Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Há mistérios indevassáveis à mente humana, diante dos quais cabe desenvolver espírito de reverência, humildade, lucidez em admitir que não se pode apreender e entender tudo.

Por outro lado, pelo fato de se perceber um limite, não se deve renunciar a tentar superá-lo, pugnando valorosa e persistentemente por transcendê-lo. A percepção de um enigma da Natureza exige estudo, expansão das capacidades de análise, para que se possa adentrar seu núcleo ontológico ou, ao menos, destrinchar a superfície de sua realidade fenomenológica – sua manifestação. Todavia, mister buscar conhecer parte, obviamente, do princípio de que não se sabe. Por isso mesmo, cresce-se. As fronteiras do pensamento se alargam por, primeiramente, serem notadas. Se alguém presume não encontrar incógnitas, segue distorcendo realidades complexas e deturpando-as, na adaptação grosseira e simplista a seus quadros conceptuais estreitos, perdendo de enxergar o mundo como ele é, ou de melhorar sua visão a respeito dele, iludindo-se.

Espírito religioso e científico, dessa perspectiva, são indissociáveis. O verdadeiro sentido de isenção científica está intrinsecamente relacionado a admitir que não se conhece alguma coisa e que, por isso, deve-se ser o mais imparcial possível na sua observação, para, no processo de sondagem, não se fazer projeção de pressupostos errôneos de verdade, baseados em experiências, conjecturas e dados anteriores, não necessariamente correlacionados ao com que se depara. Isso significa reconhecer que se está perante um segredo a ser desvendado, uma charada da Vida, e não um fato, uma certeza ou uma verdade. Não à toa disse Albert Einstein – unanimemente considerado o maior expoente científico do século XX – que o Mistério Último da Natureza, a Origem de Tudo, que chamamos de Deus, nunca seria de todo desvendado.

Se você é inteligente e informado, sensato e emocionalmente maduro, entenderá facilmente o que estamos dizendo. É típico das psiques amadurecidas enxergarem que não são tudo. O egocentrismo infantil já foi superado, e elas percebem, com clareza, haver muita coisa que transcende o estreito cosmo cognitivo de um indivíduo – embora, justamente por sobrepujar-lhe, seja indefinível.

A partir de hoje, quando se deslumbrar com a Ciência, sinta-se estimulado a ainda mais curvar-se ante a Grandeza do Infinito, porque, se o que já é de domínio do tacanho território do saber humano o impressiona, imagine o que não permanece velado nas dobras da eternidade, aguardando maior preparo dos observadores, para ser devassado.

Tecnologia, avanços científicos, conhecimento em larga medida serão das mais importantes ferramentas para incentivar, no ser humano, o progresso de suas faculdades e vivências místicas. Quem muito sabe começa a notar que nada sabe, já disse o grande Sócrates. É da arrogância medíocre de intelectos pouco desenvolvidos a ilusão de supor poder-se dispensar a existência de um Ser Maior, por detrás do evidente, na subjacência de todos os processos, na origem de tudo que se pode cogitar e do que sequer se pode conceber.

Crer em Deus e ser feliz, por saber-se envolvido por Seu Infinito Amor, muito em breve, serão corolários naturais de avançado conhecimento científico. Não porque se venham a encontrar provas de Sua existência, no sentido ortodoxo do termo, mas pelo reconhecimento cabal de que a total ordem axiomática dessa proposição torna risível qualquer iniciativa de se tentar comprovar o que é auto-evidente por todos os ângulos de avaliação que um observador imparcial tome como perspectiva de análise.


(Texto recebido em 28 de setembro de 2000. Revisão de Delano Mothé.)