Gostaríamos hoje de refletir em torno de uma lei cósmica fundamental que aqui foi ventilada, não de modo completo: a lei de causa-e-efeito.

Indubitavelmente, o Criador não é um Contador cósmico, sentado comodamente ante um livro de contas, anotando cada falha de suas criaturas. Mas necessário admitir que, a despeito do acerto do conceito de Deus ser Infinito Amor, um princípio de justiça inarredavelmente atrelado ao funcionamento da mente humana, em seus tecidos mais nobres de moralidade, exige do ser, no momento em que comete desmandos, o esforço correspondente de corrigenda, no intuito de compensar-se, de se ressarcir pelos equívocos em que incorreu.

Num futuro longínquo, é verdade, não haverá necessidade de se pensar em passado e em culpas a carpir. Por ora, todavia, a culpa, convertida em trabalho justo de reerguimento da alma em falta, constitui um dos maiores estímulos ao crescimento moral do indivíduo, à edificação das mais respeitáveis obras de caridade, amor, progresso e cultura.

Queremos deixar isso em conta de registro, muito embora consideremos interessantes os apontamentos que gravitam em torno da liberdade de pensar num futuro virgem de débitos, para que aqueles que têm uma inclinação mais forte a se martirizar – que não são poucos – sintam-se liberados para trabalhar, para começarem uma vida nova. Todavia, que não se apresente tal idéia em caráter absoluto, pois que, se a agressividade e a sexualidade são grandes motores da ação humana, a culpa, indiscutivelmente, é um desses – dos mais eficazes, por sinal. Não é desprovida de sentido a reflexão de respeitáveis autoridades dos meios acadêmicos psicológicos de que seres muito amorosos, que apresentam um impulso excepcional para a caridade, costumam possuir psiques que pretendem ocultar (no caso, em verdade: superar ainda ativas ou compensar antigas) tendências perversas. Claro que existem aqueles que vazam amor de seus corações, por esse amor transbordar, gratuitamente, de suas almas ultra-sensíveis e dadivosas. Há, entrementes, daqueles que sentem especial impulso à generosidade justamente por intuírem ter sido cruéis ou insensíveis, quando não mesmo tirânicos ou genocidas, em pretéritas existências, amiúde revelando um claro temor de voltarem a resvalar nos mesmos deslizes.

Como sempre, no campo das especulações psicológicas, tanto quanto nas filosóficas num sentido mais amplo, a postura conciliatória, o ponto de equilíbrio entre teses antípodas representa o caminho mais próximo da verdade. A visão eclética, por outro lado, considerando toda a multiplicidade e mesmo o caráter ambíguo, quando não francamente contraditório do ser humano, está mais próxima de retratar com fidedignidade a intrincada teia mental humana do que óticas lineares, estanques e estáticas, que pretendam generalizar princípios, em vez de enfocar a totalidade da natureza humana, em sua polifacética riqueza.

 

Anacleto.

 

(Texto recebido pelo médium Benjamin Teixeira, em reunião mediúnica fechada do dia 13 de maio de 2001.)