Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Nesta era de tanta licenciosidade, há conceitos que precisam ser relembrados e vividos, sem a tentação de interpretá-los à conta de anacrônicos, ultrapassados, démodé; quais sejam: recato, pudor, reserva, honra, fidelidade, compromisso. Ser reservado na vida sexual, pudico nas questões íntimas, fiel a compromissos assumidos, estável em relações sólidas e monogâmicas, fulcradas em ascendentes de afinidades ético-morais-culturais, jamais constituirá retrocesso ou apego ao passado, mas sempre indicará conduta madura e nobre, de quem já se desvencilhou dos laços mais grosseiros que prendem as criaturas humanas ao pretérico arquimilenar na animalidade.
Há quem confunda modernidade com vulgaridade e relaxamento dos costumes, da moral, da decência, esquecidos que a evolução é uma seta que aponta para frente e para cima e não para o lodo do charco, de que temos que nos deslindar, pelo processo de purificação da consciência.
É bem verdade que certas posturas moralistas são hipócritas; e as convenções humanas e aqueles que lhe são apegados demonstram exemplos sobejos de como a hipocrisia e a falsa-moral pregam peças não só em que lhes cai nas garras sinistras de mentira, mas os próprios autores do ludíbrio, que, normalmente, sentem-se senhores de vantagens pessoais que o tempo se encarrega de desmistificar e desiludir. Mas por haver médicos salafrários e advogados corruptos, vamos inferir que a Medicina e o Direito sejam redutos de corruptos, e, pior ainda: vamos concluir que devemos dispensar a assistência de médicos e advogados em nossas vidas particulares? Pois bem: por haver falos-moralistas, vamos esquecer que a moralidade, os sentimentos nobres, quais o sentimento de família, de lealdade, de ternura e devotamento aos entes queridos, bem como a abnegação a causas humanitárias e filantrópicas, e a vivência espiritual e religiosa são matéria obsoleta, pronta para o refugo da história? Será que vamos ignorar que somente isso nos distingue dos brutos, já que até rudimentos de inteligência nossos irmãos animais possuem, e mesmo máquinas do engenho humano já reproduzem?
A total liberdade pode implicar não só irresponsabilidade, como conduzir a diversas atitudes inescrupulosas e mesmo anti-éticas. Portanto, na era do “ficar”, do divórcio-relâmpago e dos guetos sexuais, imprescindível lembrar que, com todo respeito à necessidade de experiências afetivo-eróticas, de sofrer-se o divórcio em situações críticas e insustentáveis, e da necessidade provisória (dada a homofobia reinante na sociedade) de haver redutos para as minorias discriminadas, não podemos nos confiar a excessos, à guisa de combater preconceitos.
A permissividade, bem como a condescendência com as próprias fraquezas e as dos entes queridos podem conduzir as maiores realizações individuais e as mais expressivas conquistas da civilização ao caos e à ruína – a história bem o revela.
Portanto, amigo, seja disciplinado e estimule a prática da disciplina, em torno de seus passos, para que o melhor seja focado e potencializado e o pior seja elaborado e transmutado em algo construtivo e útil.
Se isto lhe soa moralista e pouco exeqüível ou realista, vamos relembrá-lo da mais crua das realidades modernas: a do mercado de trabalho. Hoje, a par da quebra de antigas estruturas de conservadorismo, vivemos numa sociedade que prima pela excelência, pela cultura, pela capacidade de trabalho e principalmente de obter-se resultados, e nada disso se consegue, ao preço de descanso e licença exagerados.
Modernidade implica a derrubada das fronteiras do preconceito, das posturas discriminatórias, da marginalização arbitrária e injusta das minorias. Mas que não se confunda abertura ao novo e vanguardismo, com políticas existenciais irresponsáveis de culto à anarquia e de todas as formas de indisciplina, no desgoverno dos instintos, das paixões e das vontades pessoais, porque, ao serem adotadas tais filosofias de vida, não só sofrem os que padecem os efeitos do raio de influência dos estróinas, mas mormente os próprios “liberados”, que atraem, para si e para sua linha de destino, as forças da entropia, do mal e do nada… devastando todas as possibilidades pessoais de ser útil, crescer, aprender, realizar, amar e ser feliz.
(Texto recebido em 20 de fevereiro de 2005.)