Benjamin Teixeira de Aguiar
pelo Espírito Matheus-Anacleto
Re-enquadre seus desejos em parâmetros que lhe convenham. Sempre que sentir forte impulso de fazer algo, veja se realmente é aquilo que quer. O vício tem mecanismos ocultos e traiçoeiros, que escravizam a pessoa de múltiplos modos, fazendo-a supor querer o que não quer.
Ao falar de vícios não estamos aludindo somente aos vícios assim convencionados, os mais óbvios. Incluímos, nessa categoria, o comer excessivamente, o precisar exageradamente estar em companhia de pessoa específica, o sentir-se compelido a assistir filmes e programas de TV sequencialmente, até a completa exaustão, o fazer compras muito além do necessário; em suma: toda atitude automática e repetitiva que afaste o indivíduo dos referenciais do bom senso, da lógica, e das grandes verdades espirituais de paz e plenitude de consciência.
Toda compulsão tem origem numa necessidade mais profunda não atendida. Ausculte o que o fundo do seu coração lhe pede. Um contato mais íntimo com Deus, a vivência do amor verdadeiro, o devotamento a um ideal de serviço sem nenhuma intenção de ganho pessoal, o desdobramento de uma vocação artística, a dedicação mais intensa à família e entes queridos de um modo geral.
Você não pode abdicar de viver nenhuma dessas dimensões de sua vida, sob pena de entrar em franco processo de desequilíbrio, frustração e de infelicidade por consequência. O que você busca é ter prazer e não estar viciado. E, como sua mente está programada ao prazer, não encontrando as satisfações profundas geradas pela sensação de dever cumprido, de utilidade pública, de pertencer a um grupo, de ser importante e necessário, de fazer o bem aos outros, de ser engajado em um Plano Maior de Deus, acaba desviando essa necessidade ciclópica de alegria de alma, para o corpo, exigindo dele o que ele não pode lhe dar.
Se você é viciado em drogas, procure, imediatamente, ajuda profissional, a fim de que receba o respaldo indispensável a seu restabelecimento. Ninguém se livra de certos tipos de condicionamentos metabólicos, sem auxílio médico e psicoterápico.
No trato com os vícios correlacionados a impulsos fisiológicos desregrados, como comer e fazer sexo em medidas além das pedidas pelo corpo, procure, a princípio, encontrar a moderação. Não faça dietas espartanas, nem tente ser sexualmente abstêmio. Sacrifícios tendem a ser compensados, biológica e psicologicamente, por períodos subsequentes de excessos descontrolados. Coma várias vezes ao dia, em pequenas medidas, com qualidade (é, inclusive, a recomendação atual da Medicina). Por outro lado, observe que há pratos saborosos que são também saudáveis e, paulatinamente, vá fazendo a permuta dos mais prejudiciais (ricos em gorduras e sacarose) por eles, habituando seu paladar ao que lhe faz realmente bem. E, no que tange ao sexo, jamais ultrapasse o ritmo de uma experiência diária, quer acompanhado ou sozinho.
Em tudo, como vê prezado amigo, o que interessa é a temperança e o equilíbrio. O que você quer é felicidade e não prazer contínuo. O prazer pelo prazer, sem qualquer disciplina, conduz a lastimáveis, trágicos e arrasadores estados de infelicidade. Estabeleça seus próprios parâmetros.
Ninguém está lhe pedindo que faça sacrifícios insuportáveis nem que renuncie a uma vida prazerosa, e sim justamente o contrário: que aprenda a viver sem o sacrifício da perda do prazer e da alegria de viver (o vício arrasta à perda total da sensação de prazer) e que possa, de fato, ter muitos, intensos e variados prazeres e, principalmente, que tenha o maior de todos: ser feliz.
Não pretenda mudanças revolucionárias, mas sustentáveis (não adianta começar fazendo muito e ver tudo ir por ladeira abaixo em seguida – o que é ainda mais frustrante). E, por fim, veja quanto pode, hoje mesmo, melhorar um pouco em direção ao seu ideal. Não espere ter aquele estado de espírito perfeito para iniciar uma nova disciplina, um novo hábito, um novo regime. Comece agora, e melhore sempre. Assim, caminhando um pouco todos os dias, mas sempre, chegará mais longe do que por ora julga possível atingir.
(Texto recebido em 22 de novembro de 2000)