Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Você vê um transeunte atravessando a rua devagar, e irrita-se e pragueja, buzinando, impaciente. E se fosse uma velhinha semi-inválida – como agiria? Certamente reduziria a velocidade, condoído de tanta limitação física.
Você vê um homossexual afetado, cheio de trejeitos agressivos (*) e se enoja por dentro, fazendo, amiúde, caretas por fora. E se fosse um paraplégico de cadeira de rodas – como se sentiria? Certamente se impregnaria de compaixão, por sua deficiência.
Você vê uma pessoa em surto de raiva e se inflama de revolta, ante tanta grossura. E se fosse uma criancinha de três anos, no teatro da raiva – como se postaria? Provavelmente acharia graça e depois se preocuparia com seu bem-estar, tentando tranqüilizá-la.
Você vê uma pessoa arrogante, desfilando em carro de luxo, com olhar de desdém para todos, e se enche de desprezo e raiva, por sua conduta vil. E se fosse um lunático, amordaçado em camisa de força, desferindo impropérios na via pública, vituperando inimigos imaginários? Certamente se moveria de profunda piedade, compadecendo-se de sua tão mal-fadada sina.
E quem lhe disse, meu amigo, que o transeunte displicente, o homossexual desajustado, o irascível descontrolado e o prepotente ensandecido não são, em muitos sentidos (e talvez bem concretamente, por dentro), a mesma velhinha que estaria atravessando a rua com dificuldade, o aleijado “pobre coitado” na cadeira de rodas, a criancinha mimosa e infeliz em transtorno das emoções e o louco atormentado que não precisa de ninguém mais para ajudá-la a se sentir desgraçado?
Observe com mais cuidado aqueles que seguem ao seu lado. Por detrás das aparências mais bem-acabadas, pode você encontrar mais miséria e dor do que imagina, caso se dê ao cuidado de fitar com os olhos do coração. Assim, com o tempo, você aprenderá a avaliar os outros com a perspectiva do espírito, e não só vislumbrará a verdade mais fidedignamente, como tomará a postura serena, isenta e profunda reputada a santos e sábios, em que, um dia, todos nos converteremos.
(Texto recebido em 6 de janeiro de 2005.)
(*) Eugênia faz alusão, como fica claro nesta passagem, ao gay desequilibrado, que sofre de distúrbios do comportamento, como o exagero explícito da gesticulação, caricaturar este, quase sempre, motivado e (certamente estimulado) pela perseguição cruel da discriminação. A grande sábia do Além jamais se colocaria contra a homossexualidade, o que qualquer pessoa medianamente esclarecida dos dias de hoje jamais condenaria, nem no sentido psicológico, nem no moral ou espiritual, como atestam a Psiquiatria e as diversas escolas de Psicologia, há várias décadas. O mesmo tipo de raciocínio poder-se-ia expender para o exemplo seguinte da pessoa em “surto” de raiva. Ninguém relativamente entendido de psicologia humana se poria, de sã consciência, contra a agressividade em si, energia fundamental para a ação e a reação construtivas, em momentos críticos da existência. O surto, todavia – ou seja: o momento de delírio e conseqüente perda do senso de proporções e de realidade – de qualquer ordem que seja, é sempre indesejável e patológico.
(Nota do Médium)