Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Jesus, meu caro, pode lhe ter permitido sofrer uma grande queda, para lhe mostrar o caminho da redenção; para, pelo efeito turbo da descida, favorecer-lhe o impulso de subida maior e mais rápida. A ascese, amiúde, torna-se obrigatória, para aqueles que desceram aos vãos mais escuros da decadência, o que nem sempre acontece com os pacatos “normais”, mais preocupados em sobreviver com conforto material e aprovação social, que em serem salvos do que seja, por quem quer que seja…
Certa feita, perguntaram ao Cristo, porque um aleijado assim o era, se por culpa dele ou de seus pais; e o Mestre respondeu, ato contínuo, que era para que a Graça Divina pudesse se manifestar nele, e, por ela, muitos cressem n’Ele e se salvassem, imediatamente curando o paralítico e fazendo-o andar à vista de uma platéia atônica, que recebeu a semeadura do Reino dos Céus em seus corações.
Deus permite haja o erro no mundo para que, por meio da experiência nele haurida, desenvolva-se a capacidade de acertar com segurança; permite haja a sombra, para que desponte no íntimo das criaturas a sede de luz; autoriza a presença do mal, para que se anseie avidamente pelo bem.
O Mestre vivia cercado de gente de “má fama”, que de fato havia se enredado por caminhos escabrosos, como prostitutas conversas e funcionários públicos corruptos – os coletores de impostos em nome de Roma – desejosos de se ressarcirem ante a própria consciência e perante Deus. Desiludidos com as futilidades e hipocrisias da vida em sociedade, já não esperavam nada de ninguém e aguardavam tudo de Deus, eis porque tão receptivos à mensagem e interferência do Mestre dos mestres em suas pobres vidas. Além deles, uma multidão de necessitados e doentes de todas as ordens acompanhava o Divino Amigo. Declarou o Cristo que viera para os enfermos; que os sãos não precisavam de médico, e, por isto mesmo, deixava-se cercar de gente angustiada em busca do resgate de si mesma, enquanto “doutores da lei”, os “homens de bem” e os admiráveis do seu tempo, incluindo seus próprios discípulos mais próximos, estavam, nas próprias palavras do Cristo, fadados a adentrarem o “Reino dos Céus” depois de muitos daqueles condenados e párias sociais.
Nunca imagine sua situação perdida. Quem muito errou, muito pode ser perdoado e amado por Deus, sintonizando-se com a misericórdia do Alto como ninguém. E, assim, enquanto muitos o observarem com desdém, com erros muito mais clamorosos na sua ficha cármica, vivendo egoística e vaidosamente preocupados com suas aparências e conveniências materiais, você, com idealismo, sinceridade de propósitos e serviço constante ao próximo, pode estar nos braços de Jesus, caminhando, ao lado d’Ele, para o gólgota da redenção, com sua cruz mística de determinação no bem e solidariedade contínua apontando, qual seta sagrada, na direção da ressurreição de vida eterna, que aquel’outros que o apupam podem estar muito distantes de vislumbrar, ainda que apenas como um rápido lampejo de esperança…
(Texto recebido em 24 de janeiro de 2006.)