Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Eugênia, uma jovem médium recebeu um recado espiritual, para um rapaz, filho único, que mora com os pais, sobre uma eventual morte para breve dos dois genitores. Passou a informação. Foi correto?

Erradíssimo. Foi um ato de crueldade. No mínimo, deveria ter consultado alguém mais experiente, antes de passar a “notícia” adiante. Morte de entes queridos, dos principais afetos de alguém, para curto espaço de tempo! O bom senso já poderia dizer que não era correto transmitir um informe desta natureza. Se uma pessoa de bem e madura, do próprio mundo físico, no livre gozo de suas faculdades de razão e ponderação, não falaria isso, por que se imaginaria que alguém da Esfera Superior tomaria iniciativa de dizer algo do gênero? É importante esclarecer que o Plano Sublime não transmite este tipo de informação. Ainda que se considerasse a revelação verdadeira, se os bons espíritos desejassem fazer um alerta, no sentido de um maior aproveitamento do tempo, decerto abordariam a temática de modo genérico, sugerindo que se desse mais atenção aos entes queridos. O próprio Mensageiro do Além evitaria tocar no assunto. E, se falasse, seria semelhante informe uma deferência especial de confiança ao médium, a fim de que desse assistência à pessoa vítima do vaticinado desencarne da dupla, para breve, jamais para que causasse o choque da notícia previamente revelada. Assim, o fato de a entidade tomar iniciativa de antecipar um evento desses, solicitando à médium que comunicasse tal aviso ao destinatário, denuncia um evidente movimento obsessivo, que caberia à intermediária, em atitude vigilante no uso do crivo da razão, filtrar e, simplesmente, não verbalizar.

Importa considerar, por outro lado, que a mensagem foi recebida numa reunião mista, de desenvolvimento mediúnico e de desobsessão. Entidades sofredoras, viciosas e malevolentes acotovelam-se, na ânsia por obter oportunidade de manifestar suas más tendências. O médium precisa estar duplamente vigilante, nessas circunstâncias. Deveria conversar com seu esclarecedor, a quem, imediatamente, competiria partir para um trabalho de orientação da entidade, e não de atendimento a uma demanda malevolente deste jaez.

Cabe aditar, outrossim, que a mediunidade pode deslumbrar algumas pessoas, à busca, ainda que inconscientemente, de poder através desta faculdade psíquica. Claro que, conforme já ressalvado, isso ocorre de modo muito inconsciente, na esmagadora maioria das vezes. Uma personalidade com forte sentimento de desvalia pessoal, que nutra, concomitantemente, por orgulho e presunção, uma mágoa renitente por não receber, da existência, o destaque de que se julga merecedora, por exemplo, pode ter um desejo muito vivo de criar impacto com algo que provenha de si, vindo a fazer “revelações” extemporâneas ou francamente inapropriadas, de eventos desastrosos ou trágicos, para os que lhe acolhem as expressões de histeria e desgoverno emocional, provocando o choque que tanto almejavam, num plano inconsciente, extravasando o fel da frustração e da revolta que lhe vai n’alma, por não ser ou não obter o que pretende da vida. São, amiúde, tais indivíduos, vítimas de animismo – ou seja: de manifestações de fragmentos de suas próprias psiques –, mas, muitas vezes, secundados por inteligências perversas, que se aproveitam de sua inclinação ao escracho ou ao escândalo, para infiltrar a perturbação em corações invigilantes ou espíritos mais frágeis, emocional e moralmente. A humildade e o desejo sincero de servir santamente ao bem comum filtrariam, naturalmente, recados desta natureza, que a nada se prestam, a não ser gerar pânico e angústia nos que recebem tal ordem de missiva psíquica.

Que se pode dizer de mais específico, sobremaneira para o jovem que jaz aterrorizado, desde a data da funesta queda de nossa irmã? O plano inferior não tem acesso a estas informações. O Superior não as revela. Então, o recado foi mentiroso. Criou mal-estar desnecessário, suspeitas evitáveis sobre o fenômeno mediúnico, além de medo no intercurso com o mundo espiritual, quando deve haver amor e confiança, em bases sólidas de compreensão, fraternidade e esperança, nas relações entre a criatura e o Criador.

Foi uma grande oportunidade-alerta, para a jovem que incorreu neste deslize. Deve orar mais, e estar vigilante no correr do seu dia. Pela nossa conduta e sentimentos íntimos, definimos o tipo de sintonia que estabelecemos com a Espiritualidade. Se escolhemos fixar o aspecto mesquinho e menos belo da existência, das pessoas e das ocorrências, sentindo-nos vítimas e injustiçados pela maldade e malícia alheias, perdendo o foco da bondade e esquecendo-nos de dar e servir, em vez de buscar receber e retirar da vida, acabamos por perder referenciais claros do que seja o bem e o mal, confundindo-nos em situações óbvias de intromissão de forças da desagregação, como no caso em exame.

A mediunidade deve ser exercida com muito cuidado, ou pode oportunizar a imiscuição de agentes tenebrosos, com muito perigo principalmente para o próprio médium. O culto do Evangelho diário, a prática da caridade semanal e a constante vigilância dos próprios sentimentos e pensamentos é nossa sugestão precípua. Na dúvida sobre as reais intenções por detrás do desejo de trabalhar com a mediunidade, mais válido suspenderem-se as atividades e se dedicar a criatura a funções nobilitantes e educativas, que a tornem um espírito melhor, antes de fazê-la um médium mais “poderoso”.

Em suma, a mediunidade existe para sublimar, elevar, educar, depurar; jamais, para assustar, denegrir, angustiar ou petrificar de medo pessoas que buscam, nas águas translúcidas da canalização espiritual, o reconforto psicológico e a alimentação espiritual para suas almas carentes de amparo, orientação e corrigenda – esta última, devendo primar, todavia, pela caridade, indulgência, compreensão e cautela, para não engendrar mais prejuízos do que os benefícios que se poderiam, em tese, fomentar, no coração e na existência de quem recebe a repreensão.

(Consulta mediúnica realizada em 9 de maio de 2008. Revisão de Delano Mothé.)