Seu(sua) rival não deve ser interpretado(a) como um(a) inimigo(a).
Se alguém não respeita seu(sua) rival, ou é covarde, por estar em pugna com uma pessoa a quem julga inferior a si, ou não se dá o próprio valor, por isso não conseguindo enxergar razões de valorizar seu(sua) opositor(a).
Recorde-se das emblemáticas saudações ritualísticas entre competidores(as), em tatames de lutas marciais: eles(as) se cumprimentam, de modo reverencioso, antes e depois(!) do combate – por sinal, prenhe de regras que mantêm a agressividade dentro de balizas civilizadas.
A genuína disciplina espiritual que se deve viver é a fraternidade com todos(as), e não a amizade. A fraternidade pode e, por princípio cristão, deve acontecer entre estranhos(as), entre indivíduos com perfis psicológicos e caracteres completamente distintos. Já a amizade requer afinidade de gostos e interesses entre as personalidades envolvidas, revelando, dessarte, alguma paridade evolutiva entre elas – logo, jamais pode ser forçada.
Lógico que a fraternidade a que aludimos desdobra-se, frequentemente, em moldes de peleja severa, mas sempre se mantém restrita a parâmetros que não firam a dignidade humana, ainda que se lide com um(a) criminoso(a). A título de ilustração, reportemo-nos ao Direito Penal e às leis internacionais, que garantem o julgamento e o tratamento civilizado até mesmo a genocidas e a criminosos(as) de guerra.
Ser fraterno(a) não implica ser íntimo(a) de outra pessoa, nem gostar dela, muito menos concordar com suas atitudes ou sentimentos. Fraternidade constitui compromisso com a própria consciência, no sentido de atender a certas obrigações ético-morais autoimpostas, sem vinculação direta, portanto, em última análise, com a outra parte em jogo.
Há almas nobres que são fraternas com um outro ser humano, ao ponto do sacrifício pessoal, apesar de não terem, necessariamente, inclinação a estabelecer com ele qualquer laço amical. É comum que entre pais/mães e seus(suas) filhos(as) adultos(as), por exemplo, faltem semelhanças psicológicas e morais que lhes viabilizem a amizade.
O imperativo de servir e dar de si (o que se aplica sobremaneira a pais e mães, em relação a seus rebentos) não pode se condicionar a uma eventual harmonia na forma de ser e de ver o mundo, entre aquele(a) que se doa e o(a) beneficiário(a) de sua devoção – esse ímpeto deve, sim, estar lastreado em motivações mais profundas, que começam com os instintos animais de proteção da prole e se entrelaçam a determinações de cunho legal, cultural, religioso ou espiritual.
Por outro lado, entre irmãos(ãs) em ideal, pode não haver espaço algum à amizade ou a elos íntimos de partilha pessoal. É o que costuma ocorrer em agremiações autenticamente espirituais, de caráter religioso formal ou não, entre devotos(as) que guardam forte compromisso com a mesma causa, embora não apresentem compatibilidade em outras áreas de predileção em suas vidas, como a da instrução acadêmica ou a da atividade profissional.
Atenção para você não se confundir nessa temática tão relevante ao Reino Fundamental do Espírito. Ser solidário(a), estar a serviço do bem comum, é seu dever precípuo e indiscutível, para com todos(as) os(as) irmãos(ãs) em humanidade. Ser amigo(a) de alguém, entrementes, consiste num assunto de foro íntimo, configurando uma experiência que, quando levada a cabo com profundidade e maturidade, partilha-se com raras criaturas.
Considere ainda um ângulo complexo na questão: avaliar como você entretece suas ligações de amizade – se por seu lado sombrio ou por sua face luminosa. Atente-se para: o polo de seu psiquismo com que seu(sua) amigo(a) mais se afina com você, o aspecto dele(a) de que você se sente aliado(a), a ordem de sintonia que ele(a) lhe estimula e, em contrapartida, o gênero de influência que você exerce na existência dele(a) – se há nesses liames uma fomentação aos pendores destrutivos e autodestrutivos ou às tendências e potenciais à transcendência…
Eis por que, por padrão, quando uma pessoa se compromete, seriamente, com uma mudança em sua faixa de consciência, ampliando sua mundividência e acrisolando seus valores e atitudes, inúmeros vínculos afetivos, amiúde antigos e caros, rompem-se, de maneira que, em gloriosa compensação, círculos inteiros de relacionamentos novos surgem, bem mais satisfatórios, profundos e estimulantes da parte melhor de nós mesmos(as).
Não poderíamos encerrar este ensaio breve, sobre temática tão relevante, sem nos remetermos à Fala do Cristo-Verbo Jesus, que nos legou o paradigma supremo de amizade: “Ninguém tem maior amor do que aquele(a) que dá a própria vida por seus(suas) amigos(as)”¹.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Matheus-Anacleto (Espírito)
em Nome de Maria Cristo
LaGrange, Nova York, EUA
11 de outubro de 2021