Benjamin Teixeira
pelo espírito Demétrius (*2).
No estudo da complexa teia de vetores psíquicos que constituem a mente humana, em inter-relações intrincadas com os corredores inextricáveis de ocorrências aparentemente fortuitas do mundo exterior, podemos enunciar a presença do acaso mítico.
Diferentemente de sincronicidade, embora muito próximo de seu conceito, o acaso mítico não traz propriamente um significado profundo, mas apenas uma coincidência superficial de conteúdo entre os elementos sincrônicos. Poderíamos até dizer que o “acaso mítico” é uma espécie da generalidade “sincronicidade”, mas sem o tom grave de uma grande ocorrência fenomenológica, ou, quiçá, o reverso: um grande e humilde fenômeno, concomitantemente, do Criador.
Explicando-me melhor: a sincronicidade, de uma forma geral, parece transmitir uma mensagem. Algo é dito através dela, seja no sentido de afirmar, negar, interrogar ou provocar. Já o acaso mítico, pela sua feição de aparente despropósito, parece-se mais com uma gargalhada do Cosmo ou uma piscadela da Vida do que propriamente com um oráculo. Não por “acaso” – sem querer ironizar, mas já mergulhando no clima lúdico e leve do acaso mítico – costuma ele fomentar risos entre aqueles que o percebem.
Se alguém vem abordar um tema idêntico a uma grande preocupação minha, assim fornecendo-me mais dados ou reflexões novas, favorecendo-me perspectivas e inspiração diferentes, estou sendo agraciado por uma sincronicidade clássica. Se, todavia, estou me lembrando de “Paullete Pink” (*3), sem razão aparente, e um programa de rádio toca a música tema de “A Pantera Cor de Rosa”, no meu automóvel, estou sofrendo a ocorrência de um “acaso mítico”, e posso me ver rindo gostosamente, sozinho, no meu veículo, em pleno trânsito pandemônico de uma metrópole.
Alguém poderá dizer que o acaso mítico tem um significado maior, e, nesse sentido, concordamos: é mostrar-nos que a vida não deve ser levada muito a sério (como quando estamos infernizados no tráfego, no caso do exemplo acima), que devemos nos divertir, que urge adotarmos um prisma mais lúdico da vida, que tudo vai acabar bem, que tudo já está bem, mesmo que não o notemos claramente, e, principalmente, que Alguém de muito bom humor vela por todos nós, Lá de Cima.
O acaso mítico, porém, num sentido profundo, denota como a mente humana se espraia e se interconecta com tudo à sua volta, de modo multidimensional e extenso, como jamais apreenderemos a totalidade de suas estruturas e de que forma liga-se ela à “realidade externa”.
Sem, entretanto, concordar com a visão panteísta dos filósofos orientais, não defendo a tese de que a identidade humana, como todas as formas do mundo físico, constituiria uma ilusão, e que apenas o Grande Fluxo subjacente de propósito e vida existiria. Apesar de compreender a personalidade como construção provisória do ego, num dado momento de evolução de um indivíduo, não podemos negar a existência do núcleo de ser e consciência que cada ser humano representa. Creio, numa ótica panenteísta, que o Todo está nas partes, sem anular-lhes a existência. Trata-se de um paradoxo. E somente a presunção humana justifica o desejo de pretender compreender o incognoscível. Não percebem – esses néscios empavonados de erudição balofa – que uma das grandes alegrias da vida é reconhecer sua indevassável profundidade e incomensurável abrangência, pelo que preservamos o assombro ante sua magnífica grandeza. Quem se supõe ou age como se carregasse todos os enigmas da vida solucionados não é sábio: mas um grande tolo, que nem de longe suspeita o ridículo a que se sujeita, na ótica de quem é, de fato, mais lúcido.
Está tudo bem, sempre. Podemos relaxar, em paz, confiando em Deus, enquanto, paradoxalmente, mantemo-nos vigilantes e empenhados, no cumprimento dos deveres que a consciência e a intuição nos apontam. Eis o mistério de viver…
O acaso mítico fala das gargalhadas de um Grande Truão Cósmico que nos diz, a cada curva do caminho: “Divirtam-se e sejam felizes, séria e responsavelmente. Eu sou um Grande Festeiro do Universo. Criar é festejar!”
(Texto recebido em 28 de maio de 2004.)
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(Nota do Médium, na interface deste site)
(*2) Demétrius é um grande psiquiatra e psicanalista desencarnado, a quem a orientadora espiritual Eugênia, o grande guia do Projeto Salto Quântico, em respeito à sua grande cultura e sabedoria psicológicas, chama de “Dr. Demétrius”.
(*3) Famosa “Drag Queen” brasileira.
(Notas do Médium)