Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.
Seu interlocutor, querelante contumaz, fita-o inflamado, com os olhos injetados e vermelhos, enervando-o. Tem a invulgar habilidade para ver problema em tudo, ou, como melhor seria dizer: questões de estado nas mais comezinhas dificuldades do caminho.
Antes, porém, que desvarie, resvalando para o delíquio da queda moral, sintonizando-lhe o desequilíbrio emocional e mesmo mental, pare e pense com cuidado. É isso que realmente quer? Não estaria entrando no jogo dele?
O cérebro, programado para situações de perigo, em função da prioridade maior de eras antigas – a sobrevivência – costuma pregar peças nos menos avisados. O córtex e o neo-córtex são inundados de hormônios provenientes do sistema endócrino, por ordem do hipocampo, o cérebro límbico, arcaico, animal, de modo que sejam obnubilados e não raciocinem claramente, mas se rendam aos impulsos primitivos de atacar ou de fugir, no que lhe parece ameaça.
Cônscio disso, detenha seu impulso de reagir de imediato. Peça licença para se ausentar momentaneamente; respire fundo; beba um copo de água fresca, lentamente; procure manter-se calmo e em prece. Recobrado o equilíbrio íntimo, restabelecida a razão, então retorne à baila da discussão, repetindo essa tática da trégua auto-imposta para recuperação da lucidez tantas vezes quanto se fizer necessário, fazendo dessa retirada estratégica uma metodologia permanente de manutenção da harmonia íntima.
No início, a técnica lhe soará extremamente difícil. Não é fácil resistir ao império arquimilenar do cérebro reptiliano, quebrar condicionamentos seculares de humanidade primitivista que lhe inflamam, no momento da revolta, do ataque injusto. Mas será justamente a vitória que palmilhar, centímetro a centímetro, nesse solo pantanoso da alma, que lhe dará segurança, autodomínio e paz, para as maiores crises de sua existência, qual um investimento no futuro, uma conquista de fortalecimento interior para quaisquer crises ou dificuldades que venha – e que virá, fatalmente – a enfrentar, vida afora.
Seu querelante destemperado afigura-se-lhe inimigo de sua paz, a primeiro exame. Constitui, em verdade, um grande ensejo para fortalecer-se, conquistar-se, vencer-se, e, com isso, ser capaz de tudo que sua consciência lhe inspirar como digno, justo e certo, em qualquer tempo e lugar. Pode, portanto, em vez de ser a figura demoníaca a azucrinar-lhe o juízo e tirar-lhe do sério, ser um grande auxiliar para sua felicidade, presente e futura, ao lhe propiciar o desenvolvimento do império sobre si, e, com isso, permitir-lhe capacitar-se para superar obstátulos e atingir seus objetivos.
(Texto recebido em 8 de junho de 2001.)