A semântica das palavras facilmente se faz traiçoeira. Por mais complexa ou intrincada se afigure uma temática, todavia – e provavelmente ainda mais por isso –, cabe-nos o esforço elucidativo de organizá-la em linguagem humana, de maneira a propiciar reflexão, debate, aprendizado, amadurecimento, resolução de conflitos improfícuos e até, ironicamente, fomentação de outros conflitos, de cunho construtivo e educativo.
A partir do vernáculo lusofônico, que escolhemos como veículo original de comunicação de nossas mensagens, utilizaremos, livremente, quatro vocábulos específicos para definir níveis distintos de aprimoramento dos sentimentos humanos, no capítulo particular do amor, abarcando um espectro amplo o bastante para incluir, num polo, criaturas que se encontram nas fronteiras da identificação com os(as) brutos(as) – ou com os demônios – e, noutro, as que desfrutam os preâmbulos da candidatura à angelitude ou à plena iluminação.
1º) Empatia
Índice mínimo de humanidade saudável. Portá-la, em algum grau, afasta o indivíduo da psicopatia.
2º) Compaixão
Etapa de desenvolvimento psicológico e moral subsequente à da mera empatia. Nesta fase, além de apenas se sentir no lugar do próximo, a pessoa se mobiliza no sentido de lhe prestar algum gênero de auxílio. Geralmente, a compaixão acontece entre familiares e/ou amigos(as) íntimos(as).
3º) Piedade
O ser então atinge o mar alto da consciência para com a coletividade, assim ostentando responsabilidade social profunda. Suas escolhas de vida, qual o engajamento em carreiras profissionais ou acadêmicas, são motivadas pelo sincero propósito de servir ao bem comum, a estranhos(as) na via pública, a segmentos desfavorecidos ou discriminados das sociedades, à humanidade como um todo, com espírito de compromisso e estoicismo muito superior ao que psiques normais (para os atuais padrões evolutivos do orbe) demonstram em relação a seus entes queridos.
4º) Misericórdia
Por fim, desponta, quando em sua manifestação pura, o signo das almas santas ou em processo de redenção e transcendência da condição meramente humana. Não se trata apenas da aptidão para amar, de modo especial e desinteressado, alguém que sofra e precise de amparo, ainda que desconhecido(a) – o que caracteriza a classe anterior dos(as) piedosos(as). Compõem esta categoria dos(as) misericordiosos(as) aqueles(as) que sintetizam piedade com indulgência, de sorte que amam e servem ao bem até mesmo de personalidades ou grupos que os(as) hostilizem, pessoal e diretamente.
Algumas questões sobre os espíritos que estagiam nesse patamar de nobreza de sentimentos precisam ser esclarecidas, no entanto, a fim de que se evitem confusões perigosas e vícios danosíssimos:
1) São tão raros na Terra, que, de ordinário, quando alguém parece manifestar esse diapasão, em dada circunstância, a semelhança é provisória, inconsistente ou simplesmente constitui fenômeno diverso.
2) Têm todo o cuidado de não estimular o mau comportamento de agressores(as) insensíveis a gestos de generosidade, tanto que seus impulsos benevolentes comumente passam despercebidos, sendo muito bem ocultados de seus(suas) beneficiários(as).
3) Agem frequentemente contra o próprio gosto e interesse, como amiúde contrariam as expectativas de quem é foco de sua misericórdia, porquanto, movidos por uma tração intensa, estimulante e sublime do amor, mui dificilmente se enquadram nas aparências convencionais de bondade ou santidade, segundo os paradigmas e valores culturais da civilização terrena dos dias que correm.
Mais uma vez, o melhor exemplo desse Plano Excelso de Consciência se encontra em Jesus, que não só Se recusou a dirigir palavra a Seus crucificadores, enquanto rogava a Deus que os perdoasse¹, mas também, na mesma expressão de sublimidade que Lhe emoldurara o silêncio piíssimo, esbravejou no Templo de Salomão² e lhe revirou as bancas, com um chicote à mão, improvisado com cordas, canalizando, dessarte, o extremo oposto da igualmente misericordiosa Ira Divina.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Eugênia-Aspásia, Matheus-Anacleto e Temístocles (Espíritos)
em Nome de Maria Cristo
LaGrange, Nova York, EUA
7 de julho de 2021
1. Lucas 23:34.
2. João 2:15; Mateus 21:12; Marcos 11:15.