Não lute contra o inevitável. Aceite sua natureza humana tal qual ela é. Pelo fato de nos sabermos seres em construção não implica dizer que podemos fazer qualquer coisa com nós mesmos. Ou seja, depois de fincado a certo pedaço de chão, um projeto de engenharia tem limites claros a serem respeitados. Uma planta foi configurada, como baliza mestra de todas as diretrizes de edificação, considerando objetivos da construção, bem como possibilidades da fundação, do solo, etc.. O mesmo e muito mais complexo ainda se dá com o ser humano. Você é um ser em processo de autofazimento. Mas, pelo fato de querer ou, em outras palavras: fantasiar alguma coisa para você, não significa, de pronto, que isso seja viável. Algumas matrizes essenciais de sua psique devem ser obedecidas. Se você não levar em conta as possibilidades, até mesmo de evolução, de suas estruturas mentais estará se condenando a fragoroso fracasso.
Existe uma falsa cultura, pervagando atualmente, de que todos os seres humanos têm o mesmo potencial e que, por isso, qualquer um pode, se realmente quiser e se agir do modo correto, tornar-se um Einstein, um Niginsky ou um Pelé. Não é verdade, e o senso comum atesta isso.
Em essência, num último nível filosofal, é claro que todos os seres humanos têm o mesmo potencial – mas aí estamos considerando todo o horizonte temporal do histórico evolutivo de um indivíduo. E, indubitavelmente, há pessoas mais à frente que outras no carreiro do desdobramento indefinido de suas potencialidades latentes de deuses e deusas adormecidas, assim como há cérebros de melhor ou pior constituição e formação cultural de melhor ou pior qualidade. Se um indivíduo é portador de determinada deficiência neurofisiológica congênita, por mais que receba tratamento adequado, certas fronteiras de desenvolvimento mental nunca poderão ser ultrapassadas, o mesmo se dizendo de alguém que não tem acesso a informações: por mais brilhante seja sua inteligência, seu arcabouçou de concepções estará sempre adstrito a um circuito estreito de valores e ideias.
Respeite a si mesmo e, por fim, ao bom senso. Não se exija aquilo que foge a suas condições evolutivas. Ouça suas vocações, veja o que realmente seu ideal lhe pede e siga isso. Você vive numa cultura tirânica, que impõe modelos de beleza, de inteligência, de competência profissional e de riqueza que são colocados como condição sine qua non para se ser aceito integralmente pelo grupo social, o que ninguém, em nenhum momento de sua vida, consegue enfeixar de modo absoluto. Assim, não se deixe levar pelas falácias sedutoras dessa civilização da inveja, do consumo e da humilhação, e procure encontrar um norte dentro de si mesmo, para sua paz e sua felicidade. Esqueça de tentar, ingloriamente, corresponder às impossíveis expectativas externas, e faça o possível para atender aos seus próprios reclamos íntimos de ventura e tranquilidade. Claro que não proponho que se torne um ermitão, afastado da interação social e perdendo a excelente oportunidade de crescimento pessoal que os atritos com a diversidade oferecem, em termos de enxertia e estímulo psíquicos. Todavia, não perca o referencial básico das prioridades. Para você, o que mais importa não é a aprovação externa e sim o alinhamento com sua consciência. Se você se sente aprovado por si mesmo, o resto é consequência. Todas as adversidades, naturais à vida humana, poderão ser arrostadas com serenidade, coragem e segurança. É isso o que distingue líderes, revolucionários e grandes formadores de opinião do resto da humanidade: têm voo próprio e não dependem de subsídios emocionais externos para suprirem suas necessidades íntimas de amparo e de conforto. Já os homens pequenos, preocupados em se mostrarem grandes homens, violentam-se para se enquadrar nos modelos que o sistema apresenta, perdendo espontaneidade, fluência e vida, deixando de aproveitar seus pontos fortes, para se dedicar aos pontos que a cultura considera fortes.
Seja como os grandes homens: não pretenda ser grande homem – seja você mesmo.
Matheus-Anacleto (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
23 de novembro de 2000