solidez principiológica, referenciais de conduta e pensamento, para que não nos percamos nas complexidades sinuosas do perspectivismo, e sejamos de roldão arrastados para o torvelinho da indefinição, da incerteza e, portanto, da total ausência de identidade, vontade ou propósito. É por esse vício de abrir a guarda para questionar o inquestionável que muitas pessoas caem em bancarrota existencial, sentindo-se desanimadas, desalinhadas com o propósito que as faz viver, sem uma razão para existir. É o vício do desculpismo inveterado para o que não tem desculpa, abrindo concessões no essencial para tudo e permeabilizando o imutável ao laissez-faire, que impede a alma de realizar seu destino e condu-la às mais angustiantes crises existenciais.
Questione a cultura e a lei estabelecida, bem como até as autoridades constituídas, para lhes avaliar a qualidade moral e o poder de realmente gerar o progresso e favorecer a vida. Questione os textos considerados sagrados e os líderes espirituais, para lhes aquilatar a fidelidade interpretativa da Vontade Divina e a pureza de intenções para guiá-lo ao Criador. Questione minha voz, questione o que lê, questione qualquer coisa, mas jamais questione sua consciência, por razão alguma. Porque a voz de sua consciência, repito, é a Voz de Deus para você.
Você pode até ter dúvidas quanto a estar ouvindo ou não a voz de sua consciência, e talvez realmente esteja confundindo-a com as vozes do preconceito, do establishment, das pressuposições de verdade. Mas a grande questão é: enquanto nada estiver claro, tem o dever de seguir o que supõe aproximadamente ser sua consciência, ainda que mais tarde note equivocadas as idéias que lhe eram propostas. Todavia, ainda nesse caso, uma análise mais acurada rapidamente revelará que, muito embora num primeiro exame as distorções exegética (das Leis Divinas) ou perceptiva (dos fatos) existissem, seu encaixe em determinadas necessidades evolutivas suas da época era tal que justificava, plenamente, a distorção relativa da verdade.
Feche agora essa página que lê, tome de papel e lápis, e rabisque sua constituição pessoal, seu conjunto de leis internas, a que se submeta em caráter de absoluta obediência. Reforço: seja claro e objetivo, em suas proposições, para que possa monitorá-las com segurança e precisão, e não tornar a cair nas armadilhas do subjetivismo, que sempre abre espaço a dúvidas e a flexibilizações indevidas.
Reveja essa constituição pessoal quantas vezes quiser. Refaça quanto sentir necessário. Mas siga-a sempre. Ela lhe constituirá a Voz de Deus em seus caminhos. E, com relação à Voz de Deus nada menos que total obediência nos cabe.
Paradoxalmente, entretanto, cativos libertos da Lei de Deus, voluntariamente submetidos a Seus ditames, para que, em vez de nos angustiarmos e nos sentirmos presos e castrados, sejamos felizes, realizados e livres, cheios de poder, vitalidade e alegria, porque a Voz de Deus, a Voz da Verdade é, necessariamente, a “fe licitas”, a fé verdadeira, ou seja: nossa verdadeira fe-licidade.
(Texto recebido em 12 de dezembro de 2000.)