Crônicas de Gustavo Henrique


(Um milionário tentado a romper o casamento para seguir uma nova experiência afetiva.)

 

Benjamin Teixeira
pelo espírito
Gustavo Henrique.

Este episódio se deu no final dos anos 1950, no interior do Estado de São Paulo, em linda mansão de veraneio de ricaço da capital bandeirante.

A escrivaninha de mogno antigo, com impecável talhe clássico, era iluminada fracamente por um abajur do início do século, que exalava luz amarelada suave, lembrando as antigas lamparinas a óleo do séc. XIX, como se deitasse leve nuvem luminosa sobre o papel timbrado e fino, riscado, cuidadosa e contemplativamente, pela caneta-tinteiro de elegante ornato. A figura que empunhava a caneta era um homem ainda jovem, pouco passado dos quarenta anos – em luta titânica por vencer a tentação de enamorar-se de outra mulher, apesar de amar a esposa –, que escrevia para a amiga-irmã, casada com seu irmão mais velho, primogênito da família, ela própria, a cunhada, contando quase a mesma vantagem em anos sobre o marido. Trocavam correspondência a respeito de seu drama íntimo, já há alguns meses, em função de julgarem inapropriado o uso de telefone para tanto, e por conta de a cunhada e seu irmão residirem em Paris, há mais de três lustros.

Notávamos-lhe o esforço de busca do melhor caminho. Religioso, o magnata orava todos os dias a Deus, com o fito de obter a devida ajuda para a solução de sua grave pendência existencial. A pobre companheira nem de longe suspeitava o turbilhão de conflitos e angústias que perpassava o mundo interior do homem escolhido. Muito pelo contrário, estava mais confiante que nunca na solidez dos elos esponsalícios, em virtude do carinho redobrado que dele recebia, motivado pela culpa e pelo receio que o parceiro portava no imo convulsionado, no sentido de eventualmente afastar-se dos liames sagrados do matrimônio.

Conhecedor das idéias de Carl Gustav Jung, a respeito de sombra psicológica, tinha assistido, pessoalmente, a uma palestra do famigerado psiquiatra suíço, em Zurique, Suíça. Fizera visita, no ano antepassado, ao casal amado de Paris, e dirigiu-se à famosa nação neutra do Centro-Europeu, em mirífica viagem de trem de algumas horas, usufruindo da extraordinária oportunidade de acompanhar uma rara exposição, em inglês fluente, do egrégio psicanalista, à época tendo recentemente completado 80 janeiros de vida. Com esta base teórica de elevadíssima qualidade para aqueles dias, supunha, em suas interpretações, muito acertadamente, que a sombra psicológica constituía elemento de sintonia com os agentes das trevas, que ele entendia como o Diabo e seus asseclas, e nós, espíritas, compreendemos como os gênios desencarnados voltados provisoriamente ao mal, por permissão Divina, em respeito ao seu livre-arbítrio e ao direito de aprenderem com as próprias escolhas e erros.

A carta, sumariamente, dizia:

“Suas palavras foram lindas, prezada Hildegarda – e sábias, porque judiciosas, ponderadas, conquanto abertas.

Escrevi uma missiva longa para Leonísia, falando mais claramente dos meus sentimentos, e, embora não lha tivesse enviado, cheguei a lhe comunicar, por telefone, que gostaria de fazê-lo (mas apenas pessoalmente, e sem que ficasse com cópia – chega de problemas em minha já tumultuada existência…). Contudo, já desisti de lhe permitir contactá-la. Ficará a dita correspondência arquivada, enquanto sentir isso apropriado.

Concordo com você que as indefinições são salutares neste período, para não problematizar a situação. Respeitar este padrão de indefinição e não pretender precipitar eventos ou soluções é o mínimo que se pode fazer! Afinal de contas, todo este processo pode ser uma cilada das Forças do Mal… e jogar lenha na fornalha do inferno não parece ser uma boa pedida…

De minha parte, acordei hoje voltando a sentir que se tratava de uma tentação. Abri o Evangelho de Nosso Senhor, após minhas orações matinais, e li: “Não separeis o que Deus juntou”. Segui para o desjejum. E observar Maria Eduarda servindo-me, dispensando o auxílio das serviçais domésticas, tão devotada e humilde, como sempre, para melhor garantir que meus mínimos gostos estavam sendo atendidos, faz-me supor que estou diante de uma vestal d’outros tempos ou de uma figura impoluta de mãe, que mora comigo, por mercê da Graça Divina. E ninguém manda uma mãe para fora de casa, não é?

O que digo não denega o que me afirmou em sua última fala epistolar – continua tudo indefinido, como, aliás, sinto-me em transição em vários outros sentidos, na gerência dos negócios da família.

Lamento, às vezes, ter esta natureza passional; e, por outro lado, estou consciente de que este temperamento é essencial para que eu possa produzir na dimensão que realizo. Entretanto, é muito difícil administrar, psicologicamente, os vórtices íntimos que me chacoalham por dentro e por fora…

Tenho me entregue muito a Deus, para que Ele me inspire; e suplicado, de modo especial, que jamais venha eu fazer frente à Sua inspiração, em troca de palpites de ordem interna, sempre suspeitos, porque permeados de sombra psicológica, que pode estar sintonizando com a treva exterior, de natureza espiritual-diabólica…

Mas estou confiante, pois que, apesar de tudo ser muito intenso, profundo, meu maior comprometimento, até onde posso apreender, continua sendo o de acertar e estar com a Vontade de Deus, a que custo seja, e sei que o Senhor não Se privará de me conduzir às veredas espirituais mais apropriadas.

Estou deveras agradecido pela atenção que me tem prestado, nesta quadra crítica da existência. Você tem sido a irmã-mãe, mestra-anjo a me sustentar os passos, neste teste supremo a que o Divino me encaminhou, certamente para amadurecimento e embelezamento de minha alma, a fim de que, um dia, se a Misericórdia do Senhor o conceder, possa me introduzir e ser partícipe do mergulho dos eleitos no Seio do Criador.”

Que o exemplo de ponderação, reflexão, cautela, vigilância e oração, da personagem viva – hoje já desencarnada e em ótimas condições espirituais –, ilumine os caminhos confusos e conflitivos de muitos, nesta era de liberdades extremas, e, amiúde, enfermiças.

Não importa exatamente o rumo que a figura apontada definiu para seus caminhos de vida, visto que, de acordo com contextos ou circunstâncias do caso aqui não minudenciados, poderia haver, claramente, mais de uma resposta certa, ou, tão-somente, uma mais apropriada onde menos se suporia poder estar, em primeiro exame. Basta que se diga – e é o que mais aqui nos importa considerar – que o missivista apaixonado e devoto preservou-se, durante todo o período de conflito moral, em estado de oração, reflexão e prudência, não obstante manter-se igualmente ousado e determinado na busca de uma vida plena e feliz. Com isso, acabou por tomar a rota mais adequada não só ao seu bem-estar maior, assim como ao de todos os envolvidos no seu drama afetivo.

Quem ora, medita, avalia e não tem pressa para concluir no campo do essencial – em particular, quando conflitos amargos estão envolvidos – sempre acaba acertando no patamar mais alto ao alcance de suas condições evolutivas.

(Texto recebido em 12 de dezembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

Convite:

O grande evento:

Nesta quinta-feira, 13 de dezembro, às 19h, no Teatro Tobias Barreto, acontecerá o espetáculo “45 Séculos Viajando no Tempo”, da Academia Sergipana de Ballet (que já produziu mais de 50 grandes espetáculos em nossa capital sergipana, desde o seu surgimento, como “Escola Sergipana de Ballet”, em 1965, a pioneira no Estado), com temática em homenagem ao glorioso espírito Eugênia, guia espiritual de nosso clã – considerando, nesta expressão (clã), não só entes queridos biológicos, mas a grande falange de almas unidas pelo coração, sem qualquer relação de parentesco, espalhadas por todo o país e além-fronteiras, devotas incondicionais da “Mestra da Felicidade”. O panegírico coreográfico constitui uma prévia das comemorações de 20 anos de manifestação de Eugênia através de minha muito estreita e acanhada mediunidade, com o conseqüente surgimento do Instituto Salto Quântico, celebrações estas que estarão disseminadas no transcurso de todo o próximo ano de 2008 – quando, de fato, os 20 anos são completados. (…)

Observação:
Para obter mais informações, leia o artigo abaixo, no ícone “Destaque”, ou ligue para o telefone da Academia Sergipana de Ballet: 3211-4959.