Benjamin Teixeira de Aguiar
pelo Espírito Eugênia.
(Benjamin Teixeira de Aguiar) – Querida Eugênia: um novo papa, o primeiro latino-americano, eleito em conclave célere, por histórica renúncia ao cargo de seu predecessor imediato; mais um imperador megalomaníaco, na Coreia do Norte, munido de armamentos nucleares, confrontando potências mundiais; a morte de um ditador delirante na América do Sul, deixando multidões estranhamente comovidas; um Brasil que dá sinais de perder o fôlego do crescimento econômico havido nos últimos anos; fanáticos religiosos a atacarem negros e homossexuais publicamente, de forma desavergonhada e cínica, alguns encarapitados em altos escalões da República… Sobre esses temas palpitantes e inusitados, transbordando simultaneamente nos noticiários internacional e nacional, você tem algo a nos dizer? Parece que a profecia de “fim de mundo” do Calendário Maia concretizou-se, mas de modo figurativo…
(Espírito Eugênia) – Quando uma era chega ao fim, os sinais eclodem por toda parte. Houve vários “apocalipses”, desde que o “Livro da Revelação” (1) foi escrito, ao final do primeiro século de nosso calendário gregoriano. Jesus falou sobre a “Parusia” (2), Seu retorno à Terra, como alegoria de novos padrões de consciência para a comunidade terrícola, que perfaz uma espiral dialética de evolução de culturas e povos, ou seja: nada linear, previsível ou suave, sobremaneira quando observada de uma ótica mais imediatista. Esse fenômeno místico-histórico do “final dos tempos” aconteceu a cada crise civilizacional sucedida de modificações profundas, em sua maior parte com implicações percebidas tão só da perspectiva temporal de muitos séculos posteriores.
Entre esses vários “armagedons” (desde a partida do Cristo Verbo da Verdade do plano físico de existência, nos primórdios da Era a que Ele Mesmo deu início), destacamos, em caráter ilustrativo, simplificando extremamente, para fins didáticos: a chacina dos cristãos, movida por Nero; a perseguição a médiuns e paranormais (bruxas) e cientistas ou revolucionários políticos (hereges), no transcurso da Idade Média; a abominação, escravização e assassinatos seriais de judeus, negros e homossexuais, que teve uma revivescência particularmente diabólica com o nacional-socialismo alemão dos anos 1930-1940 (conhecido mais por sua abreviação “nazismo”), remanescendo na homofobia sinistra, sacrilegamente sustentada com base em textos extraídos da Bíblia, em interpretação literal, da mesma maneira como excertos bíblicos foram utilizados para justificar o genocídio de mouros, nas Cruzadas, e as execuções de um sem-número de inocentes (amiúde libertários e geniais), por séculos sucessivos de Inquisição.
Um papa que se apresenta com o nome “Francisco”, de origem jesuíta, simboliza muito claramente (por lembrar os combatentes estoicos da pureza e da disseminação da fé, respectivamente São Francisco de Assis e São Francisco Xavier) uma dramática necessidade de renovação das ideias de espiritualidade, na direção de uma maior autenticidade e maturidade de conceitos e prática religiosa, em consonância com os costumes e os avanços da contemporaneidade. E o fato de a iniciativa partir da mais antiga, e, por isso mesmo, das mais conservadoras instituições cristãs da humanidade, torna o evento ainda mais emblemático, mormente se levamos em consideração o poder de influência ainda vigente, sobre centenas de milhões de adeptos espalhados pelo globo inteiro, exercido pelo “Império Católico”, sucedâneo histórico do “Império Romano”, respeitadas as devidas diferenças e proporções de significado e poderio.
Um tirano psicodélico que lembra um adolescente lunático brincando, insone e dopado, na calada da madrugada, em um videogame gigante e surreal, dirigindo, com poder absoluto, um país asiático sem expressão (a não ser pela barbárie contra o próprio povo, que se esvai de fome, aos milhares, todos os anos), mas que se vê em condições de ameaçar potências hegemônicas e criar perturbação internacional, com suas bravatas relativamente perigosas, constitui um quadro que espelha, de modo caricatural, outros abusos que igualmente soam delirantes (para quem tenha uma visão mais esclarecida), como os ainda perpetrados por nações ditas desenvolvidas contra países pobres e despreparados para o mundo moderno, ou os que são levados a cabo no interior de muitas nações (principalmente as menos prósperas, por trágica ironia), entre seus segmentos sociais, no campo da distribuição de renda, oportunidades de trabalho e realização pessoal, educação, saúde e justiça para todos.
Sobre um Brasil que oscila, em termos econômicos, periclitando perder o ritmo de desenvolvimento e credibilidade internacional dos anos recentes, podemos dizer (sem teorizar acerca de assuntos técnicos, mais cabíveis a financistas e outros especialistas das ciências socioeconômicas encarnados) que representa índice vívido da necessidade de renovação da cultura pátria em relação ao trabalho, conclamando o povo a se voltar mais para a disciplina do esforço e menos para a celebração irresponsável de massas, movidas a excessos alcoólicos, altos decibéis de música de baixa qualidade e promiscuidade selvática tida à conta de liberação dos novos tempos.
A morte de um tirano sanguessuga e hipnótico na Sul América, que enlouquecia não apenas a sua, mas também nações vizinhas, aponta, da mesma sorte, para uma urgente necessidade de elevação no grau de lucidez de indivíduos e comunidades, imersos como estamos na tão propalada “Era do Conhecimento”, por meio de amadurecimento de instituições democráticas, pelo fortalecimento da independência de veículos de comunicação e informação e, sem dúvida alguma, pela melhoria dos métodos de educação das novas gerações.
Quanto ao patético bizarro de lideranças religiosas não legitimadas pela tradição fiel às suas origens (qual a do luteranismo de viés decente), que vivem o mercantilismo religioso maldisfarçado de fé, só podemos asseverar que as forças do mal, cedo ou tarde, traem sua natureza, revelando seus verdadeiros propósitos. O barulho que tais agentes da retaguarda fazem atualmente, prenhes de arrogância e pretensão, prejudicar-lhes-á significativamente os interesses, de uma forma que, intelectualmente míopes, nem de longe entreveem, porquanto aceleram processos históricos que os precipitarão em obsolescência e converterão em crime ou perversão, para a lente da lei e diante dos olhos da opinião pública, o que hoje eles consideram virtude e certezas inabaláveis.
(BTA) – Mais algo a dizer sobre tantos e relevantes temas entrelaçados, Eugênia?
(EE) – Que observemos o grito de “final dos tempos”… Os que mais propalam esta ordem de profecia, com muito gosto e pompa presunçosa e ignorante, não sabem que falam de si mesmos e de seus sistemas medievais, mesquinhos e perversos de enxergar o mundo e seus irmãos em humanidade, distanciando-se dos paradigmas modernos de confraternização universal e de aceitação das diferenças e minorias de todas as ordens. Vivemos uma nascente, mas poderosa e irreversível, onda civilizacional que prestigiará uma mundivisão de normalidade generalizada, já que toda criatura, dalgum modo, pertence a um ou mais grupos passíveis de discriminação. As instituições democráticas, o bom jornalismo, as comunidades científica e artística, a população como um todo, cada vez mais informada e crítica, não permitirão que o comboio da história descarrile.
A tendência é de evolução sempre, no sentido do humanismo, da solidariedade entre indivíduos e povos, ainda que essa transição se faça, inexoravelmente, à força de marchas e contramarchas, seguidas, porém, invariavelmente, de avanços maiores que os retrocessos aparentes, momentâneos, meros efeitos delusórios, quais os “flashbacks” que padecem alguns ex-usuários de drogas psicogênicas mais pesadas. A Idade Média e os regimes ditatoriais dos últimos séculos lançam seus revérberos finais no presente, quais sombras macabras mas evanescentes, assim como um moribundo pode, nos estertores finais, às vascas da morte, apresentar espasmos que assustem os menos avisados.
(Diálogo entabulado em 19 de março de 2013.)
(1) Outra forma de denominar o último livro do Novo Testamento – o Apocalipse –, literalmente assim chamado, por sinal, na Bíblia em Inglês.
(2) “Presença”, em grego, designando, aqui, a também conhecida como “Segunda Vinda do Cristo” ou “Segundo Advento de Jesus”.