Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
”Chico (Xavier) liga-se temporariamente a certas pessoas. No começo, cobre-as e fica eletrizado, empolgado. Visitas, cartas, cartões, reuniões, amizades profundas. De repente, sem explicação alguma, desaparece, some. O silêncio cobre a distância. Durante anos, esse fato sucedeu com numerosas pessoas que se tornaram suas amigas íntimas, de permanecerem no mesmo recinto, de dormirem e comerem na mesma casa e depois foram afastadas quase que definitivamente. Estudando essas criaturas, vendo-lhes os hábitos e o caráter, compreendemos que, de fato, com algumas, houve motivos sérios de afastamento e, com outras, não; pelo menos naquele conceito comum de amizade que todos temos.”
R. A. Ranieri (*)
As pessoas querem os poderes divinos, em função de barganhá-los para seus interesses pessoais. Esquecem-se de que não se pode subornar as Forças do Céu, dobrando-as ao próprio talante.
Pessoas, principalmente grandes mestres, passam pela vida de outras, para deixar uma mensagem, uma lição, um estímulo, uma sugestão, e seguem, para dar continuidade aos compromissos que as prendem à Terra. Não revelam suas verdadeiras impressões íntimas, porque nunca seriam compreendidas, e passam adiante, como se fossem marginais… marginais sim… da banda acima da média evolutiva do orbe…
Quando uma mãe desencarna, crianças criam, amiúde, raiva dela, por suporem-se abandonadas, ainda que a causa de morte nada tenha a ver com culpa que se lhe possa imputar.
Com mais aparente razão, quando pais se separam, os filhos da união, quando não se culpam, julgam seus pais egoístas, porque – Oh!: estão pensando neles mesmos e buscando a própria felicidade! – como ousam???
É assim que a psicologia infantil, lamentavelmente muito presente entre encarnados adultos (ainda que instruídos e perspicazes em assuntos rotineiros materiais), estabelece a avaliação da conduta de outras criaturas. Quem define outras prioridades de vida que não incluam essas melindrosas personalidades de infantes eternos e seus caprichos pessoais é imediatamente tachado de louco, irresponsável ou perverso, senão um conjunto de todos esses adjetivos.
Não sabe a ignorância humana, entretanto, que os desejos pessoais não são considerados quando se trata de interesses coletivos e espirituais, de questões evolutivas e intemporais, e que, portanto, quem se sente contrariado não será ouvido por fazer barulho ou “cara feia”, como fazem as crianças, para manipular os pais humanos. Lá em Cima, não há nenhum pai ou mãe manipuláveis, de modo que a revolta destes incautos da fé constituirá, tão-somente, uma tortura psicológica para eles mesmos.
Se pessoas especiais passaram por sua vida, agradeça a Deus por isso. Se não pode mais privar de seu contato, não fique a fantasiar terem sido falsas ou injustas. Recorde-se de que o santo para uma religião é visto como charlatão por outra, e nem por isso deixou ele de ser nobre e benemérito, pela imagem que dele fizeram no outro rincão ideológico. Se você passa a ver com maus olhos quem passou por sua vida, correrá o risco de perder os ganhos evolutivos que fez com aquela pessoa, e ficar apenas com o fel da mágoa de seu egoísmo infantil, para começar tudo de novo, n’outro tempo, com outra pessoa e, é claro, como é da lei do carma, com uma ruptura ainda mais dolorosa que a que sofreu e julgou imperdoável.
Em contrapartida, quando sua consciência, sua intuição e seu ideal lhe pedirem afastar-se de determinado indivíduo ou de certo grupo de pessoas, não tenha escrúpulo em fazê-lo, porque é da Vontade de Deus que siga para outras paragens e dissemine sua seiva espiritual em outros corações. O apego é um mal. E a preocupação em agradar e em ser querido e entendido, em atender às sugestões do comodismo e da vaidade, pode levar à prostituição da consciência e à perda das mais valiosas oportunidades de toda uma existência.
Se alguém não lhe compreende a postura severa, em alinhamento com seus mais altos ideais e os desígnios superiores assinalados para sua passagem na Terra, ignore a gritaria que se faz em torno de seus passos, e lembre-se de Jesus, açoitado por romanos, vilipendiado por judeus e abandonado pelos amigos, no solitário caminho para o Gólgota. Acham-no arrogante ou fracassado moralmente… Mas foi isso que supuseram do Cristo. Como acreditaria poder ser diferente com você? A algaravia ensurdecedora da plebe espiritual continuará, entrementes, porque, para aqueles que persistem no próprio ideal, sem se preocuparem em atender a esquemas de convenções ou expectativas alheias, seguem sempre a sós, apedrejados e feridos… mas seguidos, de perto… muito de perto mesmo… pelas Potestades do Céu!…
(Texto recebido em 19 de agosto de 2004.)
(*) Trecho extraído do livro “Recordações de Chico Xavier”, de R. A. Ranieri, capítulo 64. Ranieri foi um dos poucos amigos que Chico preservou durante toda a vida, biógrafo seu, escritor de vários livros inesquecíveis a respeito da cândida alma de Chico Xavier, espírito muito ligado ao do famoso médium mineiro, de quem teria sido, inclusive, irmão biológico, na Roma Antiga, ambos filhos de Emmanuel, o egrégio mentor espiritual de Chico, por lá reencarnado na condição de elevada autoridade “patrícia”.
(Nota do Médium)