Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.


Olhar perdido no infinito, meditas, amargamente, naquele companheiro d’outro tempo, sem conseguires, apesar do mal sofrido, impregnar-te de ódio, e dizes, de ti para contigo: “Foi um louco irresponsável!” De fato, é de estranhar, num primeiro exame, que, depois de tanto receber de tua generosidade, por encontrar situação mais cômoda, tenha o maior beneficiário de teus esforços te dado as costas, agindo, para completar o quadro deplorável, como se tu fosses o mau-caráter, e não ele…

De quem, porém, amigo, são o problema, o débito e a culpa? Ele pode acusar-te de louco… Mas quem realmente está desatinado? Ele precisa construir uma realidade virtual, para que possa suportar o insuportável de continuar vivendo, a despeito de ter sido tão ingrato e injusto com o maior benfeitor de sua vida. É, portanto, compreensível que o pobre coitado te prefira ver como um tresvariado, a atirar-se debaixo do primeiro veículo na via pública, na vertigem do suicídio, por ter lançado fel ao coração que fez manar mel em sua existência, qual um rio em fluxo contínuo, ano sobre ano…

Diante de tal perspectiva, apieda-te do ex-amigo, na voragem do desespero surdo a que se confia, e ora, mais uma vez. Dia virá em que o ingrato revel despertará. E não faz idéia, filho, de quão alto será o preço que terá que pagar… Um ônus que já hoje suporta, fugindo a fixar detalhes da própria imagem refletida no espelho, nos olhos próprios em que leria, se pousasse o foco, por um átimo de segundo que fosse, na pupila aterrorizada, a inscrição: “Assassino! Assassino!” – o que são todos os caluniadores, homicidas da moral, atassalhando reputações dignas e inviabilizando o bem-estar daqueles que sustentam a muitos, psicológica e espiritualmente.

Deixa que o infeliz auto-infelicitado siga seu caminho… Não lhe vai longe o “dia do juízo”, em que terá que enfrentar o “tribunal de contas” da própria consciência, que lhe cobrará, em altas cifras, os juros do mal que te fez, sobremaneira por tanto bem haveres semeado em seus caminhos.

(Texto psicografado em 23 de setembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)