(cap. 4, Tomo 1, Maria Cristo)

Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

 

O ser humano tem o mau hábito de se supor desimportante. Acredita – com muita sinceridade e no seguimento do que acredita ser o bom senso e os princípios de lógica – que somente pessoas de destaque, grandes estadistas, mega-empresários ou gente influente da mídia e do mundo das artes tenha poder, de fato, para fazer grandes coisas acontecerem.

Acabei de dizer que tal inclinação decorre de um mau hábito apenas para facilitar o entendimento da questão e falar de modo mais simplificado. Entretanto, agora que expomos a questão, vamos minudenciá-la, reportando-nos às suas causas mais profundas. Precisaremos, para tanto, fazer um estudo rápido da percepção humana, dentro de nossa cultura, e de seus valores e padrões de interpretação da realidade, que levam o indivíduo a construir representações da realidade em sua mente, nem sempre fidedignas com o que de fato existe no que vamos, ousadamente, chamar de “mundo real”.

Em última análise, toda avaliação humana é falha, e, por isso, toda representação mental, também é truncada e incompleta. O fato de o reconhecermos, entrementes, ao reverso de bloquear o processo da percepção excelente, facilita a detecção dos pontos falhos no sistema perceptivo. Obviamente que sem a pretensão delirante de perseguir ou alcançar a verdade – por se tratar de uma simples impossibilidade, o “incognoscível” – mas, justamente por se partir do pressuposto de que nunca se atinge a essência original de nada, pode-se, então, buscar o exeqüível: uma aproximação o mais fiel possível da realidade, sem a presunção de supor percebê-la com precisão absoluta – o que é óbvio ser uma ilusão infantil, para qualquer pessoa relativamente sensata e esclarecida, sobremaneira após as revoluções paradigmáticas encetadas em nossa cultura pela Física Quântica, e seu famigerado “princípio da incerteza”, cunhado por Karl Werner Heisenberg.

Este mito da busca da verdade externa perfeita – e da possibilidade de se executar tal missão absurda – é decorrência de um grande modelo representativo da realidade que chamaremos, aqui, de paradigma materialista-cientificista. Outros autores deram nomes diversos, mas preferimos essa nomenclatura diferenciada, em função de chamar atenção para tópicos de sua etiologia que consideramos capitais, sintetizados na crença de que a matéria é a realidade última das coisas e de que a ciência é capaz de abordar todas as questões a ela relacionadas, e que, portanto, somadas, teríamos um sistema de verdade-e-instrumental-para-percepção-da-verdade. Este prisma dá-nos uma idéia do dogma moderno, que gerou o fanatismo de multidões de pessoas doutas, sem se darem conta, em seu delírio fanático, das enormes contradições e falhas em seu sistema de leitura da realidade, como, por exemplo, o paradoxo da causação original de tudo, que não só deve existir (porque todo evento tem uma causa, como reza um axioma da lógica), como não poderia ser material, e, obviamente, estaria fora do espectro de análises da ciência – apenas para citar o problema-fundamental deste paradigma, sem nos determos em uma série de falhas primárias desta mundividência, como a da fé no mecanismo de seleção natural e a descrença nos fenômenos psíquicos, incluindo os psicológicos. Voltaremos a esses dois pontos mais tarde, por constituírem dois baluartes de areia, utilizados à guisa, “sabe lá Deus como”, de alicerce de um arranha-céu colossal de conceitos, sobre ele estruturado, pelos epígonos desta cosmisão esdrúxula, mas a que todos estão acostumados, pelo poder hipnótico, desde o berço, da repetição doutrinária de seus postulados.

O paradigma newtoniano-cartesiano, como chamado por autor conhecido do plano físico (*1) foi hoje substituído, para aqueles que trabalham na vanguarda das pesquisas e conjecturas científicas (*2), pelo paradigma holográfico. Mas consideramos esta terminologia deficiente pela exata razão de excluir o fundamental: a dimensão espiritual da realidade. Antes, porém, de tratarmos deste assunto complexo, detenhamo-nos em uma premissa obviamente errônea da ciência clássica: a presunção de que somente ela possa, sozinha, abordar, esquadrinhar, dissecar, explicar e esgotar o intrincadíssimo e ultra-abrangente fenômeno humano. Como supor que estudos matemáticos e experiências de laboratório sejam suficientes para ventilar questões como fé, espiritualidade, amor, compromisso, família, comunidade, ideal, espírito e propósito, sentido e significado para todas as coisas e eventos? Somente uma inteligência muito limitada ou psicótica imaginaria possível abandonar a religião, a literatura, a música (e as artes de um modo geral), a política, a filosofia, para, somente com os estreitíssimas e limitadas ferramentas de prospecção, análise e conclusão da ciência, abarcar toda a extensão, complexidade e profundidade da psique humana e suas complicadíssimas cultura e civilização. Ninguém que tenha mais que dez anos de idade desprezaria a ciência para compreender, com mais segurança, o universo e o ser humano, mas colocar-se a ciência como único canal epistemológico para perquirir, inferir e construir juízos de valor sobre o universo e a vida é, no mínimo, esquizofrênico, num extremo do espectro; totalmente estúpido e ignaro, em outro.

Em qualquer parte do mundo (ou em qualquer época da humanidade), por exemplo, a prova documental e testemunhal têm valor, entre pessoas de senso e razão (*3). Homens e mulheres de notório saber e lucidez, respeitabilidade e bom senso (ou talvez não tão notórios assim) reúnem-se em assembléias e congressos, deliberando os destinos de milhões de criaturas, amiúde bilhões, em parlamentos nacionais e internacionais, como os feitos no campo da política e da diplomacia, do estadismo clássico e das atividades jurídicas e legislativas como um todo, bem como daquele novo modelo de militância política que começa a surgir: de grupos interdisciplinares, constituídos por formadores de opinião de variadas especialidades, em fóruns internacionais, como os da ONU (Organização das Nações Unidas). Debates históricos aconteceram, em tribunais efetivos ou provisórios, em que grandes juristas e/ou legisladores (“latu senso”), fizeram jurisprudência (também em sentindo amplo), com a força das idéias e da sensatez, da lógica ou do mero apelo ao “sentimento” ou a preconceitos populares. A constituição das democracias, o direito ao voto, as liberdades individuais, o refinamento e as excelsitudes da arte, o universo paralelo e magnífico da cultura… Algo disto seria inverossímil e mesmo desprezível, como insinuam alguns, por não ser rigorosamente científico ou não poder ser submetido aos instrumentais de dissecação e cálculo da ciência?

Mas, para não nos perdermos no que, para muitos (*4), afigurar-se-ia divagação filosófica excessiva, atenhamo-nos ao que o novo paradigma das ciências (o holográfico) fala de substancial para nossas considerações: que tudo está interconectado a tudo, que tudo tem influência sobre tudo, que cada partícula do universo interage com o universo inteiro. A física das sub-partículas e as neurociências, curiosamente, apesar de seu aparente distanciamento de objetos respectivos de estudo, têm dado contribuições efetivas a este campo novo de especulações da filosofia científica. A física, desde o início do século transato, provocou total reviravolta de conceitos, ao dizer que tudo era “fluido” e indefinido no mundo material; que tudo era “impermanente”; e que, assim, nada poderia ser quantificado com a precisão que se imaginava. No âmbito da física do macrocósmico, Albert Einstein afirmou – e demonstrou matematicamente – que o espaço e o tempo são interdependentes e que ambos seriam relativos, o primeiro curvo, o outro limitado, com o primeiro, numa bolha fenomênica (o espaço-tempo), com início e fim – portanto: um escândalo para as certezas da humanidade sobre a matéria e o universo, até então. Na esfera da física quântica, a surpreendente descoberta de que não só a matéria não existia – mas somente energia em graus diferentes de manifestação (*5), como de que tudo era probabilístico e ondulatório (ondas de probabilidades). Já as diversas neurociências contemporâneas afirmam, categoricamente, que o cérebro, assim como todos os sistemas vivos, funciona como um todo e não como uma máquina (ou seja: não seria uma engrenagem constituída de partes a elas reduzível, típica imagem simbólica do mecanicismo cartesiano), de tal modo que, até certa medida, as funções de certas regiões neurofisiológicas podem ser assimiladas por outras, em casos de lesão ou perda de tecido encefálico (nos traumatismos cranianos), como, por outro lado, num nível não-patológico de considerações, ortonóico destarte (*6), teríamos cada parte do cérebro interagindo com todas as outras, embora, em certo nível, cada área tenha especificações maiores para uma ou outra função psico-motora, psico-cognitiva, psico-mnemônica ou psico-perceptiva, entre outras.

Para resumirmos ainda mais nossa “divagação”, queremos dizer que, assim como um átomo retrata o universo inteiro, e assim como um neurônio repercute suas vibrações por todo o “organismo cerebral” (e vice-versa), com aproximadas 100 bilhões de outras células nervosas, um ser humano pode, perfeitamente, com sua “vibração” psíquica, fomentar uma melhoria em todo o cosmo planetário, em todo o “tecido humano” de nossa civilização terrena. E se, ‘inda mais, unirmo-nos numa grande rede de fraternidade, para, em conjunto, fazermos essa vibração de modo uníssono, alinhando nossas ondas cerebrais num mesmo alto diapasão de Luz, os efeitos serão potencializados, e… quiçá… poderemos “salvar a Terra”.

A esta altura de nossos raciocínios, adentraremos em conceitos mais espíritas – especificamente falando: de ciência espírita. O Plano Superior de Consciência, alojado em dimensões extra-físicas de existência, deseja salvar o mundo da auto-extinção, mas, para atuar no plano físico de vida, precisa de “antenas repetidoras” de sua vibração excelsa, no limitado espectro vibratório do domínio material. Maria e o Governo Oculto do Mundo, capitaneado por Nosso Senhor Jesus (*7), almejam resgatar a humanidade do resvalamento no abismo, mas a freqüência de suas emanações mentais-espirituais, em conjunto, situa-se muito acima do padrão vibratório do ódio, do egoísmo selvagem e da ignorância medonha que pervaga a média da freqüência mental dos habitantes encarnados do orbe. Assim, precisamos criar uma teia de indivíduos engajados, espiritualmente responsáveis, disciplinados e lúcidos, que façam:

1o) Um comprometimento espiritual sério, profundo e duradouro, por pacificarem suas vidas e se tornarem agentes disseminadores da paz e do amor fraterno, por onde estiverem, com quem estiverem, no que fizerem.

2o) Um ritual (método, em verdade) axial de vibração pela paz no mundo, para que se forme a tal rede de repetição vibratória superior na crosta planetária.

É sobre estes dois itens que falaremos nos próximos capítulos.


(*1) Fritjof Capra, no seu clássico de 1980: “O Ponto de Mutação”.
(Nota do Médium)

(*2) Sim, a linha de ponta da ciência é baseada em elucubrações, em especulações e cogitações filosóficas, por mais que alguns se ouricem ante esta assertiva, por se tratar de princípio funcional da mente humana: só se vê externamente o que pré-existe nos próprios arcabouços do psiquismo, em algum nível, ainda que embrionário ou latente. O famoso e ardente debate, no início do século XX, sobre a constituição da matéria, se corpuscular ou ondulatória, atestou, inequivocamente, por experimentos laboratoriais, que a consciência observadora interfere nas realidades observadas – uma descoberta revolucionária, no mais respeitado bastião da Ciência: a Física.
(Nota da Autora Espiritual)

(*3) Historiadores, por exemplo, para considerarem uma certa personagem ou evento históricos como verdadeiros e não meros frutos de mitos ou lendas populares, exigem, tão-somente, duas citações em crônicas laicas da época em que teria ocorrido o evento ou existido a personalidade que se pesquisa. A existência de Jesus não é mais questionada (por algum tempo, levantou-se alguma dúvida sobre sua existência histórica), por ser citado, ainda que em notas de roda-pé, pelo romano Tácito e pelo judeu Flávio Josepho.
(Nota do Médium).

(*4) Descendentes diretos dos positivistas do século XIX – sim: os há, e muitos, entre nós: dragões ideológicos trajados em vestimentas pseudo-modernas de conceitos forçados, pretensamente atualizados, em verdade fossilizados, em esquemas conceituais totalmente caídos na obsolescência.
(Nota da Autora Espiritual)

(*5) O próprio Albert Einstein, que era opositor desta linha de pesquisas, declarou publicamente que o materialismo havia chegado ao seu fim, pelo desaparecimento de seu objeto de estudo: a matéria.
(Nota da Autora Espiritual)

(*6) Eugênia usa o verbete de origem grega para classificar os padrões mentais de normalidade (ortonóicos), os patológicos (paranóicos), distinguindo-os dos transcendentes (metanóicos).
(Nota do Médium)

(*7) Ela é a “Conselheira-Deliberatriz-Mor” do planeta, enquanto Jesus tem a função que, muito forçadamente, para fins didáticos, chamaremos de executiva, por isso, muito sabiamente denominado de “Governador Espiritual da Terra”, como dito pelo amigo espiritual Emmanuel, pela psicografia de seu grande médium, Francisco Cândido Xavier, o famigerado Chico Xavier.
(Nota da Autora Espiritual)