Benjamin Teixeira
pelo espírito Temístocles.
Existem acrobatas do pensamento, que se supõe sempre certos em seus raciocínios, esquecendo-se de que fazer malabarismo com precisão não significa conhecer física em profundidade.
Conhecer jardinagem com primor não torna apto alguém a dirigir uma operação de agricultura industrial, tanto quanto ser marinheiro experiente não ensina nada a respeito de engenharia naval.
A habilidade extrema em uma área, tanto pode ajudar como criar sérios problemas, se a mente que a porta não possui, antes de tudo, bom senso e perspicácia para discernir sutilezas e não se meter onde não pode, com a segurança presunçosa e infantil da criança que se atira do alto de um edifício, certa de que é superman.
Reflita, amigo, sob a real extensão de suas capacidades e conhecimentos. Não há ser humano que não cometa, em alguma medida, esse erro da perda do sentido de proporções e de localização, identidade e substância do que é e do que pode fazer. Sumidades da ciência costumam se dar ao luxo de expender opinião sobre filosofia e religião, tanto quanto grandes experts em um departamento do saber, enlouquecem em sua vaidade e se sentem à vontade de transbordar para campos que nada têm a ver com o seu. E aqui falamos das sumidades.
Ser um generalista exige cultura enciclopédica e um profundo senso de lógica, filosofia e religião. A maioria esmagadora dos indivíduos, treinada pelo sistema acadêmico a serem especialistas, e não tendo suporte de conhecimento, inteligência e bom senso para fazer incursões nas colocações de amplo sentido,ousa fazê-lo, não só na vida privada, como em conversas de botequim e, pior que tudo: na vida profissional, quando não no magistério, induzindo incontáveis outras mentes a se viciarem em suas óticas distorcidas. Os grandes erros sobrevêm, e eles estarão a se lamentar, pelos fatores complexos e pelos motivos ocultos, quem sabe o olho grosso dos invejosos, pelo fracasso que somente a eles mesmos devem imputar responsabilidade
Muita gente apresenta sua visão canhestra de assuntos essenciais, como a maior pérola do saber, aos filhos, por exemplo, na certeza de que passam o melhor do mundo em termos filosóficos, favorecendo graves erros de rota na existência de seus rebentos, após terem feito o mesmo em suas vidas.
Nunca presuma já saber suficientemente a respeito de nada. Leia sempre. Ouça sempre. Consulte-se sempre. Avalie depois. Medite consigo mesmo. Mas nunca feche as portas da mente à incansável busca de novos conhecimentos e maneiras diferentes de abordar, interpretar e concluir dentro de uma temática. Seja sensato e reconheça os limites muito estreitos da mente humana e, sobremaneira, da sua mente. A humanidade, como coletividade, é capaz de prodígios, mas um único ser humano, quase sempre, pode muito pouco sozinho. Confie menos no seu ego. Confie mais na Humanidade, confie mais na sabedoria dos grandes gênios: foi ela que constituiu a civilização complexa em que você vive. E, por fim, confie mais em sua consciência, após auscultar tudo externamente que puder, para tomar a decisão final por um caminho, sempre que necessário. Confiar no ego e na própria consciência é a grande diferença entre ser sábio e presunçoso. Confiar no ego é julgar-se o parâmetro do saber. Confiar na consciência é controlar a abertura da janela da mente para a luz do dia das novas informações e reflexões, conforme a própria capacidade de suportação à luz.
Não passe por ridículo, no picadeiro da vida. Se você é acrobata, restrinja-se a isso, ou passará vergonha como palhaço ou, muito pior, porá a vida em risco no trapézio sem redes das grandes iniciativas sem retorno…
(Texto recebido em 14 de novembro de 2001.)