Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Novamente, você se vê atordoado, em noite insone de dilemas que o confundem. Intenta relaxar, mas percebe que, internamente, muitas forças se levantam para manter-lhe em vigília, como se a tensão fosse salvá-lo da iminência de despencar num precipício.

Tente se desvencilhar do espírito do desespero, ainda que não se sinta desesperado. E o princípio do tresvario está em se supor que, num momento apenas, se podem resolver questões complexas que demandam tempo, meditação, bem como paciência e energia, entrega, na incubação dos meandros de sua solução.

A mente humana é por demais subjetiva, para que possa ser resumida em enunciados simples, em almanaques de banca de revista. Você precisa ser ético, justo e bom; mas, sobremaneira, para que sejam genuínos, tais valores devem estar intrinsecamente entrelaçados com a busca da transcendência, com o impulso da evolução que pervaga toda a Natureza, incluindo o ser humano. Muito preconceito corre à conta de decência, e muita idéia destrutiva se traveste de dignidade, a fim de corromper mais ainda.

Assim, quando estiver angustiado, no impasse da avaliação, duvide um pouco de seu siso, para decidir com clareza: a angústia não é boa conselheira. Primeiro, que não existe clareza, em matéria do que é cinza por natureza: a moral – já que adaptável a situação, lugar, pessoas envolvidas, cultura, propósitos, entre outras inúmeras variáveis. Segundo, porque as pressuposições maniqueístas de divisão completa entre bem e mal são notoriamente reconhecidas como falsas, tendo, inclusive, gerado terríveis arbitrariedades, na perseguição utópica e tirânica da perfeição, como o nazi-fascismo do século XX.

Procure adaptar sua conduta aos limites éticos de sua alma. Não pense apenas em parâmetros socialmente impostos: são circunstanciais, dúbios e mutáveis. Já o que tange a seu coração, embora também mude, à medida que você evolui, mantém um padrão subjacente de cor mental, que sobrevive a todas as suas fases de desenvolvimento. Tal teor psicomoral deve ser rigorosamente respeitado. Qualquer infração a ele soa como terrível violência a si mesmo, tirando a paz, o sono e a alegria de viver do incauto que incorre em semelhante equívoco.

E como saber que padrão profundo de ser e sentir seria esse? – você poderia perguntar. Ouça a voz da paz, no íntimo de seu coração, e não terá dúvidas sobre o melhor caminho a seguir. Pode ser difícil, pode lhe custar esforço e sacrifício de gratificações passageiras, mas os benefícios e compensações, pelo empenho em segui-lo, de tal forma suplantarão a dor do investimento, que nem de longe lhe sobrarão dúvidas quanto a tomar sua rota.

Reflexão e auto-observação criteriosas são indispensáveis para tanto. Nada, porém, que seja sibilino, intrincado e inacessível ao ser humano médio. O que é essencial, Deus não reservaria a pessoas e contextos especiais. Trata-se do hábito de ouvir-se, sentir-se, estudar-se e respeitar o próprio modo de ser, em pensamentos, palavras e atitudes.

Desenvolva esse hábito, e perceberá que os motivos de angústia e estresse facilmente serão diluídos, com a força da clarificação íntima da sua verdade pessoal, propiciando-lhe paz, harmonia, equilíbrio e alegria de viver.

(Texto recebido em 17 de julho de 2000. Revisão de Delano Mothé.)