Benjamin Teixeira de Aguiar
pelo Espírito Gustavo Henrique.
Você até pode achar démodé, mas, para ser feliz, impossível não incluir uma aptidão invulgar: a capacidade de suportar o tédio que medeia realizações importantes – externas ou internas – na vida de todo indivíduo. Mesmo nos aspectos mais felizes de uma existência ou no desempenho das funções mais prazerosas e vocacionadas, há elementos de fastio e desagrado, por vezes dolorosos, se é que assim podemos nos exprimir.
Esse talento pode e deve ser desenvolvido, em medida mínima de razoabilidade, por todas as pessoas, sob pena de colapsarem a operacionalidade da própria existência. A exemplo, verificamos a fuga fácil e comum nos alcoólicos e outros tóxicos, no sexo casual e vícios variados, como imergir, sem regras nem limites, na navegação eletrônica da internet ou ainda trabalhar e fazer exercícios físicos compulsivamente.
A vida é tecida em ondas de eventos, tanto psíquicos (íntimos) quanto existenciais (exteriores). E o ser humano assemelha-se a embarcação, pequena ou grande, que não pode ficar à matroca, encalhar em arrecifes ou permitir que as águas do mar adentrem seu interior, seja por perfurações no casco, seja por ondas bravias que lhe sobrevenham.
De calmarias e tempestades, entre perigos marinhos imaginários e a antiga ameaça do escorbuto, as travessias navais eram feitas. Que aprendamos, com os destemidos capitães das caravelas, a inspirar coragem e esperança em nossa tripulação metafórica – as diversas potências da alma –, a fim de que encontremos o que buscamos, quais aqueles históricos descobridores: a terra firme e fértil de um novo mundo de felicidade, realização e paz.
(Texto recebido em 14 de fevereiro de 2013.)