Procure esquadrinhar as suas necessidades espirituais (na mais ampla acepção da palavra), de molde a atendê-las, senão completa, ao menos parcialmente, todas. Não se concentre num capítulo exclusivo de suas aspirações de progresso e realização, em detrimento de outras áreas de necessidade inadiável, sob pena de se sentir frustrado, ainda que desdobrando os mais louváveis e meritórios esforços, ainda que atingindo os mais espetaculares resultados, em segmentos isolados de sua vida.

De que adianta alguém alcançar estupendo êxito profissional, deixando em ruínas a vida familiar?

Que valor teria ser feliz na experiência social, com amigos e agenda lotada de compromissos ruidosos, e ter a vida afetivo-conjugal em frangalhos?

Para que valeria ser um ás de conhecimento e inteligência, sem um pingo de maturidade psicológica, de bom senso na aplicação do que já conhece?

Haveria equilíbrio em se dedicar a gigantesca obra de caridade, relegando e criminoso desamparo os filhos que se trouxe ao mundo, em fase crítica de seu desenvolvimento, como a adolescência e a infância?

Claro que, em certos departamentos de sua existência, ficará, de certo modo, a ver navios, como se diz no vernáculo, mesmo trabalhando sempre para alcançar níveis melhores de desempenho. Entretanto, o investimento de tempo nesses setores lacunosos deverá ser contínuo, muito embora não seja grande (o contrário também constituiria atitude desajustada, como o caso do sujeito que deixa de se dedicar a área de sua habilidade maior, para, à força, tornar-se um perito no que não poderá se tornar excelente em menos que muitas encarnações seguidas de empenho, negligenciando, com isso, o que poderia fazer hoje, em utilidade pública, bem como em crescimento pessoal genuíno, no campo da sabedoria e do amor). Ignorar de todo, porém, esse ou aquele setor da alma, gera angústia e desequilíbrios inomináveis, que podem custar não só a paz e a felicidade, como ainda a saúde e a vida física do incauto que a essa omissão grave se confia.

Devote um pouco de tempo, todos os dias, à concretização do que considera essencial. Você pode achar ridículo destacar apenas alguns minutos para ler ou estudar Inglês, por exemplo, por considerar que deveria reservar expressiva carga horária diária para tanto. Todavia, na escorchante roda viva de atividades variadas que largas parcelas da população vive, como esperar poder fazer mais que um pouco sempre? Melhor fazer o pouco continuado, do que não fazer nada, à espera da oportunidade de fazer muito de uma só vez que, muito provavelmente, nunca ocorrerá. E se, de fato, tem essa certeza: de que um dia conseguirá ter tempo de sobra para fazer o que quer – o que é francamente ilusório – que tal provar a si mesmo que isso poderá acontecer algum dia, começando por extrair alguns momentos do dia para a atividade que julga capital para seu progresso e bem estar? Seria razoável esperar o futuro e circunstâncias hipotéticos, enquanto a necessidade premente grita no agora e agiganta-se para o porvir?

Diariamente:

Medite por quinze ou vinte minutos, se não pode ir ao Himalaia.

Leia por quinze ou vinte minutos, se não pode iniciar um estudo aprofundado de tudo que gostaria de conhecer em profundidade.

Dê um telefonema de dois ou três minutos, a seus pais ou outras pessoas amadas, para dizer que os ama e como são importantes para você, se não pode visitá-los pessoalmente e, quiçá, fazê-lo com mau-humor, além de raramente, pelo esforço extremo que em certas situações dispenderia para isso.

Não espere poder articular para si grandes espetáculos de realização pessoal, para se sentir inteiro com você mesmo. Não pretenda ser absoluto. Apenas completo. Isso já é desafio suficiente.

Ser o pai ou mãe perfeitos, deter o conhecimento enciclopédico ideal, passar longas temporadas em magníficos retiros espirituais no Tibet, ou ser o amigo, o homem, a mulher ou a pessoa ideais podem, de fato, constituir impossibilidades tão claras que sua frustração por não sê-los beira as raias da loucura.

Alguns minutos todos os dias, para fazer uma gentileza, uma prece, uma leitura ou dar um telefonema, por outro lado, podem parecer tão rizivelmente fáceis e simples, que dificilmente acreditaria que é isso que, primeiramente, Deus espera de você para que, depois, atinja a transcendência.

Você, nem ninguém galgará as alturas sem haver antes haver consolidado os alicerces da alma. Comece com pouco, mas faça sempre. Faça pouco, mas faça em todos os âmbitos de sua vida, e a saúde, a totalidade, a paz e a felicidade lentamente estabelecer-se-ão em sua vida, fornecendo-lhe referenciais de segurança e equilíbrio, para todos os desafios que lhe surgirem.

Gustavo Henrique (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
7 de dezembro de 2000