Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Eugênia, uma tendência tem crescido, nos países mais civilizados, bem como nas classes cultas dos países em desenvolvimento: a quantidade pequena de filhos ou mesmo a ausência deles, como uma opção de família. O que teria a dizer sobre isso?
Esperável e desejável. Os recursos naturais da Terra estão se esgotando, os ecossistemas estão sobrecarregados. O colapso da frágil biosfera seria uma possibilidade concreta e muito provável, para um curto prazo, não começassem a acontecer decréscimos no ritmo de crescimento das populações ou mesmo decréscimos da própria densidade demográfica em algumas regiões do planeta. Eis uma macro-análise. Isso coincide, por outro lado, com as necessidades de atenção, carinho e educação que as crianças e adolescentes solicitam, para um desenvolvimento saudável, e que, num mundo onde pais têm poucas crianças, isso pode ocorrer mais facilmente, por os adultos disporem de mais tempo e mais espaço emocional para seus rebentos, além de terem filhos mais por vocação, que por obrigação, como no passado, já que hoje é permissível casais optarem por não terem filhos.
Mas isso acontece justamente, como disse, nos países mais ricos ou nas classes mais ricas dos países pobres ou emergentes, como o Brasil.
Um dia, a tendência também chegará a eles. As megatendências civilizacionais sempre surgem nos ambientes mais avançados, para, depois, espraiarem-se pelo mundo. É o que vemos em relação à tecnologia e outros recursos ofertados pela Ciência.
Mas há nações que podemos dizer completamente privadas dessas benesses, como se houvesse uma cordão de isolamento entre o mundo em progresso e elas…
Sim. Por enquanto. Em breve, a comunidade internacional perceberá a necessidade gritante, para os ricos, de abolirem a miséria dos muito pobres, não só para preservarem suas riquezas, mas até suas vidas. Eis um dos trunfos da era do terrorismo (poucos costumam ver aspectos positivos no Terrorismo). Não chegaram ainda a essa conclusão, mas, tanto mais demorem, mais tragédias ocorrerão, até que se dobrem aos fatos: a grande injustiça social e econômica que separam os povos e a necessidade humanística de debelar essa disparidade vergonhosa para a espécie humana.
Qual o número ideal de filhos?
Não existe esse número. Varia, conforme temperamento, estrutura psicológica e moral, e, principalmente, programas cármicos de cada indivíduo. Portanto, que cada um ausculte suas intuições e saberá se deve ter dois filhos, um, nenhum, ou adotar uma multidão de crianças carentes, numa gigantesca instituição para menores abandonados. A voz da consciência, a sensação de paz e de dever cumprido, ou, em reversa situação, de angústia, lhe fará entrever o que devem fazer.
E quanto àqueles que consideram um ato de egoísmo a escolha por não ter filhos?
Uma dedução apressada e pobre em profundidade. Obviamente, há pessoas que são tão ego-centradas que não conseguem conceber dividir suas vidas com outras pessoas, dedicarem-se ao bem do próximo ou amarem, sem esperar recompensa. Só que muitos dos que se candidatam ao posto e de fato se tornam pais têm exatamente esse perfil, e procriam por convenção, por sentimento de obrigação ou, pior que tudo: para tirarem proveito emocional da relação com seus filhos, preocupados, por exemplo, com o próprio futuro, na velhice (esperando que os filhos os amparem mais tarde), ou para se compensarem de frustrações afetivas, nas relações interpessoais com outros adultos. São almas mesquinhas, que projetam suas carências e frustrações, em seres que não podem se defender adequadamente, nem detectar suas intenções verdadeiras ou processar os impactos destrutivos na sua personalidade, em processo de formação. Esses pais tiranizam, manipulam e tornam ou tentam tornar os filhos marionetes de seus caprichos e sonhos pessoais. Melhor seria que não se reproduzissem. Animais em cativeiro, para procriação em massa, com fins de abate, são mais inofensivos que eles. Além do quê, imprescindível considerar a existência do extremo oposto a esta condição psico-moral, a outra ponta do espectro que vai da generosidade incondicional ao egoísmo mais medonho: alguns daqueles que conscientemente optam por não ter filhos, sentem que não precisam produzi-los biológicos, porque já os têm muitos, psicológicos. Espíritos mais avançados no carreiro evolutivo, vêem crianças carentes e necessitadas de amparo, orientação e afeto em toda parte, sejam adultos, velhos, ricos ou pobres, letrados ou incultos. Para cada um, têm uma quota de afeto de sua larga capacidade de amar, desenvolvida nas numerosas reencarnações a mais que têm sobre a média planetária, e distribuem esse amor a mancheias, convertendo-se em pilares de comunidades inteiras, com sua visão e presença maduras de almas mais velhas e generosas. Seria não só injusto, como incoerente, enquadrá-los na categoria de egoístas, já que, amiúde, esquecem-se de si, sacrificando as alegrias intraduzíveis da constituição de um lar, para servir a multidões de anônimos, normalmente constituídas de beneficiários que se esquecem das bênçãos recebidas de seu devotamento.
Mais algo a dizer sobre o assunto?
Não.
(Diálogo travado em 18 de maio de 2004.)