É evidente que há instantes graves na existência, em que sentimos que as barreiras do razoável foram ultrapassadas por alguém com quem convivemos e que, por isso, seremos irresponsáveis se não agirmos com firmeza, o que nada tem a ver com resvalar na falta de compreensão.
Desculpar um(a) transgressor(a), nessas situações-limite, está em não guardar mágoas e em desejar sinceramente sua felicidade, após a ruptura imperiosa dos laços de intimidade, e isso já constitui significativo desafio para o ser humano de evolução média na Terra da atualidade. Reconhecemo-nos numa dessas conjunturas moralmente críticas, quando nos consideramos cúmplices do erro alheio se não nos afastamos do(a) agressor(a).
Todavia, é muito comum não só que pessoas se permitam ser abusadas, permanecendo passivas ante algozes próximos, mas também o extremo oposto: a dramatização de rusgas de somenos importância, que poderiam ser diluídas com um pouco de isenção de ânimo, de maturidade psicológica, de sabedoria e lucidez, em última instância.
Lembremo-nos de que Nosso Mestre e Senhor Jesus asseverou, categoricamente, que deveríamos perdoar os deslizes de nossos semelhantes “setenta vezes sete vezes”, para caracterizar, alegoricamente, a ideia de infinitude no padrão de consciência que devemos imprimir em nossas almas.
Mais uma vez, aquele seu ente querido incorreu em erro óbvio e elementar. Você já o havia repreendido, por se tratar de uma questão de respeito a seu espaço. Mas também já tinha aplicado o espírito cristão da indulgência sinceramente vivida – aquela que não deixa traços de rancor na relação após o episódio menos feliz, uma postura excelente, tanto para quem é foco desse perdão quanto, principalmente, para quem o exercita, não só em termos de bem-estar emocional e espiritual, mas mesmo de saúde física.
Avaliando a si mesmo(a) com critério, sabe que não houve nenhuma atitude sua que estimulasse o comportamento inapropriado do(a) ofensor(a), e inclusive você tem estabelecido, sempre que ocorre uma recaída mais grosseira da parte dele(a), consequências objetivas que o(a) desestimulam a reincidir na queda.
Entretanto, após o diálogo franco e fraterno, em que torne a deixar claras as fronteiras da consideração recíproca aos sentimentos de um lado e de outro, não se atemorize em parecer fraco(a) e fomentar, indiretamente, com o seu exercício do perdão, a má conduta do(a) companheiro(a).
É impraticável ser funcional e mentalmente saudável, em qualquer circunstância da vida, sem a prática constante de tolerância com a diferença menos confortável de irmãos(ãs) em humanidade e mesmo de indulgência com faltas evidentes de terceiros.
Por outro lado, estimado(a) amigo(a), se você não conseguir perdoar um(a) componente de seu núcleo familiar, alguém com quem interage no seio doméstico, como lhe será possível manifestar a compreensão solidária n’outros contextos mais amplos, de menor intimidade, sem ser inconsistente e superficial em sua demonstração de fraternidade? O microcosmo do lar reflete, metafórica e misticamente, o macrocosmo da humanidade inteira.
Cuidado para não cair na armadilha da lamentação que instila o desespero a respeito do(a) outro(a), ao julgar que um certo equívoco que seu(sua) parceiro(a) de jornada existencial cometeu, reiteradas vezes, não teria mais cabimento de acontecer.
Há situações aparentemente repetitivas e ordinárias que, se observadas com atenção, contêm desafios novos a serem faceados. Numa análise mais profunda, todo momento porta suas lições próprias a assimilar, quer o(a) viajor(a) da existência humana note isso ou, como é lamentavelmente mais comum, não o perceba, desperdiçando, assim, inúmeras oportunidades de evoluir, fortalecer-se e ser mais feliz!…
Eugênia-Aspásia (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
New Fairfield, Connecticut, EUA
21 de dezembro de 2018