por Benjamin Teixeira.
Afora alguns poucos e breves cochilos, estou há praticamente 48 horas “no ar”, insone, por conta dos transtornos decorrentes do meu translado dos Estados Unidos para Aracaju, num périplo um pouco mais longo que o habitual.
Assim, estando agora às três horas da madrugada de quinta-feira, que equivaleriam às cinco da manhã no Nordeste norte-americano, com o cérebro avisando estar desligando os últimos fusíveis do sistema nervoso, dou-me ao luxo de comunicar que hoje não haverá mensagem psicografada, para não forçar um contato mediúnico em situações pouco adequadas – devemos, obviamente, ser bem responsáveis em atividade tão sagrada… E respeitando, sempre o fato de que os espíritos, às vezes, querem que eu mesmo me pronuncie sobre certos assuntos, eis-me aqui, para pinceladas ligeiras, antes do total colapso nervoso…
Gostaria apenas de comunicar uma reflexão que me ocorreu por lá, embora, de outras formas, já me houvessem surgido, desde 2000, quando vi nevar pela primeira vez. Embora já se esteja, por lá, no fim do inverno, com o degelo das camadas sobejas de neve e gelo que se formaram sobre as cidades, em certo momento tive que andar um pouco mais entre um ambiente devidamente climatizado para o carro, que estava estacionado um pouco mais distante… Não bastasse a temperatura abaixo de zero que fazia pequenas películas de água sobre o asfalto converterem-se em quase invisíveis espelhos de gelo, fazendo-nos deslizar o passo e claudicar volta e meia, o vento “soprava” forte e a sensação térmica desceu estupidamente… E eu, que adoro frio, que vivo em Aracaju, continuamente, sob efeito de refrigeração de ar, senti a pele das faces doer, doer de frio. Não se trata de uma figuração: a pele realmente doía, e não pouco. “Meu Deus, obrigado pelo meu tórrido Nordeste!”, ouvi-me dizer em voz alta, pasmo com a natureza de agradecimento que flagrava em mim. Olhei então para os prédios imponentes em torno, os carros sofisticados, as pessoas bem vestidas e educadas e pensei: “Que povo extraordinário: construiu a mais poderosa civilização do planeta sobre uma geleira…” Ao que porém, imediatamente, uma voz mental me segredou: “Justamente ao reverso: tornou-se superior essa civilização, por precisar edificar-se sobre uma geleira”.
O nosso Brasil de cultura relaxada e comodista, assim, é bem apropriado aos ajustes de um meio-ambiente em que a abundância da natureza tropical favorece a preguiça e o menor esforço, por oferecer todos os recursos à sobrevivência, sem muito trabalho.
Diante dessa reflexão, quando nos sentirmos tentados a reclamar por dificuldades, adversidades e outros tropeços da existência, bem como da necessidade de nos esforçar e trabalhar duramente para atingir nossos objetivos de vida, lembremos dos povos ultra-civilizados da Europa e dos Estados Unidos e pensemos que, se quisermos vencer ou realizar alguma coisa de valor, não nos será possível fazer isso senão por meio de muito empenho e determinação e no enfrentamento e superação de crises e obstáculos.
(Texto redigido em 12 de fevereiro de 2004.)