Benjamin de Aguiar,
em diálogo com o Espírito Eugênia.
(Benjamin de Aguiar) – Eugênia, adorada mestra, fascina-me a ideia-evento de pessoas de caráter e personalidade visivelmente acima da média que desencarnam precocemente – ou pelo menos assim se considera, da perspectiva humana. Você já denominou tal fenômeno, aqui, de “Projeto Ômega”, embora ele seja bem conhecido (sem nome) entre os que aceitam os princípios da imortalidade da alma e da reencarnação: espíritos de respeitável envergadura evolutiva que renascem às pressas, para despertar seus pupilos encarnados, com o impacto de sua desencarnação inesperada, geralmente na condição de filhos dos próprios protegidos, favorecendo que seus tutelados promovam reviravoltas em suas existências, em meio à maturidade, de molde a que se desapeguem de valores muito amesquinhados nas futilidades do mundo e se interessem pelas sérias questões do espírito. Assim, vemos inúmeros casos de crianças ou adolescentes inclusos nesta categoria, que provocam doloroso impacto com sua partida ao plano espiritual, sobremaneira por serem especialmente bondosos, inteligentes e de fácil trato. Todavia, tenho visto também casos de indivíduos que desencarnam, com perfil semelhante, em idade mais adiantada, sem terem chegado propriamente à “idade avançada”: estagiando ainda na maturidade jovem ou na meia-maturidade, entre 30 e 50 anos, digamos – uma faixa etária em que não se espera a morte física de alguém, nos dias que correm. Seriam tipos “tardios” de “Projetos Ômega”, ou “Projetos Ômega” de natureza diferente, com foco principal não em pais, mas, de reversa maneira, em filhos ou outras pessoas?…
(Espírito Eugênia) – Sim e não. Há casos exatamente como o que você “especulou” (coloquei aspas, porque não se trata de conjectura propriamente, mas sim de vestígios mnemônicos, memória “extracerebral”, lembrança do que você conheceu d’antes do reencarne), em que guias espirituais, em vez de nascerem na posição de filhos consanguíneos, tornam às lides materiais como progenitores biológicos, parentes próximos ou professores carismáticos dos seus orientandos, e que se deslindam de seus organismos de carne antes, bem antes do que se esperava. O impacto desse desaparecimento repentino faz com que muitos repensem seus propósitos e prioridades existenciais, reflitam sobre a finitude da vida, renovem ideais, reconsiderem posturas de dependência, pois que, não raro, mestres espirituais encarnados despertam, de forma involuntária, tendências acomodatícias, espiritualmente, em torno de seus passos. Por isso, em contrapartida, os que são programados à longevidade apresentam posicionamento controverso, nas relações interpessoais, rompendo relacionamentos íntimos (incluindo os familiares), sem se preocuparem com convenções, ou mesmo mudando abruptamente de ambientes de trabalho ou residência – vide a biografia de Chico Xavier, a exemplo.
Disse “não”, também, em considerando a segunda parte de sua indagação, que aventa a possibilidade de um “Projeto Ômega diferençado”. É frequente encontrarmos existências com fins específicos, que perfazem sua razão de ser em determinado momento da idade cronológica do corpo que serve ao espírito em missão, dispensando a continuidade da estada desta alma sobre o globo. Nesses casos, ironicamente, é comum que aconteça o reverso do “Projeto Ômega”. Como, normalmente, trata-se de espíritos de relativa evolução para a média do planeta, interesses coletivos acabam sendo indiretamente tangenciados (ou seja, fora da programação original daquela encarnação), com pessoas sendo tocadas e estimuladas pela presença do(a) enviado(a) do Céu (para a tal tarefa objetiva, previamente estabelecida), que, então, recebe concessão de tempo adicional na dimensão física, uma dilatação ou “moratória existencial”, para que cumpra novas atividades, que lhe não estavam antes assinaladas no plano cármico. Espíritos enquadrados nesta categoria felizarda são, portanto, mais do que “completistas”.
Por outro lado, não se deve confundir este psicotipo com mais um outro: de suicidas ou homicidas (de pretéritas existências) reencarnados, que tinham vida curta projetada para uma dada experiência reencarnatória, mas que padecem enfermidades longas, antes da morte do corpo, sofrendo de modo angustioso, aflitos por não partirem logo, e que, com isso, aprendem a valorizar a bênção-tesouro do organismo biológico e a oportunidade ímpar de interagir com espíritos de diversos graus evolutivos, como o domínio material de vida propicia. Em alguns casos, quando se envolvem com causas sociais ou com o bem-estar de muitos, eles podem ter expandido (após o início da enfermidade que seria fatal, por exemplo, ou, digamos, depois da ocorrência trágica de um acidente automobilístico, com graves sequelas) o tempo de vida, originalmente programado a ser estreito, sobre a superfície do orbe.
(Diálogo entretecido em 21 de junho de 2011.)
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