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Benjamin de Aguiar
pelo
Espírito Roberto Daniel.

Introito do Médium:

Acordei com imagens espetaculares de deuses e deusas, entre outras personagens da mitologia grega; e, em contraste gritante, me pairava a história prosaica de um garoto de 19 anos, com pose entre despreocupada e arrogante, residente da periferia de uma metrópole brasileira, e sua mãezinha de pele mais escura que a dele, com ares de santa sacrificada. Dei um salto da cama, sentindo a mente sob forte influência do querido amigo desencarnado Roberto Daniel, que já me ditava as primeiras frases do artigo bombástico e “sui generis” que se segue, cheio de importantes insights, para a solução de complexas questões no relacionamento de pais e filhos, além de desenovelar vínculos ocultos, de caráter simbólico e conceitual, deste núcleo temático que tange à ideia de Deus e nossa relação com Ela-Ele. Mal deu tempo de cumprimentar Wagner (meu consorte), pelo percurso entre a cama e o computador, e, sem comer, mergulhei no transe psicográfico, com o velho amigo, que trabalha e interage comigo, psiquicamente, desde 1993.

É com grande satisfação d’alma, prezado(a) amigo(a) leitor(a), que partilho esta pérola da Espiritualidade Amiga. Boas reflexões e bom aprendizado!

Irmão em Cristo,
Benjamin de Aguiar,
Aracaju, 12 de junho de 2010.


João tem 19 anos, e “ama” sua mãe – ou pelo menos assim pensa. Ela cuida dele, faz a comida, lava, passa, deu-lhe os anos de sua juventude, em sacrifício de seu rebento. Não reclama nada, sempre está amável e sorridente. O rapaz a considera uma santa, um anjo, quase uma deusa… e não se dá conta de que ele é um monstro de egoísmo, mesquinharia e exigência constante e integral.

É assim que, atualmente, os filhos veem os pais: duma perspectiva ideal – amor incondicional, sacrifício total de si mesmos pela prole. E, para eles, os filhos, tudo, sem que nada estes devam aos pais… Pais ricos devem dar apartamentos caros e carros último modelo a seus descendentes. E pais pobres ou de classe média, por não poderem fazer isso, são, amiúde, observados de soslaio, com uma condenação perene, como se fossem culpados por os rebentos terem nascido “na miséria” – conforme classificam, querendo dizer: “não serem milionários” –, segundo lhes dita seu gato mimado interior. Tais ilusões cristalizadas, porém (consciente ou inconscientemente), além de lhes eclipsar todo senso de gratidão, não os impede de lamuriar, esbravejar e fazer as mais variadas ordens de cobrança descabida, até que… os pais “se sentem na obrigação de ceder”. Agora, nem direito ao acesso à vida digital de seus filhos os progenitores estão tendo. Francamente!… “Isso me dá nos nervos!”. Os pais pagam as contas, mas não têm autoridade para impedir, por exemplo, a navegação por sites pornográficos, ou não se sentem à vontade para tomar conhecimento de com que espécie de amiguinhos degenerados seus filhos estão entretecendo contato, por meio do computador e da ligação à internet bancados por eles… os pais! Grande falange de frouxos são os pais de hoje… e, completaria: irresponsáveis, e não vítimas, como se sentem, confidenciando-se uns com os outros, por partilharem “o mesmo problema dos nossos dias” – poderiam dizer: “o crime generalizado de que somos cúmplices todos nós”… preocupados em serem os bonzinhos-santinhos que a cultura prega que eles sejam…

Pois vai meu aviso: pouco importa o que façam: filho é “raça” que não presta, assim como foram os “pais” n’outro tempo. Por mais que façam, nunca serão os “santinhos” que os filhos esperam neles encontrar. E, depois de tudo fazerem e se sacrificarem pela prole (sacrificando primeiramente a própria consciência, como acabamos de asseverar indiretamente – o que é, reitero, um delito de lesa-divindade), ainda serão taxados de sovinas e egoístas. Bem empregado para os que, em vez de disciplinarem e educarem seus filhos, estão preocupados em ser “amados” por eles (desculpem a franqueza).

Pois é… Ser mãe e pai, hoje em dia, é dose… ser filho é cruel… “Ser mãe é padecer no paraíso” – reza o dito popular. “Cabe ao pai o dever de sustentar seus filhos”, até ficarem adultos – dever-se-ia pôr essa ressalva em seguida… mas aquela classe perversa dos filhos apagou propositalmente as cláusulas contratuais finais e resolveu perpetuar a vampirização, como se ainda fossem bebês, sugando o peito da mãe… hoje: o bolso (e o juízo) de ambos os pais…

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Sem notar, o inconsciente coletivo projeta esta imagem idealizada de pai e mãe (e, paradoxalmente, deformada, porque espelha as mesquinharias e falhas de caráter dos filhos) na figura de Deus – esta postura viciosa e narcísica em nós, seres humanos, como filhos mimados e caprichosos, qual o menininho que se lança no chão do supermercado, batendo os pés e gritando para submeter a mãe ao talante de suas vontades absurdas –, e vemos toda ordem de despautérios: desde cobrar de Deus milagres (como se merecêssemos), ou orientá-l’O(A) na solução de nossos problemas (como se Ela-Ele não soubesse como fazê-lo melhor, enquanto nós é que não enxergamos onde se encontram os verdadeiros problemas), até o cúmulo de negar Sua existência, por concluir que o Ser Perfeita Providência não está cumprindo Seu Papel – dentro da nossa ótica, é claro: de “Dono de gato” fazendo cafuné em nossos egos hipertrofiados…

Mas houve um tempo em que os polos simbológicos, e, igualmente, psicológicos e socioculturais, estavam invertidos. Os deuses gregos do Olimpo eram voluntariosos e ciumentos, prestigiando criaturas, em detrimento de outras (sobremaneira as resultantes de suas cópulas com os mortais – isto mesmo: eles transavam com seus filhos-criaturas, gerando os semideuses), e, às vezes, perdiam a paciência, condenando não só criaturas a suplícios horrendos – como o Sísifo, que ousou furtar o fogo sagrado da criação divina para doá-lo à humanidade (A-ha!…) –, mas também cidades e civilizações inteiras, que eram arrasadas e varridas do mapa, simplesmente porque esses senhores de tudo enviavam tragédias naturais a arruiná-las por completo, da noite para o dia. A conduta dos deuses romanos e de toda parte era a mesma: sempre exigindo sacrifícios-limite de seus filhos, quando não de carne humana, com sangue vertido, horrendamente, em cultos selváticos e teratológicos… O iracundo Javé, chamado de “Senhor dos Exércitos”, inúmeras vezes, por seus profetas na Bíblia, queria o “sangue dos inimigos de Israel” (ou seja: toda a humanidade que não seja israelita – deveríamos cometer suicídio, em massa, para seguir a Bíblia, não é? conforme já foi dito por outros Autores de Nossa Escola, alhures), e, só para concluir, o Apocalipse de João, escrito no primeiro século de nossa Era, declara que o Pai Todo-Poderoso vai pôr fogo em tudo aqui embaixo, por causa dos pecados destes Seus filhos ingratos que todos somos… E, detalhe sórdido inescapável de minha boca pecadora: revela João que apenas 144 mil HOMENS VIRGENS, serão salvos… Seriam eles bebês recém-nascidos? Ou seriam todos gays, que não tiveram coragem de se assumir? Não segue aqui nenhum desrespeito ao texto sagrado da Bíblia, mas exatamente o inverso: para que não sejamos sacrílegos com o que é sagrado, precisamos interpretar mais profundamente, e não de forma literal, palavras que foram ditas em tom metafórico, há vinte séculos, e submetidas a sucessivas traduções, que, como todo linguista bem o sabe, distorcem o conteúdo da redação e a intenção do autor.

Obviamente que tais mitos relacionados à figura do Criador, fosse de um perspectiva politeísta ou monoteísta, teria reflexos nas relações de pais e filhos… e teve. Filhos eram obrigados a trabalhar gratuitamente, nas pequenas fazendas ou ofícios dos pais, em pequenos artesanatos das cidades nascentes, sem direito a pagamento, em desavergonhado regime de escravidão. Deviam sustentar os pais na velhice (porque não havia sistemas previdenciários por então – este ponto é até compreensível), obedecer-lhes e respeitá-los sem questionar, em qualquer circunstância, já que (exemplificando com nossa cultura novamente, para não parecer que difamamos outra) era pecado abominável, segundo determinação bíblica, não honrá-los (até a morte), prescrição esta, por sinal, escrita com o “Próprio Dedo de Fogo de Javé”, nas tais tábuas (de pedra) dos Dez Mandamentos (Urgh! – era para dar calafrios de medo mesmo, naquela pobre gente ignorante e assustada).

Pais dispunham da vida de seus filhos (não raro, como em Roma Antiga, sancionado em lei semelhante preceito), assim como detinham poder sobre a vida de seus animais, escravos (e de sua esposa, é evidente! – despautério machista!) – o que por aqueles dias era tudo quase a mesma coisa –, e poderiam executá-los (sim! isso mesmo: os filhos, como os animais), sumariamente, caso, por exemplo, descobrissem, ao seu modo de ver, uma filha em desonra, digamos: em sexo ou relações conjugais com um homem que ele (o pai) não houvesse determinado fosse seu parceiro de cópula… (Ai, ai, ai!… Que vontade de ver um pai destes pela frente e dizer-lhe do que está precisando realmente… no gueto gay há um palavreado bem apropriado, para nos sentirmos em plena desforra – risos). Falando sério: a gente só diz isso, porque provavelmente foi um desses pais perversos. Ninguém se inflama à toa, reza o princípio da projeção psicológica (risos mais ainda – bem empregado para mim).

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[Isabel, princesa de Portugal e rainha da Espanha, esposa de Carlos V e mãe de Felipe II. (Detalhe de um óleo de Tiziano)
Embora os portugueses relutassem em aceitar a ideia, o direito que levou Felipe II de Espanha ao trono de Portugal era, na época, não apenas legítimo, mas costumeiro. Casamento e herança determinavam as fronteiras com mais frequência que a política e a guerra. Não foi de outra maneira que Fernando V, de Aragão, e Isabel I, de Castela, uniram seus reinos e possibilitaram a consolidação da Espanha.” (Cortesia: Site do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia).]

Nem as realezas escapavam. Príncipes e princesas eram “dados” em casamento a outros “príncipes” de outros impérios, por seus respectivos pais, por questões de Estado – evitavam, por exemplo, guerras entre aquelas nações, pelo que, então, eram indiscutíveis e sagrados. Nem os filhos dos reis tinham direito a vida pessoal. Só os pais…

Naquele tempo… era dose ser filho. E os pais… eram para lá de cruéis…

Caminhamos, porém, para uma nova fase evolutiva, em que haverá a síntese dialética – para usar os termos de Benjamin e Eugênia – das duas fases anteriores (estou tirando sarro do médium – risos).

Embora haja pais sempre saudosos dos velhos tempos, pretendendo que seus filhos se sujeitem a seus caprichos e opiniões, e tentando submeter-lhes o destino a seus pareceres (dos pais – talvez porque, coitadinhos, padeçam de um complexo mal-resolvido de superioridade excessiva, vendo-se, internamente, como deuses do Empíreo, qual Zeus, com suas chispas na mão, a lançar raios sobre seus filhos rebeldes – risos), vivemos, de um modo geral, n’uma era em que os filhos andam deveras cruéis, como o expusemos na abertura deste artigo, a cobrar dos pais posturas exacerbadamente amorosas, de maneira idealizada e infantil (pois que um amor vicioso e escravo de seus interesses pessoais – dos filhos –, e não o amor zeloso e firme que educa, muito menos as permutas dignas, de igual para igual, entre criaturas que se querem bem), projetando, inconscientemente, esta forma de relação injusta e quase criminosa, na figura do Ser Supremo do Universo.

Haverá  um tempo, porém – e não tardará a chegar –, em que pais e filhos ver-se-ão como indivíduos que devem respeito e acolhimento recíprocos, de igual medida, sobretudo quando o sentido da reencarnação vier a cobrir os buracos de “incompreensão” de muitos. Os pais de hoje são, em número expressivo, grandes devedores de seus filhos, em outras vidas, e, exatamente por isso, recebem-nos à conta de rebentos, para terem a oportunidade de “pagar”, mais larga e facilmente, seus enormes débitos para com eles. Mas os filhos de agora não só devem o que obviamente recebem de seus pais (não precisamos acreditar em reencarnação para isso – eis por que o absurdo óbvio da postura lamurienta e abusada dos filhos), como talvez devam muito mais de outras existências, quando foram, eventualmente, ainda maiores devedores deles (os pais) do que são na atualidade (já que, amiúde, nossos credores de outras vidas assumem novamente a condição de pais, para nos tentarem resgatar das furnas do mal em que chafurdamos).

Filhos maduros se veem um pouco como pais de seus pais. É da lei da vida, inclusive, que, à medida que o tempo avança, os polos se invertam, numa mesma encarnação, principalmente nesta época em que as pessoas têm ensejo de envelhecer (morria-se, de antanho, em epidemias de gripe ou com infarto do miocárdio, bem antes de se chegar aos sessenta anos de idade) e, destarte, deparar-se com pais padecendo de demência senil, Alzheimer ou outras deficiências crônicas, progressivas e incuráveis, mesmo que apenas físicas (porque próprias do avançar dos anos, no corpo de matéria densa), que os tornam quase bebês, nas mãos de filhos amadurecidos, que os orientem e conduzam, e o deveriam fazer amorosamente, num misto de carinho e firmeza educativa e disciplinadora, assim como os pais devê-lo-iam ter feito com sua prole, durante a infância e a adolescência desta.

Minha pergunta-provocação, a você que é filho(a) – a todo mundo, portanto, visto que nem todos são pais biológicos em uma existência física –, é a seguinte: por que esperar que seu pai e sua mãe fiquem dementes, para tratá-los um pouco como crianças e sentir-se responsável por eles? Será que, hoje mesmo, intelectual, emocional e mesmo moralmente, já não são eles “deficientes”, em algum sentido em relação a você (quase sempre há um ponto de vantagem evolutiva para alguém), não porque a máquina orgânica deles esteja decadente, mas porque seus espíritos sejam evolutivamente limitados ou a educação que eles receberam, de outra geração, os tenha condicionado a vícios de conduta e opinião que não condizem com seus – de você, filho(a) – valores e princípios?

Não se irrite com seus pais: apiede-se deles; e tente assumir uma postura de pais deles próprios. Não lhe estou propondo que se torne o(a) escravo(a) do passado, que se submetia a tudo que viesse dos senhores-pais, porque assim era (supunha-se) da Lei de Deus e dos homens, mas que – muito pelo contrário – se dignifique, fazendo-se o(a) irmão(ã) zeloso(a) com mais juízo, que antes eles tiveram a oportunidade de o ser, quando você deles dependia, física, econômica e emocionalmente. Agora, chegou a sua vez de colaborar e retribuir, inclusive os gestos generosos de severidade, sem impulsos de revide pelos abusos (ou o que você presume tenham sido abusos) do passado, da parte deles – quase sempre, ainda os autênticos, motivados por ignorância e inconsciência, o que nos deve mover de compaixão, mais ainda.

Conforme nos ensinou o Cristo, somos todos irmãos, e Pai-Mãe é Um(a)-Só… E a Ela-Ele tudo devemos. Quando amadurecermos, psicológica e coletivamente, para esta nova conduta entre pais e filhos, desaparecerão todos os “aleijões” sociológicos e religiosos relacionados aos conceitos e comportamentos das criaturas para com Deus. Não haverá mais feitiçarias, com derramamento de sangue, blasfêmias secretas (caladas no silêncio dos corações)… nem mesmo  catedráticos esquizoides declarando que Deus não existe, porque – perdoem-me os Ph.D’s mais sensíveis – “elas”, pobrezinhas, não são “deusas imortais”, sempre belas e jovens e transando com umas criaturinhas lindas de vez em quando, promiscuamente, do alto do Olimpo, chispando raios contra os que se opõem a seus caprichos. Desculpem-me os excessos da brincadeirinha do gueto gay… mas, para meu prisma emocional, ateísmo é burrice e irresponsabilidade demais para com o coletivo (mormente em considerando as repercussões entre as faixas etárias mais jovens, reféns das endemias de uso de drogas e do suicídio juvenil, por exemplo)… e não suportaria falar de outro modo!… (risos graves)

(Texto recebido em 12 de junho de 2010.)


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