Benjamin Teixeira
pelo espírito Demétrius
O que você teme revela muito a seu respeito. Por que teme? Existem, obviamente, pontos de vulnerabilidade, reais ou fictícios, que lhe indicam experiência anterior ou percepção de determinados fatos. Mas, como todo fato psicológico é subjetivo, só se teme porque um significado interno foi projetado no fato externo, que parece ser a fonte donde promana o temor.
É assim que, por exemplo, todos sofrem as mesmas injunções sócio-econômicas, mas nem todos temem o desemprego, muito embora os que menos temam não sejam, necessariamente, os mais seguros, em termos intelectuais e financeiros. Da mesma maneira, as circunstâncias culturais que facilitam a ruptura das relações maritais, no drama do divórcio, são muito fortes, mas nem todos andam angustiados com o temor da separação, estando inclusos, entre os mais tranqüilos nesse âmbito, justamente aqueles que mais deveriam temer.
Seu medo, assim, denuncia-o. Pode representar uma intuição clara de perigo iminente, dada uma lucidez mais acentuada sua, no campo particular do que teme; mas atente-se: os delírios instilados pelo medo freqüentemente tomam ares de realidade a ponto de eclipsar a percepção de fatos óbvios, para evidenciar especulações como verdades cabais.
Assim, tomadas as providências cabíveis, racionais, para proteger-se dos riscos divisados; se se fez ou se faz tudo que seja razoável esperar se faça, no capítulo de seus temores, e ainda assim eles permanecem, esteja certo: seu problema é outro, mais profundo, de outro nível de si.
Alguém que teme perder o relacionamento conjugal que vive pode, digamos, estar precisando de dramática mudança psicológica, que viabilize sua intimidade com qualquer pessoa, como ser mais auto-confiante, valorizando-se e respeitando-se; ou talvez esteja precisando de uma ligação maior com Deus, que lhe preencha espaços vazios em seu coração, que tenta, em vão, compensar com um grande amor, transferindo a segurança interior para alguém que não pode substituir a Presença Maior.
Se a razão já fez tudo e a emoção continua, é hora de a intuição trabalhar. Ouça suas vozes interiores. Vasculhe seu íntimo. Abra gavetas fechadas e quartos interditados. Cavouque onde não autorizaram e, principalmente, onde mais teme. Ouse abrir as janelas de sua alma e deixar a luz do sol entrar, sobremaneira naqueles cômodos mais sombrios, onde teme encontrar os larápios mais peçonhentos… Não tema a luz, jamais. Enxergue-se com clareza. Pode até não revelar para ninguém o que vier a descobrir, mas não minta, nem esconda nada de si, ou viverá uma mentira eterna, perigosa, realmente temível, porque poderá desabar, escada abaixo, em desvãos escuros de si, ou ser picado por ofídios ocultos, nas câmaras secretas da própria alma… Seu medo é seu chamado… a se conhecer, e a se salvar, de si mesmo…
(Texto recebido em 26 de dezembro de 2001.)