Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.



Queridas amigas da condição feminina:

O dia da mulher é o dia da exortação a ativarmos e desenvolvermos nossa consciência feminil, como sentido de responsabilidade no concerto social e não apenas como disposição a reivindicações políticas, embora justas e necessárias.

Alguém aventaria que não deveríamos ter o “dia da mulher”, como não há o “dia do homem”, isso indicando, subliminarmente, um preconceito sorrateiro que se traveste, hipocritamente, de culto ao que despreza. Somos de convir, porém, que assim como não precisaria haver o dia do Natal, porque Cristo deveria nascer todos os dias em nossos corações e, principalmente, em nossos atos, mas carecemos da data, como motivo de reflexão justa, o mesmo diríamos para a questão da mulher, que ainda não prescinde de tais estímulos da convenção, dado o baixo nível de consciência cultural da importância da mulher, no sistema social de todo o globo, como modelo de ética, decência, responsabilidade, organização e eficiência, num mundo do “jeitinho” masculino, da “esperteza” masculina, dos precários níveis de ética e de consciência social e espiritual que, ainda, no atual patamar evolutivo do planeta, caracteriza expressiva parcela de nossos companheiros encarnados em corpos de homem.

Outras exortações temos feito, no correr dos anos, às prezadas companheiras do exercício da verticalização feminina, em contraposição à horizontalidade masculina (*). Mas nunca será demais lembrar que, além de hoje assumirmos papéis antes delegados exclusivamente aos nossos pares do outro sexo, continuamos com a responsabilidade, porque com a maior aptidão, às funções nobilíssimas – e por que não dizer muito mais nobres que as deles, nossos filhos-homens – de intuir, compreender, conciliar, integrar, gerar filhos, amamentá-los e criá-los, e, sobremaneira, favorecermos a extensão do amor, no sentido do próximo e na direção de Deus, tão mais vocacionadas, como somos, à vida espiritual e religiosa. Somos nós que, levando todo este espírito de cooperação, de grupo, de tribo, de clã espiritual, favoreceremos o fim definitivo da loucura coletiva e arquimilenar (e masculina) das guerras, bem como da profunda e extensa violência (nada mais masculino) levados a efeito contra nossa mãe-Terra.

Eles precisam aprender tudo isso que nos é tão fácil, porque apanágio de nossa natureza feminina. Entrementes, nunca será demais dizer que, se eles devem aprender, nós jamais deveríamos supor correto abandonar o nosso posto de serviço, revoltadas por eles não fazerem tanto quanto nós, nos campos de nossa habilidade maior. Não se pode cobrar de sistemas bio-psíquicos diferentes dos nossos (e, francamente: mais primitivos) o que, para nós, é simples, por assim dizer, “secreção psíquica”, tais como: a facilidade de falar de sentimentos, de nos devotar integralmente à prole, de agir com engajamento profundamente moral e espiritual no trabalho e o desejo de ser útil ao próximo e de servir a Deus.

Claro que um homem maduro e desenvolvido apresentará todos estes atributos, e até muito acima da média feminina do planeta. Refiro-me, porém, à massa; e imprescindível, para não ferirmos princípios básicos de bom senso e lógica, considerarmos que, se há os que fogem à regra, não podemos transformar a exceção em obrigação da maioria, pois que, simplesmente, estaremos nos condenando à frustração. Homens, na Terra, por exemplo, não são, de um modo geral, românticos, nem sensíveis, nem amáveis, nem doces, nem adoram falar da relação que travam conosco. Por isso, devemos, serenamente, como mães lúcidas e judiciosas, mestras conscienciosas e pacientes, conduzi-los a dilatar todos esses potenciais, mas respeitando-os em suas limitações naturais, tanto quanto não nos sentiríamos bem se eles nos coagissem a jogar partidas de futebol com ardor, ou ler artigos sobre economia e política com o mesmo gosto com que eles o fazem. Devemos agir com energia e justiça, mas sem esquecer a paciência e a compreensão sábia da professora-mãe que conduz filhinhos-alunos em área nova de seu saber e sentir.

Sei que, para algumas de nossas leitoras, poderei parecer sexista, e estar reforçando preconceitos e cristalizações culturais no campo do patriarcalismo. Entretanto, para aquelas que se inflamam, pediria um pouco de isenção ante meus apontamentos, já que, aqui, falo com a voz da experiência, da mãe mais velha, da anciã do grupo, ao dizer que, de fato, para atingirmos nossos objetivos difíceis de tirar o máximo de nossos filhos, maridos, pais, irmãos, amigos e colegas de trabalho, quando não de estranhos com quem eventualmente interajamos, teremos que ser suficientemente maduras e inteligentes para reconhecer seus limites e, à guisa de protestar e reivindicar direitos nossos, não acabemos por neutralizar nossas chances concretas de melhorar nossa relação com eles, e, principalmente, ajudá-los a aproximarem-se de nossas conquistas no campo do sentimento e da intuição, tanto quanto eles nos têm auxiliado, século sobre século, a nos aproximarmos deles, na gleba do pensamento e da ação.

(Texto recebido em 6 de março de 2005.)


(*) Belo conceito de André Luiz (por Chico Xavier), na metáfora de o casal constituir um ângulo reto, no qual o homem estaria simbolicamente representado na reta horizontal; e a mulher, na reta vertical – respectivamente: funções de sobrevivência no mundo e de conexão com os planos mais altos de vida.

(Nota do Médium)