Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

Vivemos num mundo de provas e de expiações, na linguagem clássica espírita. Para dar uma idéia mais aproximada do que as pessoas, quando encarnadas, sentem amiúde deste orbe, melhor seria talvez dizer que se trata de um mundo de “provas e castrações”.

Gostaríamos de considerar, entretanto, que se pode ver a prova como um castigo e a castração como uma mutilação, mas estas são apenas alternativas de interpretação. Num nível de análise mais profundo, a prova facilmente pode ser vista como é de fato: um desafio, um estímulo e um teste; ao passo que a “castração” naturalmente pode ser notada à guisa de uma poda, uma restrição útil, uma defesa para o que se não está ainda preparado, com efeitos positivos no fortalecimento do indivíduo, assim como acontecia aos castrati(*) medievais, que tinham sua masculinidade sacrificada para serem mais puros na excelência artística do canto.

Em suma, este é um mundo de proteções necessárias, de lições inadiáveis, de busca e oportunização de crescimento em todos os sentidos, às vezes, a preço alto.

Ironicamente, a impressão que se tem é de que as energias, vetores mentais (de encarnados e desencarnados) e influências culturais e sociais, normalmente apontam para baixo. Pugnam por refrear impulsos nobres nos indivíduos e bloquear-lhe o acesso aos planos superiores de consciência. Normalmente, sofrer tais limitações é visto como uma sina cruel, denunciando a vitória do mal sobre o bem. Mas não é, e constitui indício, justamente, do contrário. O que diríamos de uma academia moderna de musculação? Para quem almeja desenvolver sua musculatura, toda sorte de meios se oferece para tanto: aparelhos diversos que impõem graus variados de resistência ao movimento correlacionado a cada grupo muscular, para, por meio desta mesma resistência à função motora de cada músculo, dilatar-lhe o potencial. É exatamente isto que se passa num sentido espiritual, no mundo terreno: resistência,luta, adversidade, ataques gratuitos – tudo não passa de ensejo ao fortalecimento, à expansão de capacidade, à extensão de poder do espírito sobre a matéria e tudo que lhe parece antagônico às suas expressões superiores.

Não reclame, assim, e, muito menos, entregue-se a sentimentos pessimistas, de depressão e de derrota: é esta a maior arma do mal – sugerir o fracasso definitivo, insuflar a desistência. Cuidado com esta hipnose sinistra das forças contrárias ao bem. Persista, a que custo for. Seja inteligente, e, é claro, não transforme perseverança em teimosia. Aprenda com os próprios erros, procure desenvolver métodos e caminhos novos para atingir seus objetivos, quando os procedimentos utilizados não se mostrarem eficientes, até mesmo relativize, contextualize, adapte ou reduza a altura de suas expectativas no ideal. Contudo, em suma, jamais “entregue os pontos”: nunca, realmente nunca desista do essencial: seguir a voz do seu coração, de sua consciência, de seu ideal, de sua intuição, e, esteja certo: Deus e as Forças que O representam secundarão seus esforços, enviando suprimentos de força e inspiração nos instantes críticos, convertendo pesadelos existenciais em oásis de energias e motivação renovadas quando não, eventualmente, em verdadeiros paraísos de recursos e potenciais em acréscimo à transformação e à realização.

Sim, sua mente pode estar ainda sob efeito das toxinas paralisantes dos agentes tenebrosos do “lado contra”. Continue, a despeito disto, em prece, ativo, estendendo a mão a seus irmãos mais sofredores, e notará, em tempo, a Mão Maior a soerguê-lo do abismo em que se sente chafurdar, pois que, meu filho, maior que Ele, de fato, ninguém há.

(Texto recebido em 17 de dezembro de 2005.)


(*) O “castrato” – ou, no plural do italiano: “castrati” – eram cantores castrados desde antes do amadurecimento sexual e, portanto, do surgimento dos sinais secundários da masculinidade, como o engrossamento do timbre vocal, para que ficassem perenemente com vozes infantis, de feição feminina, inclusos, assim, na categoria que poderíamos denominar “sopranistas”. Esta castração se dava, normalmente, à altura da pré-adolescência ou final da infância, quando o menino estava entre 10 e 12 anos, aproximadamente.

(Nota do Médium)