Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
No exercício mediúnico, em transe, procure evitar:
1) Barulhos ou gestos violentos. Palavreado de baixo calão ou revelações inoportunas ou indiscretas sobre circunstantes ou quaisquer outras personalidades, presentes ou ausentes.
2) Levantar-se da mesa ou deitar-se sobre ela, para que uma disciplina basilar seja observada, mantendo-se a mente mediúnica em guarda e no controle do que se passa, por seu intermédio, dentro de limites espaciais estritamente estabelecidos para a movimentação “livre” da entidade.
O médium é sempre responsável por tudo o que acontece por meio de suas faculdades psíquicas. Não é um boneco de pano nas mãos dos espíritos, mas sim um intérprete inteligente e autônomo, com obrigações morais e éticas em relação ao que ocorre através de sua pessoa. Se a entidade for agressiva, impudica, ou estiver tresloucada, por exemplo, é dever do médium conter-lhes as expressões mais grosseiras de si, já que se constitui porta-voz vivo e livre, e não fantoche manipulado por desajustados do Além.
3) Escrúpulos excessivos no momento de comunicar impressões, sensações, quadros mentais ou intuições. Não se deve encarar o animismo como um fantasma do fenômeno mediúnico, mas como parceiro inevitável, a ser aceito com naturalidade. Como bom paradigma para a compreensão e vivência do fenômeno, sem conflitos de consciência ou pudores exagerados, deve-se pensar que existe um percentual, pequeno que seja, de manifestação mediúnica pura, imiscuído a um outro percentual, ainda que expressivo, de participações do próprio inconsciente individual, e que, somente por meio do exercício continuado, poderão tais porcentagens ser revertidas, para que haja, progressivamente, menos animismo e mais mediunismo percentual, em cada transe “medianímico” que ocorra. Dúvidas demais paralisam o serviço de caridade espiritual em curso, tanto quanto a certeza exagerada pode indicar orgulho, ignorância ou obsessão.
Como esclarecedor dos espíritos que se estarão manifestando pelos médiuns da “mesa”, procure evitar:
1) Interromper intempestivamente o processo mediúnico, antes que a entidade sofredora haja desabafado e expressado as linhas gerais de seu pensamento, e que já lhe tenha, após isso, passado diretrizes fundamentais de assistência e orientação. Uma terapia convencional se estende por 30 a 50 minutos, embora possa se repetir, no correr de vários meses ou anos. Um transe de “incorporação” médio não pode durar menos de 15 minutos – excetuando-se casos extraordinários –, nem ultrapassar, por outro lado, os 45 minutos de duração.
2) Seguir palpites ou adivinhações sobre o problema do sofredor desencarnado em assistência, ou sobre o tipo de socorro que os mentores do Plano Superior lhe estão dispensando. Para isso, se não for dotado de mediunidade ostensiva, procure orientar-se por médium vidente que deve estar posicionado ao seu lado, transmitindo-lhe informações sobre as entidades padecentes em curso de manifestação. Agir conforme o que a imaginação determine pode atrapalhar profundamente o trabalho em andamento, realizado pelos médicos e psicoterapeutas da Espiritualidade.
3) Menoscabar esta ou aquela “manifestação”, deste ou daquele médium, por julgá-la(s) proveniente(s) do inconsciente do próprio intermediário. Ainda que seja assim, um espírito – no caso, o do próprio medianeiro – estará sendo tratado. Ademais, devemos considerar que as aparências muito enganam, no complexíssimo processo de intercurso medianímico, de modo que, amiúde, magníficas manifestações mediúnicas são levadas à conta de “mistificações inconscientes” do médium, ao passo que outras tantas, tidas por perfeitas comunicações de inteligências desencarnadas, constituem, em verdade, bem urdidas expressões de fragmentos da própria psique receptora.
4) Tocar no corpo do médium, quando em transe, já que, com isso, não só se pode atrapalhar sua concentração, como também interferir na homeostase energética e psíquica que acontece entre a mente mediúnica e o espírito comunicante. As energias do esclarecedor podem mesmo, em certas circunstâncias, interromper o fluxo mediúnico.
5) Usar de palavreado agressivo ou chulo, bem como aceitar ou fazer desafios às entidades sofredoras ou perversas, assim como rir ou ironizar, em consonância com seres debochados ou satíricos que se manifestem através do médium sob sua responsabilidade. A compostura, a dignidade, a serenidade e o autocontrole devem constituir um padrão indiscutivelmente inalterável na conduta do esclarecedor, sob pena de pôr toda a atividade socorrista-esclarecedora a perder, e de ele mesmo acabar vítima de nefandos e evitáveis processos obsessivos.
6) Dar cobertura a mais de um médium ativo simultaneamente numa reunião, ou interferir diretamente, outrossim, no esclarecimento de espíritos que estejam sendo orientados por outros esclarecedores. Em alguns casos, pode haver um entendimento de emergência entre esclarecedores, mas cada médium fará uma parceria de trabalho tão-só com o esclarecedor adredemente definido para a orientação das inteligências desencarnadas que se manifestarão por seu intermédio. Um outro esclarecedor – talvez o mais experiente ou mesmo o dirigente da reunião –, em tais situações de urgência, poderá, destarte, transmitir idéias ao que compõe a dupla operacional com o médium, para que as delicadas combinações psicoenergéticas ajustadas entre os parceiros (esclarecedor e médium) e a entidade não se desfaçam, rompendo o bom andamento do tratamento psicoespiritual.
No dia, todos devem evitar:
1) Fazer sexo ou entreter-se em atividades de jogo ou anedotário de baixo nível.
2) Comer muito, ingerir bebida alcoólica ou fazer uso de qualquer droga (inclusive os psicofármacos), ou ainda realizar atividade física premeditada, como a freqüência a academias de ginástica.
3) Entregar-se a acessos de fúria ou qualquer tipo de delírio emocional, durante o dia, tendo em vista que já se encontrará aturdido pela influência de espíritos sofredores que, possivelmente, estarão sendo plugados a seu psiquismo, em função de virem a ser tratados mais tarde, carreados por sua própria mente.
4) Participar de outras reuniões mediúnicas. Arranjos laboriosos e complexos, no campo de harmonia energética e psíquica, são articulados, a fim de que o equilíbrio e a homeostase mental do grupo funcionem com perfeição, fazendo com que a equipe de encarnados e desencarnados opere como uma grande mente coletiva curadora, para pacificar as individualidades perturbadas ou perturbadoras que comparecem para socorro.
É ainda importante, para todos os integrantes do grupo:
1) Freqüentar pelo menos mais uma outra atividade de estudos e reflexão, afora a mediúnica, na mesma casa espírita em que se desenvolve o trabalho mediúnico.
2) Ler e estudar obras básicas e complementares do Espiritismo, a começar por “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”.
3) Compreender que o serviço de intercâmbio com a outra dimensão de vida é um exercício intensificado e de maior responsabilidade, no que diz respeito à própria espiritualização, já que o contato com as mesmas entidades que são ou podem vir a ser assistidas nas reuniões de socorro acontece a toda hora, todos os dias, em quaisquer circunstâncias, dentro ou fora das assembléias mediúnicas. A má conduta, a contradição dos postulados pregados nos momentos de oração e espiritualidade, ou a não-vivência deles podem simplesmente neutralizar os esforços despendidos nas atividades de resgate aos sofredores e na “conversão” de almas empedernidas no plano extrafísico de existência.
Em suma, para o ministério sagrado da mediunidade com Jesus, sob a égide da “Doutrina” Espírita, cabem: discrição, circunspecção, estudo, vigilância e oração, contínua busca de autoconhecimento e auto-aprimoramento, com vistas a que a tarefa se desdobre a contento e todos sejam beneficiados com o esforço benemérito de mentores espirituais, conectados a voluntários e discípulos encarnados, numa equipe multidimensional de apoio fraterno a sofredores do plano “invisível” de vida.
Por fim, procure-se ter em mente que jamais deve haver qualquer forma de envaidecimento ou deslumbramento, com a participação em tais reuniões de finalidade sagrada, que conjugam as funções de hospital com as de escola, sob o risco de se desperdiçarem as lições e conquistas evolutivas inestimáveis que podem ser, respectivamente, assimiladas e feitas, durante sua realização. Não são os sofredores desencarnados que ganham primeiramente, com a realização de tais reuniões (porque sempre houve medidas de socorro e resgate a eles, antes de existirem as congregações mediúnicas espíritas), mas os próprios encarnados, que recebem preciosa oportunidade de esclarecimento, ainda no curso de suas reencarnações, com o propósito de corrigirem eventuais fugas de rota ou inversões de valores que estejam ocorrendo, ou na iminência de acontecer, em suas vidas.
(Texto recebido em 11 de agosto de 2003. Revisão atual de Delano Mothé.)