Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Parece que estarei dizendo um disparate pouco inteligente, mas o medo não deve assustar. Em outras palavras, o medo não existe para paralisar a alma, e, sim, para alertá-la de algo a que não estava atenta. Assim, todas as manifestações derivadas do medo, como os ataques fóbicos, as paranóias de perseguição e a – como modernamente tem-se chamado – síndrome do pânico não passam de degenerescências do impulso primordial de proteção de si.
O medo, para ser saudável, deve se revestir de bom senso ou conduzir a criatura nesse sentido, fazendo-a mais prudente, ponderada e tranqüila – justamente o oposto do que se costuma pensar aconteça a quem lhe sofre a influência. Visto que a origem de qualquer temor está na tanatofobia (o medo fundamental da morte), como assevera a Psicologia do plano físico, cabe considerar que “tânatos” (nos dizeres do mestre vienense de Psicanálise: “pulsão de morte”) existe para favorecer “eros” ou “libido” (por sua vez, na nomenclatura freudiana: “pulsão à vida”), que são o contraponto do primeiro, num mesmo binômio energético-psíquico, a fomentar e transformar a vida, ad aeternum. Dessarte, o medo que não compele à vida atesta que degringolou para suas expressões destrutivas, já que consistia, primordialmente, num ímpeto à edificação do melhor, à defesa de patrimônios importantes da alma, em processo de evolução, na matéria ou fora dela.
Fique atento, prezado amigo, para todas as manifestações pouco felizes de seu medo figadal da morte, porque, ironicamente, quem teme muito o decesso carnal acaba por se comportar de forma perigosa e autodestrutiva. O temor de perder a vida física revela que o indivíduo não viveu tudo que intui ter planejado para a presente encarnação. Há, obviamente, o medo instintivo e saudável, de preservação da incolumidade física, de manutenção do curso da existência biológica; mas a degenerescência dele, nos sofisticados e complexos desdobramentos fóbicos, indica uma psique com sérios desajustes. Os que estão em paz com a própria consciência, mesmo que não tenham plena convicção na imortalidade da alma, mantêm-se tranqüilos, diante da perspectiva do desencarne.
Quando se sentir paralisado de pavor, observe, num primeiro passo, se está agindo de forma intempestiva ou inconseqüente, se há algo que possa ser corrigido em sua conduta, em sua maneira de interpretar os problemas e situações vividos; se não está distorcendo o senso das proporções e priorizando o que não seja essencial para a satisfação profunda de seu espírito: os assuntos atinentes à vocação, ao ideal idiossincrático que lhe vibra no peito e inflama o coração. Pergunte-se se está realizando tudo que deve, auscultando sua consciência, pela voz da intuição, das emoções mais sutis que lhe vêm à mente, sorrateira, nos momentos de meditação e entrega… Você saberá, então, o que fazer, para recobrar a paz; e caber-lhe-á tomar, assim, todas as providências necessárias, para efetivar a mudança alvitrada nas entrelinhas de seu medo.
Os dramas psicológicos, provenientes da falta de integração da personalidade, com todos os seus níveis de consciência, seus “sub-eus” emocionais, tanto os primitivos como os transcendentes – mas, principalmente estes últimos, enfeixados no núcleo central de ser, da identidade essencial de sua alma, o seu verdadeiro Eu (denominado de “Self”, por Jung; de “Atman”, pelos hindus; e de “centelha sagrada”, pelos espíritas), que tem um propósito, um sentido para existir e agir –, podem, inclusive, se intensificar pela ação de elementos perturbadores da dimensão extrafísica de vida (“obsessores”, para os kardecistas; “diabos” ou “demônios”, para os cristãos das definições mais tradicionais de Cristianismo – fazendo, aqui, especial menção à origem etimológica do vocábulo “diabo”, de “diabolus”, verbete latino que significa: separação, cisão). Quem está separado em si mesmo, sem um alinhamento coerente com todos os subníveis de sua multidimensionalidade; quem não vive em harmonia com o ambiente, com as conjunturas sociais, com as forças ecossistêmicas e com Deus, encontrar-se-á, necessariamente, numa condição “diabólica”, sujeito a todo tipo de conturbação engendrada pelo conflito e pela incongruência intra e extrapsíquica.
Veja o medo como um convite à serenidade, à reflexão, à sabedoria, e, paradoxalmente, ao acúmulo de recursos de fortaleza e segurança. Mesmo porque, se a situação é de fato temível, mais razões ainda terá você para manter a calma, a fim de que possa arregimentar forças, mobilizar talentos e encontrar soluções criativas para o problema geratriz do receio. Ficar ansioso, ou, ainda mais: aterrorizado, só favorece o pior – justamente o que se pretende evitar –, pelo bloqueio das faculdades mais nobres de resolução e ação enérgica e efetiva, tão díspares entre si e tão eficazes: a intuição, a adaptabilidade e o autodomínio, que a racionalidade propicia. Não se render ao medo, auscultando-lhe, todavia, os conteúdos ricos sugeridos, constitui uma atitude lógica e sensata, mas, obviamente, a escolha por agir desta forma, ou se entregar ao colapso do pânico, é inteiramente sua.
(Texto recebido em 27 de junho de 2000. Revisão atual de Delano Mothé.)