Benjamin Teixeira
por um espírito anônimo.
Digam aos médiuns que essa orientação, que vocês fornecem, enfaticamente, em sua Instituição, do Culto do Evangelho Diário, é extremamente importante. Quando encarnado, eu não conseguia fazê-lo nem semanalmente – uma vez na semana! (*2). Essa inconsciência e inconsistência na disciplina era tão comum… Descobríamos, eu e meus íntimos, as falhas, mas tudo contribuía para que não realizássemos o culto… Percebíamos até as obsessões se estabelecerem, criando tramas para nos afastar das atividades espirituais. Essas obsessões, todavia, pareciam invencíveis.
Freqüentei uma casa espírita, durante algum tempo. Era um centro pequeno, e havia sincera devoção. Devíamos orar mais, todos nós. Falando por mim, dedicava-me muito pouco à prece; achava que precisava só amar as pessoas, já que o amor constituía a essência do ensinamento do Cristo. Só que, por falta de bases meditativas e oracionais, que me propiciassem viver o amor fraterno, em regímen de desinteresse – em função de minha humanidade precária –, o sentimento que me motivava rapidamente se transformou em ressentimento, cobrança, manipulação, culpa, vaidade, recalque… Tanta coisa ruim era instilada nos componentes do grupo, pela insuflação dos agentes das trevas (que encontravam brechas na nossa fragilidade vibratória): crítica, suspeita, maledicência… Nos primeiros anos de trabalho, havia mesmo um transbordamento de ideal, de boa vontade, de desejo de ser útil. Entretanto, com o passar do tempo, foi-se tornando cada vez mais difícil manter esse desejo original de servir, preservar a empolgação saudável do período inicial, de descoberta… Hoje, atribuo isso à insuficiência de oração, à falta do culto do Evangelho, à precariedade ou quase ausência de práticas meditativas e terapêuticas.
Outra coisa muito importante: peçam aos médiuns, encarecidamente, que parem de querer ver e ouvir, escrever e receber os espíritos, com precisão matemática. Vulgarmente, as pessoas acham que ser médium é perder a consciência, desmaiar sobre a mesa destinada à reunião de desobsessão, canalizando à perfeição a fala e a personalidade das inteligências comunicantes, ou ter convulsões e fazer barulho, entortar-se e cair de quatro no chão, como se histeria e distúrbios neurológicos tivessem alguma coisa a ver com mediunidade. Os anos de exercício sistemático, sem a devida cautela e estudo, começaram a me engolfar de dúvidas, levando-me a imaginar aquela pecha horrenda de “animismo” pregada na minha e na fronte dos meus companheiros de sensibilidade psíquica mais acentuada. Pior do que isso, nós éramos chamados (e, mais grave ainda: nós mesmos nos sentíamos) mistificadores inconscientes, ou seja: estaríamos tomados por desejos inconscientes de obter algum benefício emocional ou psicológico, por meio do transe mediúnico. Que coisa horrível! Quase como se fôssemos desonestos, ou estivéssemos fraudando… Muito preconceito, ignorância… Por fim, acabei por me afastar da mediunidade!…
Comuniquem isto aos médiuns, dêem um jeito de levar este alerta a mais pessoas. Sei que, atualmente, muitos dos que reencarnaram com esta programática de trabalho – como eu no passado – estão para se afastar ou já se afastaram de suas atividades de interação psíquica com os desencarnados, por escrúpulos excessivos, até respeitáveis em sua intenção original, mas completamente equivocados em seus efeitos de paralisar iniciativas do bem. Lembremos que, assim como os sonhos e as intuições – que costumam ser difusos e incompreensíveis a princípio, mas contêm material espetacular para estudo e análise, em sua natural e complexa subjetividade –, a interpenetração mental entre encarnado e desencarnado, enleados no fenômeno medianímico, comumente se apresenta de forma imprevisível e repleta de significados ocultos. Não precisamos funcionar como aparelhos telefônicos; não somos repetidores automáticos do pensamento e das atitudes dos que se asilam em outras faixas de consciência (porque continuamos, inclusive, sendo intermediários psíquicos do Lado de Cá, como médiuns de esferas mais altas de consciência). Somos, sim, intérpretes livres, com as nossas avaliações e tom mental próprios. Muitos medianeiros não são orientados a aceitar isso. Alguns parecem ter até medo de dizerem, em público, que nem sempre ouvem nitidamente ou vêem objetivamente os desencarnados (como se nós, que nos albergamos nesta dimensão de Vida, pudéssemos ferir-lhes, diretamente, o sensório carnal, qual se encarnados fôssemos), com o receio de serem vistos como mistificadores. Outros sensitivos, ainda mais, por não fazerem leituras mediúnicas inteiramente constatáveis, mensuráveis e seguras, a todo tempo (o que é absurdo cobrar-se de uma experiência inerentemente subjetiva e crepuscular, difusa e indefinida, tal quais intuições e sonhos, como dissemos), chegam mesmo ao absurdo de não mais se considerarem médiuns ostensivos. Isso precisa ser falado bem aberta e largamente, uma vez que muitos trabalhos importantes deixam de ser realizados, projetos inteiros reencarnatórios são perdidos, por conta desse pudor e prurido exacerbados de precisão. Nós, médiuns (encarnados ou desencarnados), não somos computadores, nem máquinas copiadoras: somos seres vivos, inteligências livres, com sua vivência muito pessoal do que está notando ocorrer “fora” do campo da própria psique, embora, paradoxalmente, aconteça por dentro dela também, por um fenômeno de ressonância.
Inevitavelmente, no intercâmbio interdimensões – sei que já têm consciência disso –, muito é passado de traços do próprio inconsciente mediúnico. Por estas influências da mente do intermediário intermundos se imiscuírem, inexoravelmente, nas atividades de comunicação – aparecendo em algum percentual (que pode e deve ser reduzido, pelo exercício e desenvolvimento das faculdades psíquicas, mas não eliminado de todo), na resultante final das mensagens recebidas e transmitidas –, não significa dizer que houve fraude ou que o trabalho não seja construtivo e produtivo. Afastar-se da tarefa mediúnica, este compromisso e carma de tão sérias implicações, sim: é um grande, um gravíssimo desvio, e que muito freqüentemente acontece – como ocorreu comigo, inclusive, conforme disse –, em função de tanto preconceito em torno do assunto, na cultura ocidental hegemônica.
Por alguns anos, submeti-me, no plano físico, aos encargos de instrumento vivo nas mãos dos benfeitores espirituais, em socorro dos sofredores, encarnados e desencarnados. Permiti, no início do meu engajamento, num grupo de trabalho de natureza desobsessiva, até uma significativa abertura e aceitação da minha condição de porta-voz entre os vivos na matéria e os vivos fora dela. Após o primeiro qüinqüênio de operacionalidade ininterrupta no posto de serviço que me fora confiado por desígnio da Bondade de Deus, comecei a não mais me considerar médium ostensivo, induzido a isso, hoje o sei, por agentes tenebrosos da dimensão extrafísica de vida, que pugnavam pela perda da bênção inaquilatável do trabalho mediúnico que desfrutava. Lutei contra o conflito íntimo, e pedi, ardorosamente, auxílio aos protetores espirituais (meus e do grupo), voltando, com isso, a me achar médium, mas só inspirado, como toda criatura de boa vontade pode ser – passei mais dois anos assim. Por fim, terminei por me desligar, completamente, das tarefas de intercurso medianímico de socorro e orientação a sofredores, julgando-me obsediado por ter suposto, em algum tempo, ter podido laborar como médium de incorporação ou de esclarecimento, nas seriíssimas reuniões de desobsessão. E eis que o programa de trabalho, que estava planejado, antes de minha reencarnação, a benefício meu e de uma legião de entidades padecentes, quanto de encarnados desorientados, a estender-se pelo espaço de quatro décadas e meia, foi suspenso no primeiro septênio de serviço.
Asilei-me, pois, em atividades outras da casa espírita, de ordem caritativa. Foi quando, então, pela minha fuga ao compromisso moral assumido quanto à mediunidade, e com a energia mediúnica estrangulada no âmago de minha própria mente, de fato me tornei obsediado e, mais que isso, atormentado, de uma forma que não teria como qualificar e traduzir em palavras. Tinha as chaves psíquicas ativas e abertas, para a conexão com inteligências desencarnadas, e, como não as usei para o bem, o mal se introduziu em meus arcabouços mentais, fazendo-me, destarte, resvalar, francamente, para o desequilíbrio íntimo, de modo que, da obsessão simples, avancei rapidamente para a fascinação (*3).
Neste desvão medonho do meu desvario, resolvi afastar-me do Espiritismo. Sentia-me tão perturbado, que, acatando a recomendação de um amigo, busquei socorro médico, procurando, assim, um psiquiatra. Fiz uso de psicofármacos pesados (daquele início da era da medicação psiquiátrica), mas meu quadro de depressão, paranóia e episódicos “surtos psicóticos” (minhas percepções mediúnicas foram diagnosticadas como alucinações, no jargão psiquiátrico) não só não foi revertido, como se aprofundou, já que sua causa não era uma patologia a ser debelada, mas, sim, um propósito de serviço ao bem comum que estava sendo negligenciado. A esta altura de meu desatino, depois de uma década e meia de tratamento intensivo com psicotrópicos altamente lesivos, tragicamente, após perder a fé espírita e me encontrar gravemente manietado por agentes malevolentes do plano espiritual de vida, lancei-me ao precipício da idéia e da prática do suicídio!…
(Mensagem recebida pela psicofonia do médium Benjamin Teixeira, no transcurso de reunião mediúnica fechada do Instituto Salto Quântico, realizada em 11 de março de 2008. Revisão de Delano Mothé.)
(*1) Este tocante testemunho de um médium (que preferiu o anonimato), descrevendo sua desastrosa queda moral, na vala sinistra do suicídio, por perturbações acumuladas, em conseqüência da deserção aos compromissos mediúnicos que o trouxeram à reencarnação, foi recebido em muito escorreita e fluente fala da entidade, no transcurso de trinta e dois minutos, aproximadamente, só me deixando tempo, como médium que lhe deu voz, para respirar entre as brevíssimas pausas que oferecia, em seu depoimento enfático e dramático. Pela extensão de seu discurso, foi este seccionado em três partes, que serão publicadas, na próxima semana, neste mesmo site (visto que amanhã, sexta-feira, como último dia útil da semana, será trazido a lume novo capítulo do romance mediúnico: “Alice – Uma História de Amor, Além da Morte”). Cabe avisar ao leitor mais exigente, deste nosso sítio eletrônico, que o trabalho de revisão de Delano Mothé sofreu um pequeno descompasso, nas últimas semanas, em relação à minha recepção psicográfica e psicofônica das mensagens, sobretudo fomentado pela extensão dos textos do referido romance mediúnico (de autoria do espírito Gustavo Henrique), em consórcio com o acentuado nível de critério de nosso revisor, em vasculhar todas as entrelinhas fraseológicas e vernaculares, no uso de nosso idioma. Muito brevemente, contudo, terão os prezados internautas assinantes as subscrições de Delano, nos arquivos de “mensagens anteriores”, em cada um dos artigos mediúnicos que foram publicados sem a supervisão clínica, gramatical e sintática, de nosso lingüista.
(*2) De fato, no meio espírita convencional, há a sugestão a se fazer o Culto do Evangelho no Lar, com os familiares, apenas uma vez na semana. Por outro lado, os orientadores desencarnados de nossa Organização, sob a batuta de Eugênia, propõem – sobremaneira a médiuns ostensivos participantes de reuniões mediúnicas – que se realize tal prática diariamente, ainda que a pessoa esteja sozinha. Caso o prezado leitor se interesse, procure o item pela busca automática deste nosso site.
(*3) Estágio mais avançado da obsessão, quando se começam a perder os parâmetros do bom senso e não se nota mais o descalabro dos próprios pensamentos, sentimentos e atitudes. É a fase imediatamente anterior à subjugação (ou possessão), que lhe segue, como último nível de desequilíbrio obsessivo a que um indivíduo pode chegar.
(Notas do Médium)