por Benjamin Teixeira
Há exatos 62 anos, uma tragédia de proporções sem precedentes aconteceu, constituindo-se um sinistro marco na história da humanidade: nos dias 6 e 9 de agosto de 1945 eclodiram, respectivamente, as bombas de Hiroshima e Nagasaki, que introduziram nossa espécie na macabra Era Nuclear.
Num átimo, 70 mil vidas foram ceifadas e 200 mil, a médio e longo prazos, morreram, vitimadas por consequência de queimaduras e radiação.
Poucos anos depois, começaria a corrida armamentista nuclear, com as duas superpotências polarizadas da época – os EUA e a extinta URSS – competindo pela supremacia no poder de acionar o Apocalipse, num dos movimentos mais diabólicos que a humanidade terrícola pôde viver. Por mais de uma vez, esperou-se o Armagedom, com destaque especial para a crise dos mísseis de Cuba, em 1962.
Em novembro de 1985, o mundo assistia, aliviado, ao famigerado aperto de mão entre Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, evento que deu início a um processo histórico de desmanche da – como ficou conhecida – Guerra Fria, que teve dois pontos altos: um em novembro de 1989, com a Queda do Muro de Berlim; e outro em 1991, com o esfacelamento da antiga União Soviética.
Mas estaríamos seguros agora? Paquistão, Coreia do Norte, Índia, Irã – para citar os mais falados no momento –, inúmeras nações semisselváticas correm no processo de militarização nuclear. Com o fanatismo islâmico em vigor (e expansão) e as injustiças progressivas geradas pela nova ordem econômica internacional, que podemos esperar do nosso amanhã?
Os ecossistemas, por outro lado, acossam-nos, ameaçando-nos de destruição em massa, igualmente. Gênios satânicos – ou, numa linguagem mais laica: sociopatas brilhantes – produzem, neste instante, eventualmente (por uma dedução lógica, em função do acesso fácil ao conhecimento necessário para tanto), armas biológicas que podem pôr fim à presença de nossa espécie sobre a crosta do planeta, talvez mais eficientemente que as duas outras espadas de Dâmocles supracitadas (a nuclear e a ecológica) que oscilam rente à glote da humanidade.
O que esperar? Como resolver? Quem nos salvaria? Iniciativas políticas? Mobilizações artísticas de grandes vultos populares? Campanhas intensas (e agressivas, provavelmente contraproducentes) de democratização de povos semibárbaros? Creio que não seja tão difícil perceber que todas essas alternativas – não só isoladamente, mas mesmo operando em conjunto – são inócuas para deter nosso resvalamento célere rumo à goela sanguissedenta do abismo…
Sem dúvida, a abordagem transdisciplinar que, considerando todos os domínios etiológicos fundamentais da complexíssima contingência planetária, propicie um ataque multidimensional ao problema global, fazendo-nos remontar às matrizes da crise, de modo a desmontar a geratriz do cataclismo final, constitui um padrão de lucidez indiscutivelmente necessário para um combate efetivo a esta atual quadra potencialmente terminal de nossa história. Contudo, somente se procurarmos mais profundamente a causa essencial desta conjuntura sombria: a desconexão de indivíduos e coletividades, em relação ao lado numinoso de suas psiques – o estrato transcendente, espiritual da espécie –, será possível resgatarmos, da beira do precipício, os patrimônios inapreciáveis da civilização.
As neurociências não deixam espaço a dúvidas. Setores de nosso cérebro, como a região orbifrontal direita (lóbulo temporal direito) ou o lóbulo parietal esquerdo, são intrinsecamente vinculados a experiências místicas, mediúnicas, espirituais. Fomos biológica ou geneticamente programados para a vivência religiosa – na melhor acepção do termo. Temos uma necessidade, por assim dizer, física de Deus. Não há como fugir à nossa natureza, ou a destruiremos, e a tudo em nosso derredor, já que o “God Spot” ou “God Module” – como um desses departamentos do tecido cerebral tem sido nomeado por proeminentes neurocientistas – operará fora de sua função apropriada, projetando o sentimento de adoração para outras dimensões da realidade, que não merecem nem podem assumir a posição de Deus em nossas vidas, dando origem ao que biblicamente foi conhecido e condenado como “idolatria”.
O dinheiro, o sexo, o poder, a tecnologia, a ciência e até mesmo outros domínios e valores mais espirituais da existência, como a família, a igreja, o partido político e o Estado, podem tomar o lugar do Criador e arruinar com tudo de bom que tais ferramentas para o bem-estar e o progresso humanos poderiam fazer de útil e positivo para cada um de nós, em particular, e para todos, como coletividade.
Assim, o materialismo e o ateísmo acabam por prestar um desserviço tão grave e perigoso (se não muito mais sério e potencialmente devastador) quanto o fanatismo religioso, porque os que fogem de refletir sobre o espírito e de escolher conscientemente sua forma de vivência religiosa acabam por experienciá-la de modo involuntário (ou seja, regido pelo inconsciente) e, portanto, altamente destrutivo para o grupo de que são partícipes. Remontemos rapidamente para o que aconteceu à época do nazifascismo em alta ou do comunismo stalinista, e teremos uma pálida noção do a que estamos aludindo.
É preciso agir agora, sistemática e persistentemente. Oração, esclarecimento espiritual com respeito à ciência, prática da caridade em todas as suas multifacetadas manifestações, exercício da solidariedade, do perdão, da fraternidade sem fronteiras, além de todas as barreiras de preconceitos, limitações ou fraquezas humanas.
É hora de suspendermos, de uma vez por todas, nossa tendência mesquinha e estúpida de procurar por culpados fora, a fim de lançar-lhes o dardo de nossa fúria infantil. Personalidades genuinamente maduras assumem a própria responsabilidade, no processo de tomada de consciência de qualquer questão a ser abordada e resolvida, e partem, imediatamente, para providências práticas de solução da pendência.
Façamos, cada um de nós, o que nos compete, ainda que seja apenas um pouco mais de paciência com o chefe atrabiliário, de carinho com a criança de tenra idade sob nossos cuidados, de compreensão e gentileza com colegas de trabalho ou companheiros de desporto, lazer, política ou religião.
É hora de abolirmos, definitivamente, o vício falastrão da crítica vazia e circular, da ira atabalhoada e histérica, da fuga ao próprio dever, da procrastinação do que se pode e se deve fazer de bom…
Unamo-nos à Divindade e Seus Representantes, ao molde das terminologias ou metodologias de comunhão com Deus que desposemos, conforme nossas ideologias e idiossincrasias filosófico-religiosas, mas façamos isso agora. Concretizemos, larga e intensamente, com incansável perseverança, nossos ideais de serviço amoroso ao próximo, desde o reduto do lar até a via pública.
Urge salvarmos a Terra… agora… ou, talvez, nunca mais…
(Texto redigido em 7 de agosto de 2007)