(Episódios com o professor Gerard – 4)
Era tarde da noite, perto do início da madrugada. Aproximando-me da atual residência de nosso caro professor Gerard, cumprimentei vários(as) tarefeiros(as) e assistentes, nas imediações e nos primeiros compartimentos da “Instituição viva de ação no bem” em que se convertia qualquer lugar onde ele estivesse albergado.
Em poucos minutos, habituado ao trânsito interno, no núcleo geratriz de nossa Organização-Movimento, estava diante de nossa preclara mestra Sophia de Alexandria, que, sumária e imediatamente, revelou-me:
– Haverá o desvio e o arrefecimento da fúria de um novo furacão…
– Como? – perguntei, presumindo não ter compreendido corretamente o que ela pretendia dizer. Sabia que um ciclópico furacão recentemente havia sido afastado da região metropolitana de Nova York, de forma similar ao que ocorrera em 2012¹. E prossegui:
– A senhora se refere ao que acabou de acontecer, repetindo o evento de oito anos passados?
– Não… – sorriu, distinta e lacônica, completando: – haverá um terceiro, dentro deste mês ainda.
– Incrível! A mesma coisa? A alteração do trajeto de outro colosso meteorológico, nesta mesma região?
– Tentaremos. Mas vamos garantir, ao menos, que se afaste da localidade onde presentemente se encontra alojado nosso porta-voz encarnado.
– Seria necessário outro fenômeno dessas proporções? – indaguei, ainda perplexo.
O nobilíssimo guia inspirou lentamente e, quase em tom de desabafo, balbuciando, olhar perdido no infinito, rememorou:
– “Nem com o Mestre Supremo encarnado, realizando um prodígio empós outro, direta e imediatamente, as pessoas se convenceram da Origem Sagrada do Discurso que Ele Próprio corporificava. Não foi por outra razão que acabou sentenciado à morte e executado de modo ignominioso. Imaginemos o quanto precisamos realizar, no sentido de conferir maior credibilidade às nossas canalizações, no mundo físico dos dias de hoje, com mentes tão pejadas de incredulidade, ceticismo e, lamentavelmente, cinismo ególatra, que se aglomeram sobremaneira em torno de quem combate toda ordem de preconceito, simultânea e incansavelmente, década sobre década, sem a menor preocupação com a opinião que se faça a seu respeito.
No entanto, defendemos, com um ardor especial, o nosso representante. Nossa Mãe Maior, Maria Cristo, pediu que providenciássemos o próximo evento, como uma sinalização de que mantém Sua mão sobre nossa embaixada espiritual. Quer que nos distingamos, ante o vulgo, dos(as) aventureiros(as) da religião reacionária, num extremo, e do esoterismo vulgar, n’outro.”
– Incrível como a cascata de ocorrências extraordinárias, ao redor de seu mensageiro, é ignorada de forma quase blasfema… sem contar a obviedade ululante da qualidade das abordagens apresentadas, sobre assuntos tão importantes… E nem podemos dimensionar os desmantelamentos terríveis, não raro trágicos e imediatos, de caráter cármico, que se dão nas vidas dos(as) que se colocam contra esta Obra.
– Não é novidade, meu caro Gustavo. É esta humanidade terrena… esta humanidade pela qual labutamos, há tantos milênios, no intuito de salvá-la da bancarrota completa. Estamos otimistas(as), entrementes, de que não serão tão sérios os cataclismos desta era apocalíptica, como poderiam ser, sem a Intervenção Superior de Nossa Mãe Crística.
– Graças a Deus que há, ao menos, a promessa de que o salvamento do orbe é um fato certo, não é mesmo?
Por um momento, Sophia pareceu distante, como que absorta em visões do Empíreo. Aguardei, respeitosamente, porquanto nunca se sabe quando ela está em comunicação mais intensa com os Domínios Excelsos de Vida. Passados breves segundos, respondeu-me apenas:
– Apressemo-nos, amigo querido. Chegou a hora. Vou enviar algumas mensagens a pessoas encarnadas, através do medianeiro.
Era grande, embora atenta e silenciosa, a movimentação de amigos(as) de nossa dimensão, no cômodo de porte médio e com mobília simples, onde havia a cama do professor de multidões, a de seu consorte e uma minúscula escrivaninha, em que Gerard deixara preparado, para gravação em áudio, um pequeno dispositivo eletrônico.
Sophia cerrou os olhos, pousou a destra no ombro direito do irmão imerso na matéria densa, que estava focado em sentida prece, e vimos, poucos minutos depois, espocar o maravilhoso de sempre: Gerard, sem oferecer resistência alguma, começou a canalizar uma psicofonia da mentora espiritual, com uma profusão de detalhes atinentes à rotina e aos pensamentos íntimos dos destinatários (três cavalheiros e uma dama), havidos nas últimas 24 horas, informações essas a que nenhum indivíduo encarnado poderia ter acesso.
Terminado o processo de gravação e envio da fala mediúnica aos comovidos e muito felizardos companheiros enlaçados à superfície terrena, Sophia abriu os olhos e girou-os ao Alto, candidamente, fazendo brotar, como por encanto, um caudal luminoso que se assemelhava a um túnel psíquico, pelo qual, à distância, via-Se o Vulto Sagrado da Mãe planetária, Maria de Nazaré.
Gerard, estimulado na psicovidência por Sophia, divisava nitidamente a Figura da Mãe Celeste, que, em poucos segundos, comunicou-lhe uma mensagem de caráter exclusivo, sem que nós outros(as), os(as) livres de corpos físicos que acompanhávamos a cena, pudéssemos tomar notícia do conteúdo da missiva mental.
Logo em seguida, parecendo sair de um transe profundo, Sophia sussurrou mais uma orientação breve à acústica psíquica de seu filho eterno e voltou-se para nós.
– Gerard não mais nos percebe com clareza. Retirei-o da condição de maior ostensividade mediúnica. Ocupar-se-á com outras incumbências que lhe deleguei.
– Nossa Mãe Sacratíssima…
– Sim, falou com ele sobre o novo Sinal do Céu. Ela Própria gostaria de lho dizer.
– E, de sua parte, a senhora desejaria me solicitar alguma coisa?
– Sim, que você narre ao grande público este nosso encontro e o que testemunhou, logo haja ocasião propícia a tanto.
– Com toda satisfação. Mas… a senhora sabe da resistência do médium em transmitir esse gênero de descrição de nossa esfera de ação.
– Sim. Tomarei providências para torná-lo mais receptivo. Nesta época de tanta hipocrisia sendo desmascarada, temos que fazer rutilarem, com Indícios inequívocos, aqueles(as) que realmente nos representam.
Chegou o tal momento, prezado(a) leitor(a), a que aludira a venerável preceptora da Antiga Grécia. Registrei, nesta narrativa, tudo que me foi possível, de conformidade com o que a própria orientadora do Plano Sublime sugeriu fosse revelado e com o que o médium autorizou falássemos.
Espero haver cumprido, ao menos relativa e parcialmente, a tarefa que me fora designada de Mais Alto. E, principalmente, faço votos de que cada um(a) dos(as) leitores(as) deste ensaio singelo tire o melhor proveito para si e busque as interpretações que considerar mais judiciosas, diante de tão excepcionais prodígios do Céu sobre a Terra…
Gustavo Henrique (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Bethel, CT, região metropolitana de Nova York, EUA
28 de agosto de 2020
1. Alusão aos furacões Sandy, de 2012, e Isaías e Laura, de agosto de 2020.
(Nota da equipe editorial)