Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

A curiosa teoria dos setênios (da divisão da vida humana em grupos de sete anos, com correlatos aprendizados a serem feitos em cada um) é pertinente, encontrando respaldo nos processos de desenvolvimento psicológico do ser humano, tanto em se considerando uma única existência física, quanto em se fazendo um estudo abrangente do histórico evolutivo de um espírito.

Aos 7 anos, o indivíduo encontra sua identidade primeira, o sentido de si, a razão, a autonomia psíquica, antes mergulhada na massa informe das identidades coletivas.

Aos 14 anos, descobre a força do sexo, do amor, da amizade e da própria integridade, buscando, no entre-choque com outras personalidades, que se fazem atraentes ou repulsivas, a necessidade de preservar o próprio sentido de eu.

Aos 21 anos, então, surge a necessidade imperiosa de ser o si mesmo, de descobrir-se, de revelar-se, de libertar-se das interações intensas, conflitivas e, em muitos aspectos, perturbadoras e desorientadoras da adolescência. É hora de verificar quem realmente se é, após todo o processo de interfusão com outras psiques.

Aos 28, aparece o desejo de interagir num nível mais profundo e completo, com outro ser humano. Já não são os encontros casuais da adolescência, nem os oceânicos pré-egoicos do período 0-7 anos; busca-se, nessa fase, uma relação madura, centrada no si, ou seja: uma interação de intimidade em que não se perde a noção clara da própria individualidade, aprofundando-se, com isso, inclusive, essa clara noção de si. É o melhor tempo, assim, de descobrir-se a melhor parceria afetiva para o consócio matrimonial.

Aos 35 anos, após as fusões psíquicas e re-fusões espirituais do período de descoberta da intimidade maior, espoca a necessidade de dar-se sem esperar nada em troca, de dar-se incondicional, irrestritamente. Aparece, para a consciência, o impulso de ser espiritual, desapegado, humano, gente plenamente. É nesse ponto que, tento o indivíduo passado por todo o processo de maturação dos estágios anteriores, sem queima de etapas, pode ele tornar-se um bom pai, uma boa mãe.

Aos 42, o indivíduo torna a precisar de interiorização. O esforço por se dar costuma tanto fazer com que a pessoa se sinta ressentida ou precisando tornar a se recolher, para avaliar se foi correta consigo mesma, se deu a si tudo que deveria dar, se recebeu dos outros tudo que poderia ou deveria ter recebido. É a “idade do lobo” e da loba, como se diz no vernáculo brasileiro. Após tanto esforço, renúncia e sacrifício, por filhos, carreiras, parceiros, pelos outros, por tudo que é externo, o indivíduo sente enorme necessidade de se recuperar, se ter, desvelar-se para si próprio, saciar-se, podendo, assim, retornar ao passado, para resgatar partes perdidas de si próprio, lacunas não vividas ou ignoradas de si mesmo.

Aos 49 anos, chega o momento do desapego… Os filhos estão ficando adultos, a carreira está caminhando para o fim, em muitos casos, aproximando-se o indivíduo da aposentadoria. A sensação de perda iminente, extensa e em diversos departamentos existenciais importantes, concomitantemente, atordoa profundamente os indivíduos, principalmente porque papéis sociais normalmente confundidos com a própria identidade começam como que a se esvair por entre os dedos da alma aflita.

A mulher entra na menopausa, o homem sente-se menos viril. Os filhos questionam opiniões e decisões dos pais, vão trabalhar, morar fora, casam-se. Profissionalmente, ainda que não se aposentem, ou mudem de atividade, não se sentem nem tão mais dispostos, nem com muitas esperanças, perspectivas ou chances de realização, após a perda das ilusões da juventude e de grande parcela do tempo necessário para os grandes feitos. São substituídos por pares mais jovens no mercado de trabalho e vêem que não são mais tão necessários nem tão importantes. Muitos, então, em vez de atender à lição figadal dessa fase, o desapego, acabam por reagir de inversa maneira, apegando-se mais. Homens olham para mulheres mais jovens; mulheres tentam preservar a todo custo o que lhes sobrou da juventude e da beleza (o que já havia começado no setênio anterior). É a época da “síndrome do ninho vazio”, não só no que diz respeito à casa deserta com a saída dos filhos, mas também no que concerne ao campo profissional, amical (quase todos os amigos costumam ser relacionados ao trabalho), familiar, à alma e à vida que parecem ficar ou ameaçarem ficar destituídas de sentido, de propósito, de consistência… vazias…

Aos 56 anos, o indivíduo chega ao ponto em que, tendo enfrentado o último desafio do desapego, começa a se deslindar dos compromissos, dos papéis obrigatórios, das funções limitantes (como a busca de sobrevivência material), das máscaras de conveniência social, e, então, libertam-se para serem elas mesmas, de modo pleno e, por isso mesmo, felizes, porque totalmente livres, podendo expressar a inteireza de sua alma e de seu amor.

A partir desse ponto, então, terão meios, condições íntimas e até estrutura material de vida (após a aposentadoria), para se dedicarem, em caráter exclusivo, à missão que lhes trouxe à vida física. Quem chega a essa fase, plenamente amadurecido (ou seja: tendo vivenciado adequadamente e esgotado as fases anteriores), assemelha-se à figura do ancião e da anciã sábios, que, seguros, serenos, lúcidos e livres de mesquinharias, traços egoicos de personalidade ou mágoas, dão-se ao mundo em plenitude de ser, vivendo longos anos de serviço amoroso e feliz à humanidade, ainda que atingindo um pequeno grupo de pessoas.

Obviamente, raras criaturas chegam a essa faixa etária desse modo. Porque, quando uma alma não está alma suficientemente evoluída para se expressar totalmente com o padrão de maturidade psicológico que é esperável na terceira idade, ao chegar nela ou apenas dela se aproximar vai se apresentar comportamento bizarro ocorrem, como a mulher de 50 que pretende ter 20 anos e agir como tal, ou o homem de 70 que a pulso quer se comportar como o homem jovem de 30, cheio de ambições e vontade de crescimento profissional. Não que não se deva buscar o bem estar físico e a boa aparência em qualquer idade, nem que se deva renunciar a crescer em todos os sentidos. Aliás, a falta de propósito e ânimo para viver são os maiores eliminadores de vidas humanas. Falamos dos casos em que o indivíduo não se identifica com sua idade e pretende negar a realidade por mecanismos escapistas que só lhe intensificam a frustração e o medo.

Quem não é maduro por dentro, está fadado a se frustrar, progressivamente, à medida que os anos passam, tornando-se amargo, infeliz, impaciente, intolerante, crítico e autoritário. É por isso que envelhecemos, inúmeras vezes, encarnação sobre reencarnação. Para que, à medida que voltamos e repetimos as lições de cada faixa etária, o aprendizado peculiar a cada setênio, interiorizemos e consolidemos tais conquistas em nosso espírito, até que possamos, nas últimas encarnações humanas, surgimos como crianças-sábias ou adolescentes-mestres, trabalhando pela humanidade desde tenra idade, como se já tivéssemos no último estágio do pós-56, chegando, em tais encarnações últimas, à excelência do serviço à humanidade, quando de fato coincidindo a idade do corpo com a idade psicológica da alma.

Cada um, portanto, independentemente da idade cronológica que tenha, pode ser um espírito que estagia na condição de espírito 14-21 anos, ou espírito 28-35, senão mesmo espírito 7-14 anos, consumindo, em cada fase de amadurecimento psicológico, em cada setênio da alma, vários séculos, reencarnando e aprendendo também nos períodos intermissivos (entre as encarnações) na condição de espíritos desencarnados.

Uma pista para se detectar a disparidade entre corpo e alma? Quando alguém se sente velho com a idade que tem, ou jovem demais com o corpo que porta. Jovens podem se sentir velhos aos 25 anos, e indivíduos na meia idade podem se sentir jovens aos 45. Acontecendo isso, a pessoa pode ser levada, por exigência social ou conduta neurótica, a ocultar traços característicos da idade e adotar comportamento, linguajar e trajes da idade com que se afina. Um adolescente de 18 pode comportar-se como um senhor de 55, e um senhor de 55 pode pretender agir como um garoto de 18.

Claro que há distúrbios complexos nessa questão, e não se podem fazer generalizações, sob pena de não fazermos uma leitura correta dos casos observados. Há garotos narcisistas que pretendem, por iniciativa própria ou por indução e doença familiar, aparentar o que não são e criar impacto com a aparência de maturidade precoce, como, por outro lado, há senhores sexagenários muito maduros em quase todos os departamentos de sua alma, que apenas em um ou outro aspectos de suas psiques portam imaturidades a serem revolvidas. Como o ser humano não amadurece por inteiro, uniformemente, no mesmo ritmo em todos os estratos da mente, o conjunto deve ser analisado para que se chegue a uma conclusão segura, fidedigna, a respeito da sua totalidade e não em função de faces de sua personalidade que podem ou não ser representativas de sua completude, como indivíduo, bem como do estágio evolutivo em que esteja. Menininhos pernósticos traem seu padrão geral de ser, de uma forma ou de outra, explodindo psicologicamente, senão no presente, no futuro com ainda mais destrutividade, em conduta neurótica, contra-reativa à sufocação de sua natureza, por meio de vícios, manias ou mesmo pela regressão ao comportamento adolescente fora de hora. Os senhores-traquinas, por outro lado, revelam, indubitavelmente, conduta digna, reta e elevada em quase todos os âmbitos de sua existência, com esse ou aquele departamento de suas mentes a ser trabalhado.

Por fim, diante desse paradigma dos setênios do corpo em correlação harmônica ou conflitiva com os setênios da alma, lembremos que temos que ser pacientes com os outros e com nós próprios, porque ninguém dá o que não tem, nem age como não é. Compreendendo essa realidade, procuremos identificar cada psicotipo, após detectarmos o nosso próprio, a fim de que possamos traçar estratégias adequadas, para cada relacionamento interpessoal, com mais realismo e menos frustrações, sem cobrar de nós mesmos ou dos outros o que não condisser com o nível de adiantamento e complexificação de cada consciência, ao mesmo tempo em que, dentro do possível, tentemos favorecer o desenvolvimento de todos e de cada um em particular.

(Texto recebido em 19 de outubro de 2002.)