Preparativos

Aracaju amanheceu chuvosa, na sexta-feira 18 de julho de 2008. Fiz breve pausa no trabalho, às 5h35, para aquecer, num pratinho de sobremesa, uma fatia de lasanha preparada por amiga muito querida. Introduzi a leve refeição na maravilha moderna que tanto nos facilita a operacionalidade do dia a dia doméstico e por que agradeço a Deus com frequência: o forno de micro-ondas.

Nossa querida irmã mais velha e orientadora espiritual Eugênia-Aspásia, que habitualmente aproveita momentos de pausa entre atividades para conversar comigo1, definiu linhas-mestras do que aconteceria logo mais: um transe psicográfico avançado que me exigiria o afastamento mental do plano físico – algo semelhante ao desdobramento do perispírito, fenômeno paranormal comumente
conhecido por projeção da consciência ou viagem astral, só que adstrito ao domínio da psique, sem envolver, direta e integralmente, o corpo astral.

Tomei então algumas providências que favorecessem esse “alheamento” produtivo ou “rapture” (arrebatamento ou êxtase) – eis um dos termos anglofônicos que Eugênia utilizou nesta madrugada, inclusive na redação (em parceria comigo) do artigo “Contemplando o caos na própria existência”2, que, por sinal, explicita o motivo de sua “animação” com o inglês (risos).

Passava das 6h, quando terminara de lavar as mãos e escovar os dentes, após o breve “repasto” – permitam-me o trocadilho conceitual, porque, apesar de relativamente frugal, pelo diminuto da porção, senti-me perfeitamente satisfeito.

Depois da prática do Evangelho³, que realizo à 1h com meu querido esposo⁴, costumo atravessar as madrugadas isolado neste ambiente amplo, composto por duas salas conectadas que virtualmente se somam ao panorama de parte do paredão de espigões da capital sergipana, o que, dilatando-me a sensação de liberdade e leveza, muito me ajuda a relaxar e a me concentrar numa espécie de retiro diário para meditações, orações, psicografias, estudos, respostas à correspondência eletrônica etc.

Sob o manto da noite, enquanto a maioria esmagadora dos(as) mortais saudáveis e lúcidos(as) – não sei se me enquadraria em uma das categorias, muito menos nas duas (risos) – usufrui de seu merecido período de repouso, amiúde os telefones não tocam nem surgem emergências a resolver, de sorte que, não havendo perigo de eu sofrer interrupções no “estado de fluxo”, posso melhor me dedicar ao campo “invisível” da Espiritualidade e do cosmo interior, produzindo com maior qualidade e profundidade, à proporção que as horas da madrugada suavemente avançam.

Fechei a porta de vidro que dá acesso à varanda do apartamento do 11º andar do edifício em que moro, num bairro recém-construído na pequena metrópole de quase um milhão de almas encarnadas, em sua área metropolitana, e acionei o aparelho de ar-condicionado.

A temperatura estava agradável, no inverno nordestino – que raramente desce de 20ºC –, mas cerrei também as persianas em seguida, por várias razões: 1) criar uma continuidade na difusão da luz, em ascensão com o correr da manhã; 2) bloquear o ruído externo dos veículos, que começava a ficar um tanto incômodo⁵; 3) garantir que a refrigeração de ar, com o termostato ajustado em amenos 22ºC, mantivesse a homogeneidade da temperatura no espaçoso recinto.

O conforto das condições físicas estáveis tinha um propósito paradoxal: auxiliar-me a esquecer que elas existiam… Assim, desvencilhando-me parcialmente das limitações corporais e abstraindo-me ao máximo da dimensão material de vida, ser-me-ia possível adejar, mais fácil e livremente, na direção do Reino do Espírito, para atender a uma solicitação do venerando guia espiritual, que já me adiantara a grave incumbência a que nos consagraríamos.


Arrebatamento e estupefação

Em companhia de Eugênia, que me conduzia à distância, sentei-me em posição eréctil diante do laptop e comecei a digitar, na natural velocidade de quem tem hábito de escrever diariamente ao computador, há quase quinze anos.

Percebi-me logo sendo tragado pelo poderoso psiquismo da ínclita preceptora, que me transportou, mentalmente, à magnífica Athenas Mística⁶, onde nos encontramos praticamente todos os dias, para que me sejam passadas diretivas gerais atinentes às funções e atividades sob minha responsabilidade, na liderança de nossa Instituição e na orientação espiritual das centenas de pessoas que me procuram, semanalmente, e dos milhares (quiçá milhões) de telespectadores(as) que acompanham a veiculação de nosso programa de TV em rede nacional – o mais antigo da televisão brasileira, na temática “Espiritualidade universalista”, continuamente no ar desde 1994.

Lá estava a preclara mestra, inalterável em sua distinção solene e encantadora. Ela sempre meneia a cabeça, contrariada, quando lhe faço essa ordem de referência. Sentada em seu “trono de pedra”… Ela invariavelmente me corrige: “Poltrona, meu filho, tão só uma poltrona”, ao que respondo: “Realmente, eu deveria ter dito ‘altar’ – você está acomodada no trono do altar da deusa Palas Athena”.

Ela sorri, complacente e resignada, como quem ouve um destempero carinhoso do filho pequenino e atrevido, que aprende a balbuciar as primeiras palavras e já se sente à vontade para emendar a mãe anciã, no uso fluente de um vernáculo complexo. A metáfora é apropriadíssima, tendo em vista o abismo evolucional que me separa da sábia Aspásia de Mileto⁷.

O colóquio afetuoso e íntimo seguiu-se entre nós dois.

(Eugênia-Aspásia) – Por favor, tome seu assento, ante mim.

Sentei-me, algo embaraçado, pela grandeza do que estava por ocorrer.

(EA) – Você sabe a que veio hoje, não?

(Benjamin Teixeira de Aguiar) – Sim, sei. Aguardava por isso a semana inteira. Estava até um pouco apreensivo, pela demora em acontecer, pois já anunciamos, a seu pedido, que seria levada a público, na palestra do próximo domingo, 20 de julho, a Mensagem que Maria Cristo enviaria à humanidade terrena, neste ano de 2008.

Desviando do tópico de minha ansiedade relacionada à “demora” na recepção da prometida Epístola Mariana, Eugênia saltou para um comentário elucidativo:

(EA) – Gostei da forma como você se expressou: “neste ano” e não “para este ano” de 2008. As Falas de Nossa Mãe Maior inalteravelmente apresentam conotações intemporais e transcendentes. Portanto, são de interesse permanente e se aplicam a quaisquer épocas e povos, ainda que se submetam, inexoravelmente, à filtragem mediúnica de representantes encarnados(as) e suas limitações conceptivas, culturais e psicológicas, que sempre imprimem no conteúdo transmitido o colorido de sua circunstância histórica e social.

Por outro lado, a própria Missivista adapta Seu Discurso aos potenciais evolutivos de cada coletividade destinatária, de acordo com tempo e lugar. A despeito disso, todavia, qual “Axis Mundi” ou “Anima Mundi”⁸, Ela necessariamente contempla, dalgum modo, todos os evos e culturas do futuro, assim como os textos sagrados das arquimilenares tradições espirituais da Terra inspiram, século sobre século, milênio sobre milênio, homens e mulheres, governantes e nações a se alinharem aos Parâmetros da Eternidade…

(BTA) – Felicito-me por isso. Estou às ordens.

(EA) – Mas não será propriamente uma Carta que psicografaremos, em cooperação sinérgica. Não se trata de uma Missiva no sentido convencional do termo – se é que podemos algo qualificar como convencional em nosso trabalho.

Eugênia soltou uma risadinha silenciosa, balançando o tórax, elegante e levemente, como lhe é típico em instantes de descontração.

(BTA) – Ah, não?

(EA) – Não. Você falará diretamente com Maria… Mais que isso: entretecerá um diálogo com Ela, não obstante a necessidade de minha intermediação para tanto.⁹

(BTA) – Eugênia, você sabe que isso é um absurdo para mim, como soará pouco crível para muitos(as) de nossos(as) leitores(as) também! Não recrimino qualquer um(a) que considere inadmissível a possibilidade de eu ser canal de um Comunicado dessa envergadura ou, pior, objeto de uma Interlocução Pessoal com o Cristo-Mãe. No meu entender, isso está entre o surreal e o desarrazoado!…

(EA) – O ego e seus disfarces… – retorquiu Eugênia, com um sorriso indulgente, em tom dolente e quase arrastado, pronunciando sílaba a sílaba. – Primeiro, você está impondo limites a um Ser incognoscível à inteligência humana. Ela pode palestrar com quem bem quiser, no momento em que julgue oportuno, sem precisar dar satisfações a ninguém e tampouco se sujeitar a conceitos estreitos de realidade e possibilidade, espiritualidade e fé. Depois, está preocupado com o que dirão a seu respeito, no desempenho deste honroso serviço à Mãe Excelsa da humanidade.

(BTA) – Sim, preocupo-me, porque isso pode depor contra nossa Causa, “queimando” a parte boa da mensagem que divulgamos.

(EA) – Depor contra a Causa do Bem: a coragem da fé corajosa que leva o indivíduo a se expor pelo Ideal? “Parte boa”, aquela que se presume ter sido apreendida em sua totalidade? O que pode não ser bom do que vem de Cima? Seria o que não foi compreendido? O que agora você avalia como “ruim” é justamente a melhor parcela da iniciativa, já que o propelirá a um nível superior de entendimento, incitando-o a tomar uma perspectiva mais elevada, que abarque os significados construtivos ulteriores dessa experiência.

(BTA) – Desculpe-me, Eugênia, mas insisto em meu ponto de vista. O que é pouco razoável parece inconsistente. Creio que a relação custo-benefício da operação não será compensatória: o efeito colateral lesivo pode ser muito maior que o eventual benefício carreado…

(EA) – “Conceitos, conceitos, conceitos… Ah, o intelecto humano, prenhe de interrogações, confusões e contradições!…

Católicos(as) pregam a conversação direta com Deus, na Pessoa do Espírito Santo; evangélicos(as) protestantes insinuam confabular diretamente com a Figura de Jesus, na condição de Emissário do(a) Altíssimo(a); no Oriente Médio, religiosos(as) só se dirigem a Alá e se supõem por Ele diretamente influenciados(as); na Ásia Meridional, entidades encarnadas são divinizadas como avatares, que literalmente, segundo a concepção daquelas antigas e respeitáveis culturas, qual a hindu, constituiriam a Própria Divindade, materializada em forma humana.

Jesus asseverou, nos Evangelhos clássicos, que onde dois(duas) ou mais estivessem juntos(as), em Seu Nome, far-Se-ia Ele presente.¹⁰

Por que tanta dificuldade em aceitar a ideia de que lhe posso viabilizar uma interação com Nossa Senhora, se você mesmo é porta-voz d’Ela, perante seus(suas) irmãos(ãs) em devoção, e tem evidências sobejas de que fui, em minha última reencarnação, a vidente francesa¹¹ que contactou a Imaculada Conceição?”

Fiquei sem argumento, atônito… Padecendo dores agudas na coluna¹², interrompi a concentração por alguns instantes, para empertigar o corpo, espreguiçando-me no afã de aliviar a algia intensa que me trespassava o tronco. Tomei um gole d’água, dei alguns passos ao redor da mesa e, por fim, voltei à máquina com tela cintilante, reiniciando a digitação.

Ato contínuo, fui trasladado psiquicamente mais uma vez, reencontrando-me com nossa adorável, terna e piedosa Eugênia, que me aguardava serenamente, com o mesmo imperturbável sorriso e percuciente olhar:

(EA) – Vamos deixá-l’A esperar mais tempo?

(BTA) – O quê? O diálogo seria para agora? Ela estava esperando, enquanto eu “ciscava” nessa discussão?!…

Eugênia meneou a cabeça, em sinal afirmativo.

(BTA) – Meu Deus, perdoe-me, Eugênia!… Eu, com todo este blá-blá-blá!…

(EA) – Gerar alguma receptividade, em sua mente, ao que se lhe afigurava bizarro demais, era importante, para que não comprometesse seriamente a captação da Mensagem.

(BTA) – “Era” importante? “Afigurava-se-me” bizarra? Por que o tempo pretérito? Continuo achando tudo isso pouco verossímil! Estou só cogitando a possibilidade… E você já lança o “problema” ao passado?

A esta altura, uma Luz Branca de intensíssimo brilho começou a irradiar-se em torno e acima de Eugênia, ofuscando-lhe, quase que por inteiro, os traços fisionômicos. Emocionado, tentei-me pôr de joelhos, mas não consegui… Inclinando-me a nova tentativa, vi-me impedido.

Foi quando a mais doce, bondosa e soberana Voz de Mãe que se consiga conceber ecoou de Cima e/ou através da mentora espiritual – não dava para definir ao certo –, como se ela e todo o halo gigante de Luminosidade Solar se houvessem convertido numa caixa de som psíquica.

O semblante de Eugênia estava mais radioso que nunca, evidenciando o êxtase em que imergiu. Lábios estáticos, olhar como que perdido no infinito, mas me fitando diretamente no centro dos olhos, qual se me arrebatasse a alma, ela me retransmitia o magnânimo Fluxo Mental de Maria…


Diálogo Sublime

(MARIA) – Acalma-te, filho meu¹³. Não é necessário que te ponhas genuflexo. A genuflexão deve acontecer no imo da criatura, em reverência ao(à) Criador(a), retratado(a) na voz do próprio ideal, da consciência do dever a cumprir, do serviço a desdobrar em prol dos semelhantes…

Tive ímpetos de desviar o olhar, mas não logrei êxito. Estava completamente magnetizado pela iridescência indescritível que, em espetacular Epifania, se manifestava no vulto angelizado de Santa Bernadette Soubirous¹¹.

(MARIA) – Quero que me formules três perguntas. E, após respondê-las, aditar-te-ei resposta a uma quarta, que eu mesma devassarei em teu universo interior.

Os pensamentos vinham-me à tona, antes que pudesse ponderar se era ou não ousadia demais me dirigir a Ela…

(BTA) – Mãe Amantíssima, não sei se estou preparado para fazer os questionamentos mais adequados ao interesse coletivo, mas arriscarei a primeira indagação, que eclode em três, interconectadas – perdoe-me também por isso… A Terra será salva? Como salvar a Terra? De que maneira o(a) cidadão(ã) comum pode colaborar para resguardar o planeta de tantas ameaças que o(a) rondam, como a corrente crise de mísseis¹⁴ e a debacle dos ecossistemas?

Concomitantemente a uma ligeira intensificação da Luz, a Voz aveludada e imponente tornou a ribombar:

(MARIA) – Já afirmei outrora e reitero: Por fim, Deus triunfará. Por fim, o Amor vencerá. Por fim, meu Coração, que representa o Amor Divino para a humanidade terrícola, vencerá. Canalizem meu Coração, individual e cooperativamente, o mais fervorosa e genuinamente possível, não importando quão precários(as) se sintam, e estarão a caminho de potencializar o socorro que presto e seguirei prestando ao mundo. Que cada um(a) e todos(as) em conjunto, reunidos(as) em pequenos ou grandes grupos que se devotem a práticas meditativo-oracionais e a ações humanitárias, repercutam-me as dimanações de paz e confiança inabaláveis na Perfeita Providência.

Exercendo o Poder Moderador Plenipotenciário, para interferir inclusive na geratriz das causas dos eventos e dos carmas globais, posso – e já decidimos¹⁵ – determinar, em Nome do Governo Espiritual da Terra, a salvação desta comunidade planetária. O Embaixador da Verdade declarou, em regímen de comunhão com Nosso Grupo: “Nenhuma ovelha que o Pai me confiou se perderᔹ⁶. A Terra não perecerá. Periclitará… Periclita… Mas não fenecerá.

Comecei a ouvir coros de uma beleza inefável, provavelmente entoados por anjos. Intuí que aproximadamente cinco corais se entrelaçavam, com destaque para vozes femininas, executando melodias de um encanto intraduzível em linguagem humana.

Inadvertidamente, a impropriedade voltou-me a espocar na casa mental e, quando dei por mim, conquanto me desagradasse disso, estava novamente conjecturando sobre o delirante de ser eu o estafeta da Mãe Crística do orbe. Eu, uma pessoa tão limitada e cheia de defeitos comuns… Toda aquela vivência não passaria de uma construção bem elaborada do meu inconsciente?…

(MARIA) – Entende, prezado amigo¹⁷, que soou, para a Terra, a hora evolutiva da compreensão de que é descabida e mesmo prejudicial a pretensão de se superar a condição humana, como um pré-requisito para a busca de conexão com Deus. Dessarte, seja num trabalho artístico, numa atividade desportiva ou até no conúbio afetuoso entre cônjuges¹⁸, poder-se-á conscientemente invocar a ideia ou a experiência da “participation mystique”¹⁹ com o Amor Onipresente.

Isso não deveria causar estranheza alguma aos(às) cristãos(ãs) da atualidade. Mister lembrar que Jesus convivia com mulheres de vida sexual “irregular”, quanto com homens de caráter duvidoso no trato com o erário romano, chegando a asseverar que meretrizes e publicanos entrariam no Reino dos Céus antes de Seus(Suas)¹³ discípulos(as).²⁰ Considerarei essa como tua segunda questão.

Tomei um susto e logo me vi terrivelmente decepcionado comigo mesmo, por haver desperdiçado, com assunto tão “meu”, uma oportunidade de interrogar a Autoridade Maternal Máxima de nosso rincão estelar… Antes que pudesse me recompor, o Trovão de doçura e fortaleza moral ressoou, pujante, e a impressão agora era de que as reverberações não provinham somente das adjacências e do próprio psicossoma de Eugênia, que funcionava como intermediária da Mãe Todo-Amor, mas trepidavam no salão inteiro, sobretudo acima de nós…

(MARIA) – Não, não é assunto teu, exclusivamente, estimado irmão em Cristo, porquanto essa dúvida pairará no âmago de inúmeros(as) de teus(tuas) contemporâneos(as), que merecem tê-la ao menos arrefecida, se não dirimida…

Apressando-me por não perder a última chance de fazer uma pergunta que melhor servisse ao bem geral, arrisquei articular:

(BTA) – Como conciliar felicidade pessoal e deveres espirituais? Quase sempre entendemos que há um antagonismo irresolúvel entre esses dois âmbitos da existência humana. Como solucionar essa problemática que indubitavelmente impele multidões incontáveis a sabotarem as mais relevantes realizações na seara da espiritualidade, era sobre era?

À guisa de um caleidoscópio girante que explodia em espetáculo de luz, ao derredor da médium da Mãe Celeste, a Voz maviosa redarguiu:

(MARIA) – “Sede mansos(as) como pombas e astutos(as) como serpentes”²¹. “Deverias haver depositado meu tesouro nas mãos de ‘banqueiros(as)’, a fim de que, na minha volta, ao menos me restituísses, com juros, o que é meu”²². “Não se põem remendos novos em tecido velho, nem vinho novo em odres velhos, para que não aconteça um rasgão maior na roupa, nem se rompam os odres e se derrame o vinho”²³. “Amai vosso próximo como a vós mesmos(as). Amai vossos(as) inimigos(as). Amai-vos uns(umas) aos(às) outros(as), como vos tenho amado”²⁴.

Em síntese, que cada indivíduo procure vivenciar quatro patamares de integração da psique com seu eixo espiritual, rumo à totalidade e à transcendência: 1) a integração do animal remanescente ao anjo interior, 2) a integração do ego racional-operacional ao anjo interior, 3) a integração do sistema de vida material-social ao anjo interior e 4) a ruptura de todas as barreiras de divisão, abolindo-se, definitivamente, a satânica ilusão de separatividade entre as criaturas.

Observe-se que só pode haver amor ao próximo se, primordialmente, existe amor por si próprio(a), que se revela no verdadeiro autocuidado, no respeito e atendimento às precípuas aspirações do espírito imortal que nos anima e nos constitui a essência.

Em suas expressões de completo devotamento e sacrifício, o amor consiste em corolário inelutável da plena consciência de que todos os seres são Um²⁵, num nível profundo de subjacência, muito embora suas individualidades se mantenham paradoxalmente preservadas, no processo de autoaprimoramento progressivo, ad aeternum.

Neste ponto, a Luz que circundava Eugênia e, simultaneamente, dela “se evolava” – parecia evolar-se, de fato, e não propriamente irradiar-se – já chegava a mim, envolvendo-me com ternura cariciosa… Sim, não há como traduzir doutra forma: as emanações rutilantes que transbordavam do Coração de Maria acariciavam-me a alma, pervagando-me as fibras mais secretas, de modo inenarravelmente calmante e plenificador.

Amainado o momento de enlevo, fui então trazido de volta ao ambiente espiritual, escutando-A dizer, com Sua Voz majestosa quão infinitamente amorosa:

(MARIA) – O quarto quesito, que te responderia de minha própria iniciativa, tangencia os deveres cristãos. Há muito cinismo e negativismo na presente era de relativismo cultural que permeia a civilização terrestre, mormente nas sociedades democráticas e instruídas do Ocidente.

Toldados(as) por um véu de pseudolucidez, homens e mulheres ditos(as) “de bem”, sejam profitentes de religiões ou humanistas não religiosos(as), chegam ao desplante de se distanciarem de Deus, julgando-se impuros(as) e insignificantes demais para servi-l’O(A), na pessoa de seus(suas) irmãos(ãs) em humanidade. Esquecem-se de que personalidades quase arrogantes, além de incultas ou detentoras de parco saber, para os padrões vigentes de conhecimento, moral e conduta, foram notáveis canais do Ser Supremo, em épocas remotas da humanidade, a exemplo de Moisés e Paulo de Tarso, que viveram há 3 mil e 2 mil anos, respectivamente.

Um desculpismo escapista e venal campeia na pós-modernidade, hipnotizando e castrando legiões intermináveis de inteligências avantajadas e corações valorosos, fomentando a preguiça e a covardia, a irresponsabilidade e a indiferença, afastando gente decente e sincera de seus compromissos de utilidade ao bem comum, a pretexto de uma falsa humildade e de uma racionalidade obtusa e limitante, que não condizem com o espírito de fé e devoção dos(as) autênticos(as) discípulos(as) de Jesus.

Antes de deixar a ribalta física, o próprio Cristo-Verbo profetizou que Seus(Suas) seguidores(as) operariam prodígios similares ou mesmo superiores aos que Ele realizara²⁶, preconizando, outrossim, que todos(as) pugnassem por se tornar perfeitos(as), como Deus o É.²⁷

Logo após um silêncio profundo, testemunhei-me retornar celeremente ao organismo de carne, percebendo, entretanto, que Eugênia continuava nimbada com a Luz Imarcescível. Já no estado normal de “consciência desperta” – em verdade, restrito e bisonho –, respirando a longos haustos e distendendo os dedos e os braços, ouvi a medianeira impoluta verbalizar, de longe: “Está tudo bem, meu filho! Bom trabalho.”

Desliguei a máquina e fui tentar conciliar sono, por algumas poucas horas. O dia estava abarrotado de afazeres e compromissos com pessoas. Mas, sem dúvida, o mundo, os seres, as situações, os eventos nunca mais seriam os mesmos.

Muito me gratifica, agora, o ensejo abençoado de partilhar com o(a) caro(a) leitor(a) esta maravilhosa e transformadora Vivência.

Nossa Mãe Maria de Nazaré, refletora viva da Bondade e da Misericórdia de Deus, sempre nos ampara e nos conduz, supre necessidades e inspira soluções, bastando, para maximizar tal fenômeno, que Lhe ofereçamos receptividade psicoespiritual, pela fé, pela benevolência, pelo idealismo que nutramos no coração, empenhando-nos em concretizá-los no comportamento, com perseverança e cotidianidade, ainda que em proporções minúsculas, porque o demais Ela nos proverá, segura e prodigamente.

Salve a Representante-Mor da Maternidade Divina para o orbe terráqueo, Maria Cristo, que, em Consórcio Místico com os Cristos Jesus e Gabriel, é Fonte Inexaurível de Todo Amor, Sabedoria e Poder!…

Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia (Espírito)
em Nome de Maria Cristo
18 de julho de 2008


1. De minha parte, se ela não tomar a iniciativa de me dizer alguma coisa, eu simplesmente me ponho em prece ou meditação, para renovar a atmosfera íntima, reforçar a sintonia com a Espiritualidade Maior e voltar às tarefas de minha incumbência com os “fios mais ligados” ao Alto.

2. Artigo originalmente publicado em www.mariacristo.com.br, aos 18 de julho de 2008.

3. A prática do Evangelho e o exercício meditativo-oracional por ao menos 15 minutos são disciplinas diárias fundamentais recomendadas aos(às) adeptos(as) e simpatizantes da Sociedade Maria Cristo. Vide seções “Prática do Evangelho (como realizar)” e “Dicas para orar e meditar”.

4. À época, Delano Mothé, diretor do departamento de revisão textual e editoração da Sociedade Maria Cristo.

5. O residencial de 15 andares fica muito próximo a uma rotatória em que desembocam duas grandes avenidas de escoamento de tráfego de nosso burgo crescido.

6. Cidade astral das mais elevadas esferas espirituais da Terra.

7. Vide seção “Sobre o Espírito Eugênia-Aspásia”, particularmente o artigo “Últimos 45 séculos da história evolutiva do Espírito Eugênia-Aspásia (diálogo mediúnico)”.

8. Expressões latinas que significam “Eixo do Mundo” e “Alma do Mundo”.

9. Dada a excelsitude inabordável de Sua Luz Espiritual, os Cristos não podem ser diretamente contactados por nenhum(a) médium encarnado(a), no atual estágio evolutivo da civilização terrena. Em caráter de excepcionalidade, mesmo encapsuladas em veículos de matéria densa, Catarina Labouré, Bernadette Soubirous e Jacinta Marto (esta junto a Lúcia dos Santos) lograram interagir com a Mãe Crística da humanidade, respectivamente em 1830, 1858 e 1917, graças à santidade de seus corações, supinamente alcandorados na pureza de sentimentos, em cotejo com o diapasão médio de desenvolvimento do globo. Assim, ascendendo a uma frequência vibratória que fosse compatível com a Faixa Mental a que, em contrapartida, Maria pudesse descer, estabeleceram elas a paridade de ondas psíquicas imprescindível a tão extraordinárias Comunicações mediúnicas.

10. Mateus 18:20. Os excertos bíblicos são aqui citados em sua essência e não na literalidade das escrituras sagradas.

11. Referência a Santa Bernadette Soubirous, a vidente das Aparições de Nossa Senhora de Lourdes, ocorridas em 1858. Vide seção “Sobre o Espírito Eugênia-Aspásia”, especialmente o artigo “Últimos 45 séculos da história evolutiva do Espírito Eugênia-Aspásia (diálogo mediúnico)”.

12. Simbolicamente, dores na coluna vertebral podem indicar a somatização de uma sensação de “esmagamento” provocado, por exemplo, pelo excesso de responsabilidade de que alguém se sinta investido(a). Se levarmos em conta que tais algias me são raríssimas, no meu atual estado de saúde e idade no corpo físico, essa interpretação se faz ainda mais sintomática.

13. Em respeito aos preceitos humanos de elegância e despretensão que devem nortear uma linguagem escrita mais apurada, empregam-se iniciais minúsculas para as referências à primeira pessoa do discurso, ainda que a Autora Espiritual seja um Cristo e utilize letra maiúscula como uma forma reverenciosa de mencionar outro(s) Vulto(s) Crístico(s). Não se trata, obviamente, de preconceito ou discriminação de ordem psicossexual. Se os papéis se invertessem, com um Cristo masculino na posição de Autor da mensagem e Maria na de Figura citada, a norma se aplicaria igualmente, sem qualquer embaraço. Por sinal, o próprio Nome “Maria Cristo” já constitui uma defesa veemente do empoderamento feminino e um combate permanente à misoginia e ao machismo que pervagam a cultura terrena da atualidade.

14. Alusão a testes de mísseis levados a cabo pelo Irã, para transporte de ogivas nucleares, dias antes da recepção desta Missiva Mariana.

15. A Autora Crística fala em Nome da Comunidade de Cristos que Ela compõe e representa para a humanidade terrena, razão por que, vez ou outra, a primeira pessoa do singular se alterna livremente com a do plural.

16. João 6:39.

17. Jesus Se dizia “Amigo” dos(as) apóstolos(as). Maria reproduz o padrão arquetípico e misericordioso do nivelamento “fraterno” com a humanidade, exemplificado, há vinte séculos, por Seu Filho Crístico.

18. Diversas tradições espirituais do Oriente e do Ocidente sustentam essa tese, como o tantrismo budista ou hinduísta e o “Cântico dos Cânticos” da ultrarreacionária doutrina judaico-cristã, livro que compõe a Bíblia e cuja autoria é atribuída ao rei Salomão.

19. “Participação mística”, conceito criado pelo antropólogo francês Lucien Lévy-Bruhl, a partir do estudo da psicologia de povos originários. Trata-se de uma espécie singular de fusão ou identidade entre sujeito e objeto, vinculação essa que impossibilita uma diferenciação clara entre um e outro.

20. Mateus 21:31.

21. Mateus 10:16.

22. Mateus 25:27.

23. Mateus 9:16-17.

24. Mateus 22:39 e 5:44 e João 13:34.

25. João 17:21.

26. João 14:12.

27. Mateus 5:48.