Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Pense com profundidade.
Pare de supor que, se uma expectativa foi frustrada, uma tragédia aconteceu em sua vida. Etapas de fracasso são naturais em todo processo de busca do êxito.
Uma decepção com alguém não deve implicar em, necessariamente, uma inferência sobre todo o gênero humano. Superar ressentimentos é característica indispensável para que se atinja um nível mínimo de maturidade psicológica.
Se uma dificuldade surge, trate de se capacitar para transpô-la, assim como o nível do mar precisa subir para ultrapassar a altura de uma barragem. Estude mais, consulte especialistas, treine-se. E, feito isto, torne a enfrentar a situação complicada, até que consiga chegar onde pretende, enquanto compreender sua meta como correta e justa.
Pare de supor que o Céu deva se abrir para atender a seus caprichos. O mundo não gira em torno de você. A perspectiva narcísica é a psicologia do bebê. As pessoas não existem para satisfazer suas necessidades. Então, pare de ficar magoado e de se sentir traído se alguém, em vez de pensar nos seus problemas e aspirações, trata de cuidar dos interesses dele mesmo – isto é o normal do gênero humano na Terra. Ainda não se vive, no plano físico, num meio de almas nobres e santas. Então, não aguarde virtude excepcional de ninguém, para não sofrer decepções maiores. Mesmo porque, aguardar virtude dos outros, sem mostrá-la em maior grau em si mesmo, é sinal de más intenções mal-camufladas sob a capa de uma pseudo-inocência.
Se algo de ruim e inesperado acontece no encadeamento de eventos em sua vida, e você conclui que o mundo é mau e as pessoas não prestam, não está sendo esperto e realista, quanto parece à primeira vista de quem é dado a conclusões precipitadas e pré-fabricadas pela cultura de massa, mas justamente pelo contrário: está sendo superficial e infantil, pecando por lamentável falta de profundidade e abrangência em suas análises. Eventualidades e retrocessos em planejamentos previamente delineados ocorrem a toda hora e devem ser considerados como rotineiros por quem quer que julgue esclarecido e de fato perspicaz. Não aguardar tais superveniências é que indica baixíssimo padrão de entendimento da vida, em suas complexíssimas teias de significado, propósito e desdobramento fenomenológico.
Hoje, procure atingir o fanal da madureza. Não busque emoções intensas: procure satisfação profunda, duradoura, necessariamente lastreada em sentimentos de serenidade e de paz. Procurar paixões intensas é procurar a infelicidade, quando não um caldo fervente de desastres de proporções por ora imprevisíveis. Você não quer ficar apaixonado. Apaixonar-se é enlouquecer. Os próprios neurocientistas do plano material de vida têm asseverado isto, no mapeamento das funções cerebrais, constatando que quem está apaixonado está sob efeito de uma espécie de hipnose dos instintos, para pensar menos e sentir mais, com o fito de, tão-somente, atingir o fim reprodutivo que, no pano de fundo dos motivos biológicos da máquina orgânica, motiva o surto nas funções neurofisiológicas. Você não quer estar apaixonado: você quer ser feliz. Você é seduzido pelos setores mais primitivos de seu cérebro a acreditar que estar apaixonado é o que você quer. Mas, para atingir a plenitude, a realização de toda a sua multidimensionalidade, com todas os vetores psíquicos de necessidades sociais, psicológicas espirituais e até físicas, você deve seguir diretriz mais abrangente de conduta. Você, por exemplo, em termos afetivos, quer uma amizade profunda, com partilha de idéias, de valores, de sentimentos, de objetivos de vida, de interesses. Quer cumplicidade, companhia, confiança, ternura, acolhimento e até sexo, romance e calidez. Mas… não ponha estes últimos itens à frente dos primeiros da lista da hierarquia de necessidades humanas, ou sofrerá tremendo revertério existencial, em verdade uma seqüência deles, cada vez mais lesivos, se não se resolver por atender ao chamado para o fechamento de ciclo – ciclo de imaturidade e de inconsciência do viver sob os clarões sinistros dos incêndios das paixões. Para completar, ainda que quisesse, isto lhe seria impossível. Não espere, na maturidade, encontrar o verdor e a loucura das emoções que o empolgaram na juventude. Você perdeu a capacidade de se apaixonar perdidamente, porque seu coeficiente de inteligência, informação e maturidade psicológica não lhe permite mais render-se ao delírio do enamorar-se com esquecimento de outras questões mais graves da existência. Busque elã, mas não acima de outras prioridades essenciais, e esteja cônscio, de antemão, que não haverá a febre e o desatino dos primeiros anos de mocidade – graças a Deus e melhor para você!
Por outro lado, no campo dos conceitos, em vez de procurar certezas eternas – que não existem – procure fulcrar a mente em percepções fidedignas para com a realidade, e, por isto mesmo, prenhes de ambigüidades e abertura a surpresas, visto que a imprevisibilidade e a criatividade compõem notas dominantes nas mentes realmente lúcidas, na interação com a intrincadíssima teia de eventos da vida.
Em resumo: torne-se adulto de verdade, e pare de choramingar pelos cantos, ver os outros como culpados por seus problemas, procurar inimigos no mundo externo e se sentir um pobre coitado. Toda esta postura delineia o perfil psicológico não só da criança e da vítima, como do fracassado, do hipócrita, como do mal-intencionado disfarçado, como disse Jesus, qual “lobo devorador, em pele de cordeiro”, porque não será a primeira vez que alguém assim se sente e, guindado a posição de destaque, comete descalabros muito piores do que os perpetrados por quem condenava antes de ascender ao poder.
Sua felicidade é de sua responsabilidade. Não espere que ninguém venha fazê-la por você, nem aguarde circunstâncias ideais para propiciar seu acontecimento em seus caminhos. Aprenda a usar criativamente os recursos que estão ao seu alcance, para gerar alegria, paz e satisfação, para você e os seus, pois é sabido que não necessariamente os que têm mais são mais felizes, ao passo que, entre os maiores atormentados, temos aqueles que, pela multidão, são invejados ardentemente, como grandes expoentes de uma felicidade de papelão.
(Texto recebido em 27 de novembro de 2005.)